Em meio ao ataque contra indígenas em Douradina, interior de Mato Grosso do Sul, o jornalista e humanista canadense, Renaud Philippe publicou um apelo nas redes sociais, na tarde desta segunda-feira (15), citando o presidente Lula (PT), ministérios brasileiros e entidades envolvidas na causa indígena.

Renaud já foi agredido em Mato Grosso do Sul enquanto cobria confronto no Estado, no ano passado. Confira a postagem feita nas redes sociais:

O apelo, escrito em inglês, diz que desde ontem diversas comunidades Guarani têm sido vítimas de ataques coordenados nos estados brasileiros do Paraná e Mato Grosso do Sul.

“Em todos os lugares, o mesmo modus operandi. Agricultores, milícias, forças policiais locais, todos coordenados, enquanto movimentos rurais como a Invasão Zero, uma relíquia do governo deposto de Bolsonaro, estão em ascensão [tradução nossa]”, escreveu.

Ele lembra, ainda, que em todos os casos que acompanha nos últimos anos, prevalece a violência armada, sexual e intimidação contra os povos indígenas. “Os depoimentos que reunimos com Carol Mira nos últimos 3 anos são horripilantes [tradução nossa]”, completou.

Relembre o caso da agressão em MS em 2023

O humanista não deixou de citar o caso de agressão que sofreu quando esteve em Mato Grosso do Sul.

“Quando fomos atacados em novembro de 2023, tomamos consciência da dimensão deste movimento genocida. Hoje, a impunidade dos agressores, a inação do governo brasileiro – mesmo sob Lula – e o silêncio da mídia sugerem mais uma vez o pior [tradução nossa]”, afirmou.

À época, ele e a antropóloga Carol Mira foram agredidos quando realizavam a cobertura dos conflitos relacionados à disputa de terras em áreas de demarcação indígena. Enquanto documentavam a Assembleia Aty Guaçu na cidade de Caarapó, eles receberam informações sobre um conflito de retomada de terras em Iguatemi e foram até o local.

“Nunca estive tão preocupado com a minha segurança por parte daqueles que devem ‘servir e proteger’”, desabafou disse Ronaud em entrevista à Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) na época do acontecimento.

Ele atua em campos de conflito pelo mundo há 19 anos e relatou nunca ter se sentido tão ameaçado com a leniência das forças de segurança em toda a sua carreira.

Renaud e Carol foram jogados no chão, alvos de chutes, socos e ameaças verbais. Durante o ataque, o jornalista teve seus cabelos cortados com uma faca pelos agressores. Já Carol Mira sofreu ameaças de ter seu cabelo cortado com a faca, assim como seu rosto.

Além disso, também saquearam o carro do casal, levando seus equipamentos de trabalho, incluindo câmera, cartão de memória, dois celulares, documentos e dinheiro. Carol Mira sofreu ameaças de ter seu cabelo cortado com a faca, assim como seu rosto.

Após o ocorrido, os dois conseguiram escapar e dirigiram por cerca de 120 km até a delegacia de Amambai.

Conflito em Douradina

Indígenas Guarani e Kaiowá retomavam parte do território de Panambi – Lagoa Rica, em Douradina, na madrugada de domingo (14), quando houve um ataque que deixou um indígena ferido.

Os indígenas da organização Aty Guasu contam estarem em uma estrada em frente à aldeia. “Não provocamos eles. Estávamos fazendo nosso protesto e o fazendeiro passou por nós e atirou”, publicou o líder Guyra Kambiy Ezequiel.

Alvo da retomada, a Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica é uma terra oficialmente reconhecida, identificada e delimitada com 12,1 mil hectares desde 2011. Seu processo de demarcação, contudo, está paralisado por conta de medidas que tentam instituir a tese do Marco Temporal.

Segundo nota da Aty Guasu, em represália à retomada, durante a tarde de domingo, os indígenas foram atacados por fazendeiros da região, que invadiram a comunidade em bando. Durante o ataque denunciado, no tekoha Guayrakamby”i, um indígena foi alvo de tiros, ficando ferido na perna.

Tensão ainda persiste em Douradina

O clima de tensão persiste na tarde desta segunda-feira (15) na área da Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica, em Douradina. Conforme informações do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), há grande aglomeração de camionetas próximas aos indígenas, que estão preocupados com um novo ataque.

“Os Guaranis reclamam a lentidão do processo demarcatório, a escassez de terra para sobrevivência da comunidade, o avanço do agronegócio que desmata e contamina os rios em um processo silencioso de genocídio”, informa o Conselho.

Além disso, o conflito entre fazendeiros e indígenas faz parte da rotina. O Cimi denuncia que os proprietários agrícolas estão pressionando os Guaranis e Kaiowás para despejá-los por conta própria.

Conforme lideranças que estão em contato com o Cimi, ainda não há quantidade exata de indígenas feridos. Além do indígena de 43 anos, outra mulher também com suspeita de estar com braço quebrado e ferimento no pé está sem atendimento na aldeia.