Com variação de até 74% no preço dos alimentos, campo-grandense corta gastos e muda cardápio
Mesmo se você não costuma anotar os preços que paga pelos produtos comprados no supermercado já percebeu que a compra está bem mais cara. Alguns alimentos estão custando quase o dobro em relação ao ano passado e, com isso, muitos campo-grandenses precisam fazer um verdadeiro malabarismo para não deixar faltar o básico na mesa. É […]
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Mesmo se você não costuma anotar os preços que paga pelos produtos comprados no supermercado já percebeu que a compra está bem mais cara. Alguns alimentos estão custando quase o dobro em relação ao ano passado e, com isso, muitos campo-grandenses precisam fazer um verdadeiro malabarismo para não deixar faltar o básico na mesa.
É o que aconteceu com o casal Dulcineia Flores, 33 anos, e o marido Leandro Alves Mateus, de 25. Eles moram em uma fazenda na zona rural de Campo Grande e vão às compras uma vez por mês para abastecer o estoque da casa onde moram.
“Como não tem muito o que diminuir da compra, estamos tendo que economizar com água, energia e outras compras como roupas e calçados para continuar mantendo o mesmo padrão da compra de alimentos”, disse a dona de casa, afirmando que a mesma compra feita hoje com R$ 1,5 mil era feita por R$ 1 mil no final do ano passado.
Já no caso de Maria Aparecida, 54, e do marido, Alberto Lombardi, 72, que não têm de onde tirar mais gastos, o jeito foi substituir os alimentos. “Não dá para comprar uma verdura e uma fruta. Por exemplo, o preço da maçã está absurdo, não dá para levar”, comentou.
A situação também exige mudanças na rotina de pequenos comerciantes como a Eliana de Oliveira, 45, que tem uma lanchonete na Vila Progresso. Ela faz salgadinhos para vender e, para não deixar seus produtos mais caros, precisou se adequar. “Antes usava 8 litros de óleo por semana, agora uso 5, por exemplo. Não dá para subir o preço dos salgados, então estou me virando com menor número de produtos e não precisar aumentar o preço”, informou. A comerciante também fazia marmitas para vender, mas a alta no preço do arroz a fez desistir do serviço.
Para Silvia Marcos, 42, que mora com uma filha de 19 anos, que também trabalha e ajuda em casa e um filho de 7 anos, ainda é possível fazer a compra necessária, “mas se continuar esse aumento, vou ter que começar a cortar outras despesas”, observou.
Quase o dobro
Ao passar pelas gôndolas dos mercados é possível notar que os preços subiram muito, mas alguns alimentos estão custando quase o dobro do que no mesmo período do ano passado.
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que faz o levantamento mensal do preço da cesta básica, os que apresentaram maior variação em um ano foram os seguintes itens:
Item | Preço médio em out/19 | Preço médio em out/20 | Diferença em R$ | Variação % |
Carne (kg) | R$ 20,36 | R$ 30,99 | R$ 10,63 | 52,2% |
Arroz (pct 5 kg) | R$ 13,55 | R$ 23,90 | R$ 10,35 | 76,3% |
Feijão (kg) | R$ 4,71 | R$ 6.75 | R$ 2,04 | 41,2% |
Óleo | R$ 3,86 | R$ 6,74 | R$ 2,88 | 74,6% |
Por que estão mais caros?
Uma série de fatores explicam o porquê dos alimentos terem ficado mais caros este ano e a maioria deles está ligado à pandemia do coronavírus.
Dólar e exportações – Quando houve a disparada no preço do arroz, a explicação foi de que, com o dólar em alta, os produtores estavam preferindo vender para o mercado externo e receber na moeda americana, lucrando mais. Com menos oferta de alimentos no mercado doméstico, os preços aqui sobem. No caso do arroz, a situação foi agravada pela queda de 59% nas importações do produto entre março e julho deste ano.
Auxílio emergencial – A ajuda de R$ 600 (ou R$ 1,2 mil em caso de mães chefes de família) foi paga pelo governo aos cidadãos de baixa renda, que concentram suas compras em alimentos básicos. Também, as restrições de mobilidade impostas pela pandemia fizeram com que os brasileiros parassem de comer tanto fora e comprassem mais itens nos mercados para preparar as próprias refeições. Com maior demanda, o preço tende a subir.
Estoques da China – As incertezas da pandemia fizeram com que os países diminuíssem as importações e, com a retomada gradual, precisaram repor os estoques. O principal deles é a China, que comprou 50% mais carne bovina do Brasil. Novamente, com menos produtos no mercado interno, o preço sobe.
Combustível – Por fim, a alta no preço dos combustíveis encarecem a logística de distribuição de produtos pelo Brasil e contribuem com a alta de preços. Em agosto, a gasolina foi o item de maior peso na inflação oficial, com alta de 3,22%.
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