Dengue 3, internações por SRAG e vacinação inédita movimentaram saúde de MS em 2024

Ações da Saúde marcaram ano de prevenção a doenças em Mato Grosso do Sul

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Vacina Q-denga (Foto: Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)

A poucos dias do apagar das luzes de 2024, devemos concordar que o ano que finda é, no mínimo, emblemático para a saúde em Mato Grosso do Sul.

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Doença nunca confirmada no estado foi registrada, tipo de dengue que não circulava em MS há 15 anos voltou, e números altíssimos de internados por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) lotaram hospitais públicos e particulares, resultando na falta de leitos, incluindo os neonatais.

Nesta reportagem especial de retrospectiva do Jornal Midiamax, você relembra não apenas as enfermidades que levaram os sul-mato-grossenses aos hospitais e unidades de saúde, deixando a população médica em alerta, mas também os avanços na escala de vacinação que, em sua maioria, superou as expectativas do Estado e Ministério da Saúde.

Vacinação contra a dengue

O ano de 2024 em Mato Grosso do Sul começou com um passo significativo no combate à dengue. No dia 3 de janeiro, o estado iniciou a vacinação em massa contra a doença. A primeira pessoa a receber a vacina foi Francisleine Costa, mãe do adolescente Julio Cesar da Costa, de 15 anos, que faleceu devido à dengue hemorrágica em fevereiro de 2023, em Dourados.

Em ação inédita no país, a cidade de Dourados recebeu cerca de 90 mil doses. A quantidade, conforme o gerente de Imunização da SES (Secretaria Estadual de Saúde), Frederico Moraes, era suficiente para atender toda a população de 4 a 60 anos.

“Dourados iniciou uma estratégia de vacinação própria por meio de um estudo com a Universidade Federal e o laboratório. O critério utilizado pelo Ministério da Saúde foi a série histórica em relação ao perfil epidemiológico daquela região de saúde”, explica.

Vacinas armazenadas (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Dúvidas que rondaram interessados nos imunizantes

O que muitas pessoas se perguntaram à época, é porque os outros municípios não receberiam quantidade suficiente para imunizar a população adulta também, já que desde o começo, apenas crianças de 10 a 14 anos podiam se vacinar.

Sobre isso, Frederico pontua que “a fabricante disponibilizou 6,5 milhões de doses para atender o país todo”. Por ser uma quantidade bem pequena, os órgãos de saúde dos estados precisaram se reunir para decidir quais regiões receberiam o imunizante. O que definiria isso, claro, seria a situação epidemiológica de cada lugar.

“A OMS recomenda a vacinação para a população idosa, que é de fato quem adoece e vem a óbito em relação à dengue, mas a vacina disponível no Brasil não está indicada para o idoso. Então, depois desse grupo, o mais vulnerável é o de adolescentes, por isso a escolha. Vale pontuar ainda que Mato Grosso do Sul é uma exceção e todos os municípios receberam a vacina”, explica.

Sobre a projeção para 2025, o gerente afirma que não há previsão de mudança da faixa etária atendida pelo imunizante. A proposta do Ministério da Saúde é vacinar todas as crianças entre 10 e 14 anos, para depois ampliar a faixa etária de maneira progressiva.

Frederico Moraes, gerente de Imunização da SES (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Dengue tipo 3 retoma após 15 anos

Quase que paralelo ao recebimento da vacina contra a dengue, ainda em janeiro começava uma preocupação sobre a possibilidade de disseminação do tipo 3 da dengue. Isso porque o sorotipo ressurgiu no Brasil em maio de 2023, após 15 anos inativo no Brasil. Por este motivo, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) anunciou um incentivo financeiro de R$ 4 milhões para custeio de ações de vigilância, prevenção e atenção à saúde nos 79 municípios do Estado.

Conforme a gerente técnica estadual de Doenças Endêmicas da SES, Jéssica Klener, Mato Grosso do Sul teve baixa notificação de casos confirmados de dengue em 2024 se comparado a outros estados brasileiros. No entanto, a grande preocupação foi a reintrodução da dengue tipo 3 no estado.

“Como não havia registros da dengue tipo 3 há 15 anos, muitas pessoas não tiveram contato com esse vírus. Então, pessoas com idade de 15 anos ou menos, caso tivessem contato, poderiam ter um agravamento do quadro de saúde”, explica.

O boletim epidemiológico da dengue mais recente, divulgado em 13 de dezembro, aponta que 11 casos de dengue tipo 3 foram confirmados em 2024. Os casos prováveis chegaram em 19.502. Desses, 16.131 foram confirmados e 32 óbitos registrados.

Gerente técnica estadual de Doenças Endêmicas da SES, Jéssica Klener (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Conclusão do projeto Wolbachia

No início de fevereiro, enquanto vivíamos em meio ao risco da volta do sorotipo 3 do vírus, a possibilidade de uma nova epidemia seguia no radar das autoridades de saúde. Tanto que, durante a cerimônia de posse da secretária de saúde da Sesau, Rosana Leite, foi firmado que o combate à dengue seria uma das prioridades em 2024.

Isso incluía o projeto Wolbachia, que consistiu na soltura do mosquito Aedes aegypti com uma bactéria que poderia fazer com que o transmissor não contraísse o vírus da dengue, zika, Chikungunya e febre amarela. No início de agosto ocorreu a conclusão da ação, com milhões de ‘wolbitos’ soltos em 74 bairros de Campo Grande.

O método, que segue em monitoramento, determinará se o ‘mosquito do bem’ foi eficaz na redução das doenças em Campo Grande. Comparando os dados de 2023 e 2024 nos casos confirmados de dengue, há a certeza de que o projeto é promissor para a Capital, assim como foi para Niterói, onde a pesquisa se provou eficiente.

Mosquitos com a bactéria Wolbachia (Foto: Divulgação PMCG)

Síndrome Respiratória Aguda Grave

O ano de 2024 também foi marcado pelos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). A alta de casos foi determinante para a superlotação das unidades de saúde e hospitais em todo o Estado.

O vírus, que atinge principalmente bebês recém-nascidos, consiste em síndromes gripais que evoluem com comprometimento da função respiratória e, geralmente, leva à hospitalização, sem outra causa específica. Inúmeros fatores podem desencadear a doença, dentre os quais predominam os vírus respiratórios da Influenza do tipo A e B, Vírus Sincicial Respiratório, SARS-COV-2, rinovírus, bactérias, fungos e outros agentes.

Em 26 de janeiro, a reportagem do Jornal Midiamax apurou que as internações e mortes por SRAG haviam crescido 72% em uma semana. Só nesse mês, 30 mortes foram registradas. Já em fevereiro, as SRAGs causadas pela Covid-19 aumentaram em Campo Grande, momento em que apenas 11% das crianças haviam completado o esquema vacinal contra a doença. Começaria, um mês depois, o período mais crítico do estado em relação à doença.

Gerente técnica de Influenza e Doenças Respiratórias, Livia Maziero (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Caos nas unidades de saúde

Em abril, os surtos de doenças respiratórias passaram a lotar as unidades de saúde, inclusive hospitais públicos e privados. Enquanto isso, apenas 14% da população campo-grandense havia tomado a vacina disponível em todas as unidades de saúde. Poucos dias após o aumento dos casos, SES e Sesau corriam contra o tempo para abrir mais leitos, já que 29 crianças aguardavam na fila por UTI. Para isso, declararam decreto de emergência.

Em maio, o cenário não foi diferente, com a necessidade de instituir um centro de operações. Nesse mês, o estado já superava 2 mil internações por doenças respiratórias e metade dos pacientes eram crianças de até 9 anos. Conforme o Ministério da Saúde, Mato Grosso do Sul possuía 1 leito em hospital para cada 600 pessoas.

Junho e julho seguiram alarmantes e os casos de SRAG só passaram a reduzir em agosto. Em setembro, uma nova crescente foi registrada, essa, relacionada a Covid-19. A situação voltou a estabilizar em outubro e novembro. Conforme os dados mais recentes divulgados em boletim epidemiológico, Mato Grosso do Sul registrou 7.848 casos e 731 óbitos por SRAG em 2024.

“Antes tínhamos uma sazonalidade mais bem definida, então sabíamos que haveria aumento nos casos de SRAG entre abril e julho, devido ao inverno. Mas desde a pandemia da Covid-19, essa sazonalidade já não é mais tão bem definida, e os casos são registrados de janeiro a janeiro desde 2020”, explica a gerente técnica de Influenza e Doenças Respiratórias, Livia Maziero.

Gráfico mostra quedas e aumentos nos casos de SRAG ao longo do ano (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Vacinação em meio ao surto de SRAG

Como já mencionado, mesmo em meio ao caos e superlotação nas unidades de saúde, uma parcela expressiva da população não havia sido imunizada contra a Covid-19 e Influenza.

Inclusive, Frederico Moraes pontua que as vacinações de campanha têm uma baixa procura e em 2024, nenhuma atingiu a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde. Apenas as vacinas de rotina tiveram grande adesão. Isso pode ser conferido clicando aqui.

“Não há falta de vacinas, o que nós temos é uma falta de adesão. Sabemos que as pessoas trabalham e muitas vezes não se vacinam, não porque não querem, mas porque quando saem, as unidades de saúde já estão fechadas. É por isso que realizamos os mutirões de vacinação, levando imunizantes para as escolas e shoppings, por exemplo”, explica.

Apesar dos esforços em levar imunizantes até às pessoas, a adesão é bem abaixo do esperado. Assim, a expectativa para 2025 é que a população se conscientize e busque as unidades de saúde com este propósito.

Pela 1ª vez, MS registrou caso de Febre Oropouche

Enquanto enfrentávamos um colapso na saúde devido aos casos de SRAG, outra doença sondava e preocupava o estado: a Febre Oropouche.

Em maio, 5 mil casos da doença foram confirmados em estados vizinhos, acendendo um alerta em Mato Grosso do Sul. A doença é uma arbovirose, semelhante à dengue e chikungunya, porém, causada pelo mosquito ‘maruim’ ou ‘mosquito-pólvora’.

Em 12 de junho, a primeira sul-mato-grossense testou positivo para a doença após voltar de uma viagem para a Bahia, estado que estava em alerta para os casos de Febre Oropouche na época. Em 14 de agosto, a primeira contaminação em Mato Grosso do Sul foi registrada no interior do estado.

Estado em alerta para a doença

Jéssica Klener relembra como foi o trabalho da secretaria quando as notificações em outros estados começaram a positivar para a doença. Conforme a gerente técnica, o Ministério da Saúde enviou diversos kits de testes aos laboratórios. Foi então que a SES passou a vigilância sobre os possíveis casos.

“Precisávamos ficar atentos principalmente aos casos de pacientes que diziam ter viajado para outros estados no Brasil que tinham casos da doença confirmados. Se os pacientes estavam com suspeita, fazíamos testes para dengue, chikungunya ou zika. Se testassem negativo para essas doenças, já fazíamos o da Febre Oropouche também, porque os sintomas são similares. Foi assim que confirmamos o primeiro caso autófono, que é o caso da mulher que estava na Bahia, primeiro caso importado”, relembra.

Apesar dos casos confirmados, desde novembro, Mato Grosso do Sul não registrou novos casos da doença. Ainda assim, a SES mantém o monitoramento, já que outros estados brasileiros seguem confirmando pacientes para a doença.

Covid-19 em queda em 2024

Apesar dos números oscilantes e picos ao longo do ano, a Covid-19 seguiu em declínio em 2024, parâmetro já observado em 2023. Neste ano, o número total de mortes pela doença foi de 129. Se compararmos com o ano passado, os dados apontam um alento, já que a queda foi de aproximadamente 37,07%.

Mesmo em queda, devemos ponderar que os dados não retratam números, mas sim vidas. 129 famílias perderam um ente querido para o vírus. Por isso, mantemos o alerta: a vacinação é a estratégia mais eficaz na prevenção de doenças infecciosas e desempenha papel fundamental na redução da morbidade e mortalidade em todo o país, além de ampliar a proteção coletiva por meio da imunização em massa.

No contexto da pandemia de Covid, a vacinação se torna ainda mais crucial, sendo a principal ferramenta para controlar a disseminação do vírus e mitigar os impactos da doença na população.

Em MS, a adesão ao esquema primário da vacinação é excelente. Todas as faixas etárias superaram a meta. No entanto, o reforço bivalente segue muito abaixo do esperado, principalmente entre idosos de 60 a 64 anos (31,4%).

Vacinação em Campo Grande (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Mpox se manteve no radar

Em 2024, outra doença se manteve no radar das secretarias de saúde: o Mpox, antes conhecido como a ‘varíola dos macacos’. É que logo em fevereiro, dois sul-mato-grossenses testaram positivo para a doença, já considerada controlada no estado.

Embora estável, a preocupação girava em torno da não reposição contínua da vacina contra a doença, e a não ampliação das faixas etárias que poderiam se imunizar. Neste mesmo período, a OMS declarava o Mpox uma emergência de saúde pública de interesse internacional.

Em 2024, 12 casos foram confirmados, número bem abaixo dos 72 registrados em 2023.

Aumento expressivo de casos de Hepatite A

Em setembro, Campo Grande registrou o primeiro caso de Hepatite A após 5 anos sem confirmações. Em um mês, a capital apresentou um aumento exponencial nos casos, chegando a aumentar em 31% em uma semana.

Esse crescimento acendeu o alerta entre as autoridades de saúde, uma vez que, em 2023, não houve registro de casos. Por isso, a Sesau, em diálogo com o Ministério da Saúde, emitiu um alerta para a população. Todas as pessoas com sintomas, ou que haviam mantido contato com alguém infectado, foram procurados para orientação.

Após dois meses de alta, os casos desaceleraram, saindo de 35 casos em novembro, para 5 em dezembro. Conforme a Ses, Mato Grosso do Sul registrou 139 casos da doença. 141 são de Campo Grande, acrescenta a Sesau.

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