Em mais um dia de cautela nos mercados internacionais, os juros futuros avançaram nesta terça-feira também afetados por questões domésticas. Do exterior, novos dados frustrantes da economia da e vendas do varejo acima do esperado nos reforçaram a postura defensiva dos agentes. Internamente, saiu o temido, mas visto como necessário, aumento dos preços de combustíveis, num dia que ainda teve apagão no País e mais ruídos envolvendo a relação entre a Câmara e o Executivo. Assim, as apostas para a política monetária ficaram mais conservadoras.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,460%, de 12,452% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,45% para 10,50%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,20% (10,15% na segunda-feira) e a do DI para janeiro de 2029 avançava para 10,72%, de 10,68%.

Apesar do combo negativo tanto aqui quanto no exterior, a alta das taxas foi limitada, porque a curva já tinha mostrado na segunda abertura relevante e, ainda os preços das commodities caíram, o que suaviza a pressão vinda do dólar, que nesta terça flertou com o nível de R$ 5 (R$ 4,9977 na máxima), sobre a inflação. O petróleo fechou em baixa, assim como os grãos, mas o minério de ferro subiu.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, afirma que a abertura da curva local se dá sobretudo pela cautela vinda do exterior. Na esteira dos recentes números fracos da balança comercial, da deflação e dos problemas no setor imobiliário, na segunda saíram dados decepcionantes da indústria na China, que preocupam o investidor quanto ao fôlego do país asiático. “Mesmo o corte de juros realizado pelo BC não foi suficiente para impedir um novo dia de aversão ao risco”, disse. Nos EUA, a preocupação é inversa, com dados forte do varejo sugerindo economia aquecida e que o Federal Reserve poderá retomar o aperto monetário após a esperada pausa em setembro.

No Brasil, a anunciou reajustes de 16,2% para a gasolina e de 25,8% para o diesel, a partir da quarta-feira. Para a inflação ao consumidor, o que mais afeta é a gasolina, que vai subir R$ 0,41 por litro, com impacto no IPCA estimado em cerca de 0,40 ponto porcentual, dividido entre agosto e setembro

A escalada do petróleo somada à piora do câmbio nos últimos dias fez disparar a defasagem ante os preços internacionais e a elevação do preço interno era vista como inevitável. De todo modo, acabou inibindo as apostas na aceleração do ritmo de cortes da Selic no Copom de setembro. De acordo com Rostagno, os DIs embutiam nesta tarde -56 pontos-base para a Selic no próximo encontro, ou 76% de chance de nova dose de 0,50 ponto porcentual contra 24% de probabilidade de queda de 0,75. Na segunda-feira, esse quadro era de 70% e 30%, respectivamente.

Em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que tentativas de se reduzir a Selic no passado em um processo pouco crível tiveram o efeito inverso, gerando aumento de juros. Ele alertou para o risco de se cortar os juros curtos e provocar uma elevação na curva de juros. “Se eu não consigo fazer uma queda de juros com credibilidade, eu não vou atingir meu objetivo. O objetivo da queda de juros é gerar liquidez”, afirmou.

Outro ponto de atenção é o aumento do desconforto com os ruídos políticos, acentuados na segunda-feira pelas declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo o qual a Câmara está com um poder que ele nunca tinha visto. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários remarcaram a reunião para discutir as alterações feitas pelo Senado no projeto de lei do arcabouço fiscal para próxima segunda-feira, 21, segundo o relator da matéria, deputado Cláudio Cajado (PP-BA). De acordo com o parlamentar, ainda não existe “compromisso” para o prazo de votação do projeto.