A idosa de 81 anos, que morreu após passar décadas com um feto mumificado no corpo, não costumava frequentar médicos, mas sua intuição dizia que algo estranho havia dentro dela. Moradora de um assentamento em Aral Moreira, Daniela Almeida Vera já havia relatado para a família que achava que tinha um tumor, que ‘se mexia como um bebê’.

Filha de coração de Daniela, Roseli Ávalo, 21, contou ao Jornal Midiamax sobre detalhes da relação com a mãe que evitava ir ao médico e dizia ter medo de hospital. Aos 81 anos, a idosa morava em um assentamento de Aral Moreira, cidade distante 376 km de Campo Grande, e teve três quedas recentes devido às condições do local, que enche de lama quando chove.

As quedas podem ter desencadeado um processo infeccioso no corpo da mulher indígena, que provavelmente passou décadas com o feto mumificado dentro do corpo. Os médicos acreditam que a situação pode ter se originado em uma gravidez atópica quando o óvulo fertilizado é implantado fora do útero, que evolui para morte fetal e calcificação.

“Ela falava que sentia algo estranho dentro dela, que chamava de tumor. Ela chegou a falar que se mexia igual a um bebê, mas orientamos ela para ir ao médico e ela tinha medo. Só procurou atendimento médico quando começou a passar mal”, conta a filha que, junto dos 6 irmãos, decidiu falar sobre o assunto para servir de alerta à população.

Idosa morreu após cirurgia para retirada do feto

Daniela procurou atendimento médico em Aral Moreira na semana passada, com quadro de AVC. Devido à gravidade, foi transferida para o Hospital Regional de Ponta Porã, onde deu entrada na quinta-feira (14) no hospital, foi operada na sexta-feira (15) para retirada do feto do útero e morreu no sábado (16).

A partir da infecção constatada, equipe médica da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) decidiu pela realização cirúrgica de emergência, para remover o feto e controlar o processo infeccioso. A cirurgia foi adotada como medida para tentar impedir o óbito da paciente, que não resistiu devido à situação em que se encontrava.

Daniela foi enterrada no cemitério de Aral Moreira e agora a família pede ajuda para construir um túmulo para a mãe. “Nós queremos também ajuda para construir a casinha do cemitério, se tiver voluntários para ajudar nós ficaremos muito grato. Nós não temos condições, por isso estamos pedindo ajuda se puder”, disse a filha.

Caso raríssimo será estudado

A família da idosa não sabe afirmar quanto tempo o feto ficou no útero da indígena, mas estima-se em torno de cinco décadas devido à idade dela. Em Ponta Porã, a idosa ficou internada na UTI do Hospital Regional, onde exames de imagens identificaram o quadro grave.

O caso raríssimo foi identificado pela equipe médica do Hospital Regional de Ponta Porã e deve ser tema de um artigo científico. De acordo com o hospital, a equipe médica se interessou em estudar o caso.