Preferência por aplicativos faz contratação de office boys despencar 30% em MS

Postos de trabalho têm sido substituídos por novas tecnologias como Pix e WhatsApp

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Número de contratação de office boys caiu (Foto: Marcos Ermínio, Midiamax)

Resultado do uso crescente de aplicativos para diferentes fins, a contratação formal de office boys caiu pelo menos 30% nos últimos anos em Mato Grosso do Sul. Responsáveis pela entrega de documentos e até pagamentos de boletos e depósitos bancários, os trabalhadores sob duas rodas foram colocados diante de uma nova realidade do mercado, com postos de emprego cada vez mais escassos e substituição da mão de obra em regime CLT por tecnologias como o Pix e WhatsApp.

“Afetou muito, cerca de 30% dos empregos aqui no Estado. As empresas deixaram de contratar a mão de obra que fazia esse trabalho porque hoje tem o aplicativo que faz tudo, ou seja, muitos usam a tecnologia ao invés do trabalhador”, comenta Luiz Carlos Escobar, presidente do Sinpromes-MS (Sindicato Profissional dos Trabalhadores Condutores em Motocicletas, Entregadores, Similares e Autônomos Individuais Sobre Duas e/ou Três Rodas).

Se transferências bancárias já não exigem longa espera em filas de bancos e o envio e recebimento de documentos pode ser feito com um simples clique no celular, a opção para muito trabalhador foi se adequar ao novo momento e se render às empresas que oferecem serviço de entrega por aplicativo.

Ao todo, cerca de 15 marcas atuam em Mato Grosso do Sul nos ramos de alimentação, bebidas e entregas de objetos e documentos diversos. Juntas, empregam quase 3 mil trabalhadores. “O trabalhador que era celetista agora tem migrado para o aplicativo porque precisa trabalhar e não tem para onde correr”, pontua Luiz.

Embora a oferta pareça ampla e o serviço simplificado, o presidente do Sinpromes afirma que a prestação de serviço dos profissionais às plataformas digitais esbarra em uma série de abusos trabalhistas.

“Os empresários tentam obrigar os trabalhadores e tirar registro de microempreendedor individual e dizem que são prestadores de serviço, porém, o motoentregador tem que cumprir uma série de obrigações, tem hora de entrar e sair e fica praticamente as oito horas à disposição. São empresários burlando direitos trabalhistas para ter mão de obra barata”, detalha.

Atualmente, o sindicato representa cerca de 15 mil trabalhadores e cobra por regulamentação da atuação. “Precisamos que o governo regulamente esses trabalhadores e que fiscalize isso”, finaliza.

Números chamam atenção e são reflexo de expansão de aplicativos (Foto: Marcos Ermínio, Midiamax)

Uma nova realidade

Para Renato Duarte, de 28 anos, não houve outra alternativa e foi preciso se adaptar. Motoentregador há pouco mais de 4 anos, o trabalhador tinha carteira registrada em uma empresa de contabilidade, mas viu o contrato ser encerrado após dois anos.

“Eu fazia quase todo serviço de rua, mexia com papelada, fazia pagamentos, mas as saídas foram ficando cada vez mais raras e como não tinha nenhuma vaga dentro do escritório, acabaram me mandando embora”, lembra.

Por meses, ele até tentou uma nova oportunidade no mercado formal, com carteira registrada, no entanto, com a necessidade batendo à porta, começou a fazer free-lance em uma farmácia, depois em pizzarias da região do Bairro Nova Lima.

Sem emprego fixo, Renato foi prestar serviço para aplicativos de entregas de comida. “Não é a mesma coisa. Quem está no aplicativo precisa trabalhar muitas horas seguidas para ter um salário que às vezes nem paga as contas direito, mas o pior de tudo é a incerteza. A gente não pode comprometer dinheiro porque nunca sabe como vai ser a semana”, detalha.

Exemplo da migração do trabalho formal, o motoentregador expõe a esperança de que o avanço tecnológico também seja proporcional às condições de trabalho dele e dos milhares de parceiros de profissão.

“Não dá para ser moderno em uma coisa e andar para trás em outra”, finaliza.

Piso Salarial

Em 2023, a média salarial de office-boy em Mato Grosso do Sul foi atualizada em R$ 1.242,19 para jornada de 44 horas semanais. Para o cálculo, o portal dissídio levou em conta a convenção coletiva de 1.563 profissionais contratados em todo o Estado.

Em Campo Grande, o piso salarial em 2023 é de R$ 1.218,66 e o salário médio na Capital é R$ 1.237,85.

Apesar disso, anúncio para vaga em uma empresa de recursos humanos de Campo Grande oferece contratação em regime CLT e salário de R$ 1.600.

Os contratantes exigem ensino médio completo, experiência com rotinas administrativas, carteira de habilitação e moto, e oferecem vale-transporte e alimentação para serviço de segunda a sexta-feira, realidade distante da enfrentada por trabalhadores que atuam para plataformas de aplicativo.

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