Cacique de 52 anos teria sido baleado durante conflito com indígenas em retomada de Caarapó
Já são três casos confirmados de indígenas baleados em conflitos da semana em Mato Grosso do Sul
Valesca Consolaro –
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Em meio aos conflitos indígenas que acontecem em diferentes locais de Mato Grosso do Sul, informações preliminares do MPI (Ministério dos Povos Indígenas) indicam que ao menos duas pessoas teriam sido baleadas em Caarapó, entre elas, um cacique de 52 anos. Por outro lado, a prefeitura do município nega que algum indígena tenha sido ferido.
As informações foram divulgadas na tarde desta terça-feira (16), pelas redes sociais do Coletivo Terra Vermelha, após posicionamento do MPI sobre três ataques nos territórios Guarani e Kaiowá.
A reportagem solicitou mais informações juntamente ao MPI e à Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), que esteve no local, para saber como está a saúde do indígena ferido. Não houve retorno até a publicação. O espaço permanece aberto para acréscimo de informação.
Em nota da Funai veiculada hoje (16), foi informado que, nos municípios de Douradina e Caarapó, foram registrados conflitos durante ações de retomada por indígenas Guarani Kaiowá da TI Amambaipegua I, no sábado (13) e no domingo (14). “A situação também escalou com ataques a tiros, deixando dois indígenas baleados e outros feridos”, informou a nota.
Prefeitura de Caarapó
Após a publicação, o prefeito de Caarapó, André Nezzi, entrou em contato com a reportagem para negar o acontecimento. Segundo ele, há indígenas em retomada no local, mas, segundo ele, não houve conflito com violência, com nenhum indígena tendo sido ferido. Diante disso, o Midiamax contatou novamente o MPI para verificar a informação.
“Acerca dos desdobramentos da ocupação indígena no município de Caarapó/MS, informo que o monitoramento da região apontou que, no segundo dia de ocupação, foram construídas 2 (duas) barracas de lona, e na região se encontravam aproximadamente 13 indígenas”, informa relatório do serviço de inteligência da PM (Polícia Militar) em Caarapó.
Ainda conforme a nota, a PM informou que a comitiva do Ministério dos Povos Indígenas, liderada pelo secretário executivo Eloy Terena, esteve na região para conversar com os manifestantes, mas que ainda não se tinha notícias acerca do teor e resultado da reunião.
“Após levantamentos, ficou constatado que na rede de saúde municipal, na Secretária Especial de Saúde Indígena, na Polícia Civil e na Polícia Militar, não teve nenhuma informação de pessoa baleada na aldeia, além disso, todos foram categóricos ao afirmar que não tinham ouvido bem boatos acerca do tema”, finaliza o relatório.
Conflito em Douradina
No caso de Douradina, o MPF (Ministério Público Federal) confirmou ontem (15) que dois indígenas foram feridos na Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica. Um homem de 44 anos foi atingido por munição letal na coxa esquerda, e Celia Jorge, idosa, cuja idade não foi divulgada.
“Os proprietários rurais teriam se unido e formado um comboio com várias caminhonetes para realizar a reintegração de posse, portando fogos de artifícios e armas de munições letais e não-letais, o que teria resultado nos ferimentos que foram verificados pelo MPF”, informou o MPF em nota.
Investigações em andamento
Ainda em nota desta segunda-feira (16), o MPF informou que irá instaurar um Procedimento Investigatório Criminal para apurar as eventuais infrações penais em Douradina e Caarapó.
Na noite de domingo (14), um grupo de indígenas foi atacado na Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica e conflito com fazendeiros acontece no local desde então.
Já a Polícia Civil de Douradina abriu uma investigação sobre o ataque ocorrido, que está sendo tratado como tentativa de esbulho possessório. Segundo o delegado Gustavo Mucci, a Polícia Militar foi até o local e ninguém foi detido na ocasião.
Acionada pelo Jornal Midiamax, a Polícia Federal informou que deu início a fase investigatória para o esclarecimento dos fatos e que acompanha o conflito no local com a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e MPF.
Reivindicação vai além de terras em Douradina
Uma onda de violência acontece em MS. Alvo da retomada desde a tarde de domingo (14), a Terra Indígena Panambi – Lagoa Rica é oficialmente reconhecida, identificada e delimitada com 12,1 mil hectares desde 2011. Seu processo de demarcação, contudo, está paralisado por conta de medidas que tentam instituir a tese do Marco Temporal.
Segundo nota da Aty Guasu, em represália à retomada, durante a tarde de domingo, os indígenas foram atacados por fazendeiros da região, que invadiram a comunidade em bando. Durante o ataque denunciado, no tekoha Guayrakamby”i, um indígena foi alvo de tiros, ficando ferido na perna.
As reivindicações dos indígenas em MS vão além da antiga busca pela retomada do território ancestral. A comunidade também objetiva a cessão da pulverização de agrotóxicos pelos produtores rurais que, segundo eles, são constantemente despejados há poucos metros das casas e nascentes da qual fazem o consumo da água.
“Após ouvir o relato da comunidade, o MPF se deslocou para a sede da propriedade rural apontada pelos indígenas como responsável pela organização do ataque e retirada. A Polícia Federal acompanhou o trabalho”, informou o MPF (Ministério Público Federal), que atua no local de conflito.
Conflitos acontecem em diferentes regiões do país
No total, foram seis atentados contra comunidades indígenas em menos de 48 horas em todo o Brasil. Além de MS, Paraná e Rio Grande do Sul também registraram casos.
Diante dos ocorridos em Douradina, os Guaranis e Kaiowás de Caarapó também retomaram uma área no domingo. Uma jovem foi atingida na perna e, até o final da tarde de domingo, encontrava-se no território, sem atendimento médico.
Este é o mesmo local que foi palco do conflito conhecido como ‘Massacre de Caarapó’. Na ocasião, o indígena Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza foi morto a tiros em 2016. Na época, homens armados e uniformizados, em dezenas de caminhonetes, invadiram o território e atiraram contra a comunidade, resultando na morte e ferimento de outras cinco pessoas.
Imagens divulgadas nas redes sociais também mostram um grupo de indígenas de Dourados se deslocando por uma estrada, com sacolas, familiares e animais de estimação, fugindo da perseguição.
*Matéria alterada às 18h18 na data da publicação, para acréscimo de informação.
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