Enchente e jet ski em rua permanecem na memória, mas fato curioso une moradores do Jockey Club
Há 14 anos, moradores da rua das Hortências, precisaram ser resgatados do telhado de uma casa após enchente
Priscilla Peres –
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Há 14 anos, o mês de janeiro era marcado por uma cena curiosa. Um homem usou jet ski para resgatar moradores que estavam ilhados em meio a enchente que atingia a Rua das Hortênsias, em Campo Grande. As lembranças daquele 6 de janeiro ainda são vívidas na lembrança de quem persiste na região, apesar dos alagamentos constantes.
A água de uma chuva forte subiu rapidamente naquele dia, pegando moradores de surpresa. Principalmente aqueles que residiam entre as ruas Ouro Negro e Bom Sucesso, trecho onde a via é mais baixa e facilita o acúmulo de água. Uma família precisou se abrigar no telhado da residência ao ver a água subindo e foi resgatada pelo homem no jet ski.
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Mas aquele dia ficou marcado na lembrança de muitos moradores por outro acontecimento. Em meio à enchente, uma moradora antiga da rua, enfartou e morreu. Moradores contam que ela teria ficado nervosa com a situação recorrente e tentado abrir os bueiros para a água da chuva escorrer mais rápido.
A história da morte de Fátima em meio ao alagamento da rua é lembrança latente na memória de quem permanece na Rua das Hortênsias. Lembrança até mais forte do que a própria história do jet ski, talvez porque a tragédia seja a ligação para um bairro que cresceu em meio a muitas dificuldades com o período de chuva.
Lembranças vivas
Reencontrar os moradores da Rua das Hortênsias foi muito fácil. O bairro Jockey Club é antigo, com moradores que por ali residem há várias décadas. Eles todos se conhecem, se chamam pelo nome ou apelido, muitos cresceram juntos e compartilham as lembranças e as lutas por melhorias.
Mas nem todos os personagens da reportagem do Jornal Midiamax de 2011 continuam por lá. Paulo Vitor, na época com 11 anos e traumatizado com o fato de ter subido no telhado com sua família para escapar da correnteza, se mudou do bairro depois da situação. O protagonista, que improvisou com um jet ski para enfrentar a chuva, também não se encontra mais pelo bairro Jockey Club, mas segue em Campo Grande.
A comerciante Valéria Regina Scantamburgo, 53, mora na rua há 37 anos e exatamente em frente a casa onde Paulo Vitor morava com a família em 2011. Ao analisar a rua é possível entender por que os alagamentos ocorrem com frequência, visto que justamente onde o menino morava é a parte mais baixa da via.
Valéria conta que chegou a ter a casa alagada, sete, oito vezes por ano, o que forçou obras de contenção. Os moradores que tiveram condições financeiras, construíram rampas e subiram o nível das calçadas, para evitar que a água da chuva cause estragos.
Também tem quem tenha improvisado tudo o que pode, mas ainda lida com os alagamentos. Jorge Humberto Vieira, 64, diz que se ‘formou engenheiro’ de tanto conviver com a água da chuva e adaptar sua casa, localizada na parte mais baixa da rua.
“Já subi piso, telhado, várias vezes, mas a casa ainda alaga. Cada chuva forte é uma ameaça”, conta ele que, de tanto perder coisas pessoais, construiu uma cama de concreto no quarto.
Mas o que fica da Rua das Hortênsias são os exemplos, de resiliência e amizade. “Quando as enchentes aconteciam, no dia seguinte os moradores se uniam para ajudar a limpar as casa afetadas. Ainda acontece, mas já estamos mais espertos com a rua”, conta a empresária Celi Felix, 55, que mora desde os 5 anos na rua.
Curiosidades do jornalismo
A reportagem de 2011 foi escrita há várias mãos. Ao menos oito pessoas que trabalhavam à época no Jornal Midiamax contribuíram para que a matéria fosse ao ar. A repórter que vos escreve está entre as assinaturas.
Quatorze anos depois, a essência é a mesma, porém o processo de apuração evoluiu a passos tão largos quanto a tecnologia. As fotos eram feitas exclusivamente em câmeras profissionais, sem a facilidade de integração com o celular, muito menos WhatsApp.
O único recurso do tipo era um celular BlackBerry, o único na época com acesso à internet. Para construção da reportagem, a apuração era feita in loco ou por telefone. Fazer ligações para celulares era considerado invasivo, visto que poucas pessoas tinham o aparelho.
A rede social da época era o Facebook, onde começavam a existir alguns registros de factualidades, como registros e comentários sobre enchentes. Realidade bem diferente de hoje, quando rapidamente as informações se espalham e chegam até a palma da mão.
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