Sucateamento de ônibus faz ‘Príncipe do Consórcio Guaicurus’ abandonar Campo Grande
Motoristas relatam cansaço e esgotamento psicológico na rotina de trabalho
Karina Campos –
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Após uma semana do desabafo sobre as condições de trabalho, Weslei Conrado Moreli, mais conhecido como “Príncipe do Consórcio Guaicurus”, deixará o sonho de ser motorista de ônibus em Campo Grande. O motivo é o sucateamento dos coletivos que operam na cidade.
O vídeo ganhou repercussão e até o apelo de passageiros que lamentavam a premissa da demissão do trabalhador ao falar sobre o quarto veículo que apresentava problemas no dia 23 de outubro, em uma subida da Rua 13 de Junho, na linha 061.
Weslei conta que chegou ao limite da exaustão ao notar as reclamações e cansaço dos passageiros. Ele se explicava dizendo que o veículo não tinha forças para subir o trecho íngreme. “Ele não vai, é um carro novo. Estou ‘esguelhando’ esse carro para vocês conseguirem chegar em casa”, dizia aos passageiros.
“Naquele dia, o primeiro carro que peguei quebrou a correia do motor. Orientei os passageiros sobre o ocorrido, dei todo o suporte, liguei na garagem e pedi a troca. O carro seguinte não tinha forças suficiente; pedi a troca. No outro e no outro a mesma coisa. No último era uma subida, o carro quase voltou. Temos horários para cumprir. O estresse foi muito grande”, relembra.
No mesmo dia Weslei decidiu pedir demissão e abandonar a profissão na cidade. Agora, deve mudar-se do Estado para outro em que acredita na maior valorização do trabalhador na categoria.
Contudo, o motorista ainda tem um lamento, não conseguir fazer muito pelo passageiro. “É triste a realidade do transporte público aqui. Somos seres humanos, só queremos um transporte digno. São mães, avós, famílias. Precisa melhorar, o povo não aguenta mais. Eu amo meu trabalho, as pessoas, mas vou viver em outro lugar mais digno”.
‘Estou lutando para sair’
Outro funcionário está no processo de demissão da empresa após agravo no quadro depressivo. Ele conta que está reunindo a documentação exigida para a demissão, mas já se afastou das atividades após vários episódios de estresse diário.
“A gente passa por cada coisa todos os dias. É reclamação de passageiro, pessoal da empresa ligando para dobrar as horas de trabalho se alguém falta. Nós chegamos a trabalhar mais de 9 ou 10 horas por dia, porque não tem ninguém para trabalhar no lugar daquele motorista que faltou. O ônibus não pode parar, ele continua. Temos horários para cumprir e tem muitos terminais que não tem como fazer a necessidade fisiológica, não tem banheiro”.
Após anos de trabalho, o motorista diz que atingir o máximo do cansaço físico e mental. “O funcionário não trabalha as sete horas estabelecidas, trabalha muito mais. Na rotina do motorista não conseguimos ir ao banheiro, beber água direito e nem almoçar. Todo atraso que há é descontado do nosso bolso. Por exemplo, há a política municipal que se há atrasos nos coletivos, gera uma multa para a empresa e essa multa é descontada do nosso salário”.
“Infelizmente, eu quero melhorar minha e sei que não sou apenas eu passando pela mesma situação. Eu estou lutando para sair da empresa”.
Cansaço de passageiros
Marcos Roberto da Silva é passageiro que costuma embarcar na linha 087. Ele diz que observa os funcionários durante a rotina. Com isso, o morador relata que vem notando a falta de motoristas nos terminais, a baixa adesão de novos funcionários.
“Não está tendo mais motorista para trabalhar em ônibus, ninguém valoriza. No Terminal General Osório, lá pelas 21h, verá um monte de gente esperando. Sou porteiro de condomínio e preciso de ônibus todos os dias e está ficando cada vez mais difícil pegar o transporte público”.
Sucateamento
O episódio da quebra dos quatro ônibus reacende a discussão sobre o sucateamento que já virou série no Jornal Midiamax. A tarifa custa atualmente R$ 4,75.
Em julho do ano passado, uma nova frota de 71 ônibus que substituiu as antigas “sucatas” que estavam em circulação em Campo Grande, novos veículos começaram a rodar.
Na época, as novas linhas em circulação incluíam a linha 072, que faz o trajeto entre o Terminal Hércules Maymone até o Terminal Nova Bahia. O veículo segue o modelo padrão de 12,6m. Os outros dois veículos em circulação fazem as linhas 220, 225 e 226, que atendem os bairros Santa Luzia e Vila Nasser e são do modelo curto (11,6m), que comportam número menor de passageiros.
No período da tarde entraram em operação veículos novos nas linhas 081, 082, 085 e 086.
O que diz o Consórcio
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Consórcio Guaicurus sobre as demissões, esgotamento psicológico dos trabalhadores e sobre o desemprenho das frotas, mas não obteve retorno até a publicação deste material.
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