Dez meses após ser atacado com soda cáustica, tatuador mantém a fé em dias melhores
Leandro Coelho, atualmente, aguarda por novas cirurgias oftalmológicas
Schimene Weber –
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Em fevereiro de 2023, um caso chocou não apenas Mato Grosso do Sul, mas todo o Brasil: Leandro Coelho, que trabalhava como tatuador, foi atacado por sua ex-esposa, que jogou ácido em seu rosto, deixando-o cego. Dez meses depois, após diversas cirurgias que não tiveram o resultado esperado, ele tenta manter a esperança em dias melhores.
Em entrevista ao Jornal Midiamax, Leandro relembrou a reta final de seu relacionamento com a autora. “A gente ficou junto durante cinco anos e, em determinada etapa, as coisas ficaram ruins. Ela começou a ter atitudes precipitadas, quebrar as coisas em casa. Chamou a polícia algumas vezes sem nenhum motivo, também. E aí eu me separei. Eu sempre trabalhei com arte, era tatuador, e essas atitudes dela começaram a me atrapalhar. Fiquei 4 meses separado, mudei de casa e segui a vida”, explicou.
Na ocasião do acidente, ele foi surpreendido pela ex-esposa. “Ela me pegou de surpresa. Ela estava com uma jarra de soda cáustica, jogou no meu rosto e, infelizmente, eu perdi a visão naquele momento”, disse. “Por mais que ela tivesse os momentos de distúrbio, eu nunca imaginei que ela faria uma maldade dessa. Eu não teria coragem. É quase impossível fazer uma barbaridade contra alguém dessa mesma forma”, continuou.
Relacionamento conturbado e histórico violento
Leandro ainda contou que, em uma época do relacionamento, sua então companheira ateou fogo no padrão de energia da casa enquanto ele estava dormindo, para que todo o espaço fosse consumido pelo incêndio. “Acordei com meus vizinhos me chamando, às 3 horas da madrugada. Eles apagaram o fogo, porque eu não saí de casa. Ali, eu já deveria ter ficado esperto, mas eu sempre lutei pelo relacionamento. Eu sempre fui evangélico, mantive a fé em Deus, e lutava pelo relacionamento. Esse foi um dos motivos pelos quais eu não separei, na época”, relatou.
Ele também reafirmou que, constantemente, ela quebrava objetos dentro de casa. Porém, depois da separação, ele ainda tentou ajudá-la – e, de acordo com seu relato, essa foi a pior coisa que ele poderia ter feito. “Ela me ligou, falou que estava sem comer. Isso me comoveu muito. Eu fui levar dinheiro pra ela se alimentar e, ali, ela começou a ter esperanças. Começou a falar para algumas pessoas que nós estávamos reatando o relacionamento. Porém, eu sempre expliquei pra ela que não voltaria por causa dessas atitudes que aconteciam várias vezes, mas eu estava disposto a cuidar dela da mesma forma, até que ela conseguisse se levantar”, relembrou.
Nessa mesma ocasião, Leandro disse que um sinal de alerta se acendeu em sua cabeça. “No dia que eu levei o dinheiro pra ela, ela não tinha mais nada em casa. Estava tudo de pernas pro ar. Ou seja, eu acredito que ela estava tramando algo contra mim ali, naquele momento. De repente, eu nem sairia vivo do lugar, mas pela misericórdia de Deus, eu consegui sair daquele ambiente. Nesse dia, ela me abraçou bem forte, não queria me soltar mais. (…) Acredito que não era só a visão que ela estava tentando tirar. De repente, ela jogou pra deixar minha cara toda deformada, porque ela deve ter se sentido incomodada por eu estar na academia, seguindo minha vida, e partiu pra essa ignorância”, falou.
Perda de visão, cirurgias, batalhas diárias e esperança em um futuro melhor
Cerca de 20 dias após o acidente, o olho direito de Leandro foi perfurado, por conta da ação do produto jogado em seu rosto. Foi o que motivou a primeira cirurgia, que não deu certo. Um mês depois, ele fez outro procedimento que, também, não teve nenhum resultado. Ele explicou que os médicos disseram que ele teria que fazer uma dura escolha, entre sua visão e o seu cérebro, uma vez que o seu olho direito estava suscetível a infecções bacterianas. “Nesse momento, eu pedi para eles tentarem mais uma vez, mas a equipe não teve sucesso e os médicos retiraram o meu globo ocular, infelizmente”, lamentou.
Hoje em dia, a esperança de Leandro é uma cirurgia que o permita utilizar uma prótese ocular especial. “Por conta das inúmeras cirurgias, a pele da região ficou muito repuxada. Eu tentei colocar uma prótese para criança, mas não coube. O médico disse que, para que eu consiga usar uma prótese, eu preciso fazer outra cirurgia. Já marquei e o médico explicou que serão duas sessões para o olho direito, e mais uma cirurgia para o olho esquerdo”, resumiu.
Além disso, por conta dos danos causados pela ação da soda cáustica, ele não conseguia mais trabalhar com aquilo que mais amava no mundo: a sua arte. “Eu tive que batalhar muito. Fiquei perdido, tentando achar um rumo, um jeito de sair da situação. A gente sempre dá um jeito de resolver as coisas, mas essa questão é diferente. Hoje em dia, eu consigo falar pelo celular, consigo fazer algumas coisas na cozinha. Eu tive que aprender a me virar. Existem muitas pessoas que poderiam ter desistido, tirado a própria vida, mas eu aprendi a lutar pra sair dessa situação”, relatou, emocionado, à reportagem do Midiamax.
Por não conseguir trabalhar e ter sido reprovado pelo INSS (Instituto Nacional da Seguridade Social), para recebimento de benefício, Leandro depende de doações e ajudas de amigos, familiares e conhecidos. “Eu nunca imaginei que chegaria em uma situação como essa. Eu sei que a gente tem que admitir que precisamos uns dos outros, de recursos do Governo, mas eu cheguei em um ponto em que eu não recebi essa ajuda. Hoje, eu mantenho a paciência e espero em Deus. Algumas vezes, pessoas aparecem e pagam uma coisa ou outra. Mas, há três meses, eu estou sem ajuda”, lamentou.
Ele apela por ajuda da população sensibilizada com o caso. Para realizar Pix ou oferecer qualquer tipo de auxílio, o número de celular é o (67) 99195-0347.
Com mandado de prisão em aberto, autora continua foragida
Questionado se teve notícias de sua ex-esposa nesses últimos dez meses, Leandro disse que nunca mais conseguiu contato, apesar de saber que os advogados que a defendem estão trabalhando por uma diminuição de pena, que vai de seis meses a dois anos por perseguição e de 2 a 8 anos pela lesão.
“Eu acredito que os advogados sabem onde ela está, mas eu não. Ela nunca mais entrou em contato, o número de telefone dela já foi trocado. Os meus advogados acompanham as movimentações do processo pela internet. Mas ela não está pagando e eu acho isso injusto”, encerrou, questionando a aplicação da lei e a celeridade da Justiça nesse caso.
A autora foi indiciada pelos crimes de perseguição e lesão corporal gravíssima.
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