O dólar recuou no mercado doméstico de câmbio na sessão desta sexta-feira, 10, em sintonia com as perdas da moeda americana frente a pares do real com o peso chileno e mexicano. Operadores relataram ajustes de posições no mercado futuro, entrada de fluxo estrangeiro e internalização de recursos por parte de exportadores, estimulada pela valorização da moeda americana nos últimos dias.

Afora uma alta pontual na abertura dos negócios, quando superou momentaneamente a barreira de R$ 5,30 ao registrar máxima a R$ 5,3092, o dólar trabalhou em terreno negativo ao longo do dia. Com mínima a R$ 5,2157 à tarde, a divisa encerrou a sessão a R$ 5,2219, em baixa de 1,08%. Apesar do refresco hoje, o dólar termina a semana com ganhos de 1,44%, o que leva a valorização acumulada em fevereiro para 2,86%.

A depreciação do real nos últimos dias é atribuída, sobretudo, ao estresse doméstico provocado por temores de desancoragem das expectativas de inflação. Azedou o humor dos investidores a sequência de ataques abertos do presidente Lula e da ala política do Palácio do Planalto à gestão da política monetária e ao nível das metas de inflação.

“O real vinha numa toada boa e no fim da semana passada chegou até a operar abaixo de R$ 5,00 por um período curto. Mas entramos em um cenário mais turbulento com o conflito do governo com o BC e as dúvidas sobre a meta de inflação”, afirma o sócio e head de câmbio da Nexgen Capital, Felipe Izac, acrescentando que intervenção direta do governo na política monetária tende a provocar mais inflação e afugentar o investidor estrangeiro. “Hoje, tivemos um movimento clássico de ajuste e realização de lucros. E os exportadores aproveitaram para trazer recursos. Mas o ambiente continua ruim para a nossa moeda”.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que o ponto de mais estresse ocorreu ontem justamente quando houve uma “aparente” capitulação do Banco Central aos desejos do governo, em meio a rumores de que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, teria admitido mudar a meta de inflação deste ano, e não apenas para 2024 e 2025.

“Isso causou muito desconforto ao investidor. Falta um arcabouço fiscal efetivo e agora veio esse imbróglio com o BC, o que aumenta a percepção de risco”, afirma Galhardo, que também vê o recuo do dólar hoje como um movimento de acomodação e ajuste após uma forte rodada de alta.

Hoje à tarde, o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse, em live promovida pela Bradesco Asset Management, que a Fazenda não pautou o debate sobre mudança na meta de inflação. Em relação o arcabouço fiscal, Mello repetiu o mantra do governo de que a ideia é combinar sustentabilidade fiscal com políticas sociais e investimentos públicos.

Cresce a expectativa para a divulgação, na segunda-feira, 13, do Boletim Focus, que pode trazer nova rodada de piora das expectativas de inflação. Investidores podem adotar também uma postura defensiva na abertura da semana que vem, em compasso de espera pela participação, na segunda à noite, do presidente do BC no programa Roda Viva, da TV Cultura. Na próxima quinta-feira, 16, está marcada reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), com participação dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) – em tese, dois votos alinhados ao desejo do presidente Lula – e de Campos Neto.