A reclamação é praticamente unânime: há uma epidemia no comércio da Capital na qual consumidor são frequentemente assediados a levar outros produtos durante as compras – principalmente, a tal da garantia estendida.

Na verdade, a oferta do benefício de garantia estendida não constitui problema, por assim dizer. Isso só ocorre quando a venda é condicionada a um outro produto. É o que configura a venda casada, uma prática abusiva prevista como irregular no Código de Defesa do Consumidor.

Consumidores denunciam 'epidemia da venda casada' no comércio em Campo Grande
Notificações de abusos contra consumidores são  subnotificada, segundo o (Foto: Arquivo | Midiamax)

“Eu comprei uma televisão de 40 polegadas em março e quando veio a primeira fatura, mês passado, me assustei, pois era um valor bem maior que o combinado. Quando liguei na central me disseram que eu tinha comprado a garantia estendida, só que eu tinha sido clara que queria só a televisão”, conta a autônoma Alice Alcântara, de 33 anos.

Assim como ela, a estudante Maria Clara Dorneles, de 21 anos, também foi vítima da venda casada em outro varejista na cidade. “Comprei um smartphone e só na hora de pagar o primeiro boleto vi que o valor não era o combinado. Foi quando vi que caí na pegadinha da garantia estendida”, conta.

As duas clientes conseguiram retirar a cobrança indevida pela venda casada junto às centrais, mas enfrentaram dor de cabeça. “Passei quase uma semana ligando todo dia para a central até que finalmente me mandaram um novo boleto corrigido”, detalha a estudante.

Nenhuma delas, porém, formalizou denúncia em órgãos de defesa do consumidor, o que poderia mudar o cenário. Na última sexta-feira (3), por exemplo, o Procon-MS (Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor) confirmou que multou uma loja de departamentos localizada em Campo Grande por fazer cobranças indevidas e praticar venda casada. No total, o estabelecimento terá que arcar com multas que ultrapassam R$ 125 mil.

Consumidores denunciam 'epidemia da venda casada' no comércio em Campo Grande
O superintendente do Procon-MS, Marcelo Salomão (Foto: Arquivo | Midiamax)

O superintendente do Procon-MS, Marcelo Monteiro Salomão, confirma que as denúncias de práticas abusivas são subnotificadas em Mato Grosso do Sul, o que dificulta o serviço de fiscalização.

“De 2018 até o momento, só tivemos 51 denúncias formalizadas no Procon-MS, sendo 31 de assuntos financeiros, 7 contra serviços essenciais e 13 contra serviços privados. É um número muito baixo para que a gente possa mapear, por exemplo, em quais lojas essas infrações de ordem econômica são mais comuns”, detalha Salomão.

Até vendedores confirmam que são obrigados a praticar os abusos. “Eu trabalhei numa dessa lojas e eles praticamente obrigam os funcionários a fazer essa venda casada. o assédio é muito grande, fazem terrorismo com os vendedores. Tem até gratificação para operador de caixa que conseguir bater as metas”, conta uma ex-vendedora que pediu para ter a identidade preservada.

Venda Casada

Consumidores denunciam 'epidemia da venda casada' no comércio em Campo Grande
(Reprodução | Senado Federal)

O Código de Defesa do Consumidor destaca, em seu artigo 39º, aponta que fornecedores não podem, por exemplo, “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”. É o que define a venda casada.

Entre as denúncias enviadas ao Procon-MS neste ano, está a de uma consumidora que contratou o serviço de cartão de crédito de uma loja de departamentos e efetuou uma compra. Na segunda parcela, foi surpreendida com valor quase o dobro do contratado.

“Fui informada que no momento da assinatura do cartão tinha contratado vários seguros, seguro bolsa, proteção financeira, assistência a computador… Sendo que nem computador eu tenho”, traz o relato.

Outra consumidora denunciou que ao comprar um veículo em uma concessionária, mesmo tendo deixado claro que não queria nenhum outro serviço incluso, deparou-se com cobrança do seguro veicular contra sua vontade. “Tentei resolver na loja e me disseram para tentar por telefone. Mas não consegui resolver nada pela central, por isso fiz a denúncia no Procon-MS”, traz o outro relato.

Consumidores denunciam 'epidemia da venda casada' no comércio em Campo Grande
Denúncias podem ser feitas na sede do Procon, pelo 151 e também pela internet (Foto: Edemir Rodrigues | Midiamax)

“É algo que parece uma epidemia, porque na hora o consumidor não percebe que está sendo enganado. Por isso, é fundamental que as denúncias sejam formalizadas, elas são o oxigênio do Procon-MS para evitar que esses casos ocorram em outras lojas”, conclui Salomão.

Para formalizar denúncias, o consumidor pode acionar o Procon-MS pelo telefone 151 (ligação gratuita), pela aba Fale Conosco do site da Superintendência ou, ainda, pessoalmente, na sede do órgão (Rua 13 de Junho, 930 – Centro), das 7h até às 18h30, de segunda a sexta-feira.