O livro ‘O Avesso da Pele’ causou debate – e revolta – na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) na última terça-feira (5). É que a obra do escritor brasileiro Jeferson Tenório foi inserida no PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) do MEC (Ministério da Educação), e deve ser distribuída às bibliotecas da Rede Estadual de Ensino. Deputados estaduais repudiaram a decisão e classificaram a obra como ‘nojenta’.

A polêmica começou após uma diretora gaúcha criticar o envio de 200 exemplares do livro para a Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira. Na publicação, Janaina Venzon afirmou que considera “lamentável o Governo Federal, através do MEC, adquirir esta obra literária e enviar para as escolas com vocabulários de tão baixo nível para serem trabalhados com estudantes do ensino médio”. A publicação já foi apagada.

Após a repercussão da publicação, a 6ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação), ligada à Seduc (Secretaria de Educação), chegou a orientar a retirada dos exemplares da biblioteca da escola até que o MEC se manifestasse.

Quem é Tenório e o que fala o livro?

Jeferson Tenório nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Radicado em Porto Alegre, é doutorando em teoria literária pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Estreou na literatura com o romance ‘O beijo na parede’ (2013), eleito o livro do ano pela Associação Gaúcha de Escritores. Teve textos adaptados para o teatro e contos traduzidos para o inglês e o espanhol.

Já o livro ‘O Avesso da Pele’, publicado em 2020, conta a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. A história escancara o racismo e o sistema educacional defasado do Brasil.

Segundo o próprio autor, ‘O Avesso da Pele’ já foi adotado em centenas de escolas pelo Brasil. A obra venceu o Prêmio Jabuti, teve direitos de publicação vendidos para mais de 10 países e ganhou adaptação para o teatro. Segundo Tenório, no caso do protesto na cidade gaúcha, a própria diretora assinou a ata de escolha do livro, que foi avaliado pelo PNLD, ainda no governo Bolsonaro, em 2021.

Na publicação que fez após a repercussão negativa de seu livro, Jeferson lamentou o ocorrido e pontuou que “as distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação” e que “o mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”, acrescentou.

MEC

Após os desdobramentos do caso, o MEC publicou uma nota afirmando que o livro “foi incluído no PNLD por meio de portaria em 2022 depois de passar por uma seleção publicada em edital de 2019”.

Segundo o Ministério, “a escolha das obras literárias a serem adotadas em sala de aula é feita pelos educadores de cada escola a partir de um Guia Digital onde as obras integrantes do programa estão listadas para conhecimento de professores e gestores”. Assim, diferente do que foi apontado pela diretora, “os livros são distribuídos às escolas somente após a escolha dos profissionais de educação, realizada em sistema informatizado do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)”.

Essa escolha, ainda segundo o MEC, deve ser realizada de maneira conjunta entre o corpo docente e dirigente da escola, considerando-se a adequação e a pertinência das obras em relação à proposta pedagógica de cada instituição escolar e a decisão democrática dos professores.

Por fim, finalizaram apontando que todas as “obras são avaliadas por professores, mestres e doutores, que tenham se inscrito no banco de avaliadores do MEC. Os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas”.

O que diz a SED?

Após o assunto ser levado à tribuna na Alems, pelo deputado Rinaldo Modesto (Podemos), o Jornal Midiamax entrou em contato com a SED (Secretaria Estadual de Educação), para saber se haverá a distribuição dos livros em Mato Grosso do Sul.

Leia a nota:

“A SED informa que vai fazer uma análise mais aprofundada da obra em especial para os devidos encaminhamentos. Vale salientar que o processo de escolha e distribuição dos livros ocorre entre o Ministério da Educação e as unidades escolares da Rede Pública de Ensino. Para o encaminhamento, o MEC cria uma lista com as obras disponíveis e as unidades escolares fazem a opção pelos acervos de interesse. Após a escolha feita pelas unidades, o Ministério faz o envio direto para as escolas”.

Questionamos quanto tempo levará até a análise ser feita, mas até o momento não obtivemos resposta. O canal segue aberto.

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