Há uma semana à frente da função de diretora-presidente da MSGás (Companhia de Gás do Estado de Mato Grosso do Sul), a economista Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt tem vários desafios pela frente nos próximos anos. Entre eles, fortalecer a comercialização do produto e contribuir para que ele ajude o Estado a alcançar a meta de se tornar um território carbono neutro até 2030.

Esse é um dos pontos de um tripé no qual Cristiane planeja focar em sua gestão. Ela falou sobre isso ao Jornal Midiamax, e também sobre outros pontos que serão alvo de projetos e ações da companhia.

“Transição energética. Acho importante a gente focar nisso, pensar no biometano, pensar em fontes alternativas. O gás natural é uma fonte poluente, mas é menos que o diesel e o carvão, então temos que pensar nisso. Temos uma frota que polui demais, e com o gás natural a gente pode poluir menos”, afirmou.

Estabelecida em maio de 1998, a MSGás é uma distribuidora de gás natural de economia mista formada pelo Estado de Mato Grosso do Sul (com 51% das ações) e pela Commit Gás S.A. (com 49% das ações).

Ela é a responsável por executar serviços relacionados à exploração, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e, claro, distribuição do produto. Agora, a Companhia é comandada pela economista, que tem em seu currículo vasta experiência na área de gestão, além de mestrado e doutorado em economia pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). 

Foco no desenvolvimento 

“Nosso plano agora é que a gente quer renovar a concessão, de 2028 até 2058, e com isso ganhar mais tempo para poder gerar lucro. São três grandes objetivos: primeiro, pensar no gás natural como um insumo para desenvolver Mato Grosso do Sul. Em segundo, somos uma empresa de capital misto e temos que pensar de fato em gerar lucros para os nossos acionistas”, detalha a gestora. 

“Isso é muito bom para quem é do Mato Grosso do Sul porque, assim, o governo teria mais recursos para fazer mais políticas públicas. Então, quanto mais dividendos eu der para os acionistas, mais eles conseguem investir em políticas públicas”, completa.

É aqui que entra a última coluna do tripé: a transição energética. “Nossos objetivos estão focados nesse tripé”, reforça. 

Parceria com indústrias

Para alcançar esses objetivos, a economista pontua que, internamente, alguns caminhos já estão sendo pensados, como parcerias com indústrias, entre elas, a Suzano, que recentemente inaugurou uma nova fábrica, uma gigante da celulose no estado. 

“Eles anunciaram abertamente que não estão usando nenhuma fonte poluente, mas já me encontrei com o presidente (da Suzano) para saber se eles têm interesse em comprar algum gás natural. O que para eles pode ser 0,05%, mas, pra nós, vai ser algo bem relevante dado o tamanho, a importância deles”, avalia a diretora-presidente.

No entanto, para Cristiane, o importante mesmo é vender. “Do ponto de vista técnico, não importa em qual setor a indústria atua, na verdade nós queremos vender gás natural”, expõe.

“E, se não tiver gás canalizado até a empresa, como é que a gente pode fazer? Por transporte líquido, por GNC (gás natural comprimido)? Estamos abrindo novos horizontes. 

Vamos ter uma pauta de visitas (a indústrias), ver como a gente pode trabalhar, quais novos clientes podemos conquistar”, reforça. 

Gás natural veicular 

Outro caminho rumo a esse objetivo é o olhar sobre o fomento do GNV (gás natural veicular). “A gente de fato está tentando ver se esse mercado vai para frente e, se não está indo, por que não está indo a contento? Onde está o diagnóstico? O que podemos fazer para alterar o que não deu certo?”, questiona a gestora.

Recarga de GNV em posto de combustível (Foto: Henrique Arakaki – Arquivo Midiamax).

“Mas, do ponto de vista do nosso acionista – do Estado, quanto do nosso – a gente está buscando caminhos para viabilizar (o aumento da adesão ao GNV). Vamos ver como (a população) está reagindo a essas mudanças recentes”, pondera Cristiane.

As mudanças recentes às quais a economista se refere é a Política de Incentivo do Uso do GNV em Mato Grosso do Sul, aprovada no ano passado e que concede isenção do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos) para veículos com fontes alternativas de combustíveis.

Além disso, também dá redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 17% para 12% no GNV para os revendedores e expansão da rede de gás veicular no Estado. 

Outro benefício incluído nessa política é a suspensão de cobrança de taxas cobradas pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito), e a concessão de um voucher (crédito) de R$ 1 mil em GNV aos usuários do produto, dado pela MSGás, que é suficiente para rodar cerca de 3 mil quilômetros.

Tudo isso são políticas de incentivo ao consumo do produto em território sul-mato-grossense. Segundo o Detran-MS, até agosto de 2023 existiam cerca de 4.700 veículos registrados no departamento como usuários de GNV, o equivalente a 0,27% da frota estadual. 

Gás em residências e comércios

Ao ser questionada sobre os interesses da Companhia em focar na venda do produto ao comércio, a economista explica os entraves dessa modalidade. 

“A pauta do comércio é importante também, mas ela tem um problema no Brasil como um todo. Aqui, as pequenas e médias empresas – e o comércio está incluído – abrem e fecham muito rápido. Então, para elas se tornarem inadimplentes, é algo muito rápido. Isso nos preocupa”, analisa Cristiane.

“A gente quer clientes que se perenizem, que fiquem com a gente. Um prédio residencial, por exemplo, tem uma inadimplência muitíssimo menor, quase nenhuma na verdade. Mas no comércio é diferente, você tem as crises, a falta de planejamento, às vezes a pessoa não tem as habilidades adequadas para gerenciar o negócio e acaba quebrando. Então a gente entende que é uma preocupação”, esclarece.

Canais de abastecimento

E o futuro do abastecimento e a relação desse futuro com os vizinhos brasileiros Argentina e Bolívia? Como estão esses canais? A essas perguntas a nova diretora-presidente foi realista, mas com dose de otimismo: “está tudo em estudo porque ainda não existe uma ligação de gasoduto com Vaca Muerta (na Argentina)”. 

Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o gasoduto Brasil-Bolívia pode transportar gás do campo de Vaca Muerta para suprir a demanda industrial brasileira. 

“Precisa finalizar (as negociações) tanto para a Bolívia, quanto para o sul do país, e a gente quer na verdade entrada de gás natural por Mato Grosso do Sul, então isso tudo está em estudo, não tem nada claro. Mas te garanto que daqui a 6 meses vou poder te dar uma resposta”, garante a gestora.