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Cotidiano

Reflexo do abandono: ex-ferroviários de Campo Grande assistem à profissão morrer após gerações nos trilhos

Campo Grande tem um Museu Ferroviário aberto para visitação do público
Priscilla Peres -
Ex-colegas de profissão se reúnem para bate-papo (Foto: Priscilla Peres/Jornal Midiamax)

Toda quinta-feira de manhã, ex-ferroviários de se reúnem na Estação Ferroviária para um bate-papo, como forma de manter viva a história e a união da categoria que há quase 30 anos assiste ao passado ruir. Eles são netos, filhos e sobrinhos de ferroviários que cresceram em meio aos trilhos e os últimos a vivenciar a tradição.

E é ali na Esplanada Ferroviária, que já vivenciou milhares de chegadas e partidas, que em torno de 10 homens se reúnem, toda semana, dividindo espaço com o Museu Ferroviário e as lembranças dos tempos áureos do setor. O papo vai longe, viaja pela história, a decepção com o abandono, os planos futuros e a realidade por vezes cruel.

Nesta terça-feira (30), se comemora o Dia do Ferroviário e haverá um café da manhã para a categoria e visitantes, no Museu Ferroviário de Grande.

Um vagão ferroviário da década de 20, bem deteriorado pelo tempo e a falta de restauro, completa a cena das rodas de conversa. Icônico, o vagão tem projeto de reforma junto ao governo do Estado, para se tornar patrimônio cultural, mas questionados sobre o assunto a Fundação de Cultura estadual não detalhou o projeto. O espaço segue aberto à manifestação.

Quarenta anos separam o início e o fim do transporte ferroviário de passageiros em Campo Grande. Em abril de 1953, aconteceu a primeira viagem de trem de Bauru a Campo Grande e no mês seguinte foi entregue o trecho ferroviário de Campo Grande a Ponta Porã. A Rede Ferroviária Federal foi criada em 1957 e incluída no plano nacional de desestatização em março de 1992.

Vagão ferroviário da década de 20 (Foto: Priscilla Peres/Jornal Midiamax)

Daí para frente a história inclui greve, demissões e privatização até a última viagem do trem misto em maio de 1996. Apesar de fazer parte da história de Campo Grande, apenas os ex-ferroviários se esforçam atualmente para manter viva a cultura ferroviária.

Lembranças da profissão que foi passada por gerações

Aos 21 anos, em 1979, Itamar Inácio Duarte se tornou ferroviário, trabalhando da ferrovia de Campo Grande a Bauru, mesmo lugar onde cresceu vendo o pai, avô e tios trabalhando. Ele se tornou maquinista e trabalhou mais de 15 anos no setor até ser demitido na leva de 1996.

Mesmo aposentado, Itamar trabalha como motorista de ambulância para complementar a renda e fechar as contas no fim do mês. Junto dos amigos de profissão, saúda os bons tempos e lamenta o fim da tradição familiar de trabalho, já que os filhos seguiram outros caminhos.

Edival Aparecido Geraldo de Souza, 59, vive a mesma situação. Ele foi um dos últimos a deixar o trabalho na ferrovia, ficando até ser demitido pela então gestora, empresa ALL. Com a morte do setor, ele precisou migrar de área para continuar no mercado de trabalho e dar conta dos boletos do mês.

A associação dos ex-trabalhadores da ferrovia se mantém ativa, tendo Nelson Pereira de Araujo, 64, a frente da instituição desde 2019. Ele também vem de família de ferroviários e hoje luta para que a ferrovia tenha ao menos cunho cultural e contemplativo.

Conheça o Museu Ferroviário de Campo Grande

De segunda a sexta-feira, das 8h às 16h30, o Museu Ferroviário de Campo Grande está aberto para visitação. O espaço tem recebido a visita de estudantes de escolas, mas está disponível para quem quer conhecer a história da ferrovia de Campo Grande.

Por lá é possível conhecer realmente a história, ver as fotos de antigamente, itens originais dos vagões, vestuário dos funcionários e, claro, tomar um café e ouvir histórias de quem vivenciou a época.

Museu do Ferroviário (Foto: Priscilla Peres/Jornal Midiamax)

Desabamentos mostram decadência da estrutura

O telhado do antigo armazém de trens, na rotunda ao lado da Feira Central de Campo Grande, desabou durante a forte chuva em Campo Grande no dia 7 de abril. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que o patrimônio público cedeu e reacenderam discussões sobre reforma do local.

Após uma inspeção no local, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) emitiu um laudo de fiscalização sobre as condições da área. Com base no documento, o Instituto emitiu auto de infração em nome da Prefeitura de Campo Grande, responsável pela gestão e manutenção do local.

De acordo com o Iphan, o auto de infração pode resultar em multa e/ou termo de compromisso para a prefeitura da Capital. Em reunião no dia 10 de abril, o município informou que discute a revitalização de toda a área via projeto do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

Impasse se arrasta enquanto local entra em ruínas

O entrave se arrasta há anos. Em 2018, o MPMS (Ministério Público de MS) entrou com ação pedindo a conservação do complexo ferroviário de Campo Grande. O Inquérito que instruiu a Ação Civil Pública foi instaurado após laudo constatar a precariedade do local, agravado após um vendaval em 2015.

No entanto, o Ministério perdeu a causa após o juiz entender que o local já estava reformado, considerando apenas o espaço que compreende o armazém cultural e esplanada. Na apelação em 2° grau, o MPMS apontou que a sentença observou apenas as partes já reformadas e ‘esqueceu da Rotunda’.

“A rotunda, que faz parte do Complexo Ferroviário, encontra-se em lamentável e precário estado de conservação. Necessita urgentemente de, no mínimo, obras paliativas para evitar sua ruína”, dizia a ação.

Assim, a decisão de primeiro grau foi reformada e condenou a Prefeitura de Campo Grande a restaurar a Rotunda no prazo de 180 dias, sob pena de multa. Por haver possibilidade de recursos, o Município chegou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para não cumprir a decisão, o que ocorreu em 2024 – 6 anos após a conclusão do inquérito do Ministério Público e oferta de denúncia à Justiça. Desde então, o impasse persiste e o local permanece em completo abandono.

Conforme a contestação da Prefeitura, em 2022 o município submeteu proposta de financiamento ao Ministério de Desenvolvimento Regional, por meio do Programa Pró-Cidades. Dessa forma, criou-se um projeto de reforma e adequação do Complexo Ferroviário, com investimento total de R$ 91 milhões.

Na proposta, estavam previstos investimentos para restauração de todo o Complexo da Rotunda da Ferrovia, incluindo galpões e seu entorno, sendo destinado o valor de R$ 44.163.166,54, mas somente projetos do município de Corumbá foram contemplados.

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