Gaúchos que estão em Campo Grande para as celebrações da tradições gaúchas na FenaSul vivem momentos de angústia e impotência diante da tragédia vivida e relatada por familiares que estão no Rio Grande do Sul.

O sentimento é de tristeza. A feirante Regina Schneider, de 62 anos, conta ao Jornal Midiamax que o filho pegou uma caminhonete e passou a ajudar a resgatar pessoas e animais abandonados.

“As pessoas choravam, agarraram nele dizendo: ‘O que vou fazer agora sem comida, sem roupa e sem nada?’ É muito triste”, relata, angustiada. “Eu me sinto aqui atada. Se eu estivesse lá, eu com certeza estaria ajudando”, afirma enquanto mostra a foto do filho, Tcharles Schneider, de 38 anos.

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Tcharles mantém Regina informada (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

O sentimento é compartilhado com a feirante Regina Veríssimo, de 62, que compartilha os horrores vistos pelos familiares no RS. “Muito triste, muito triste mesmo porque a gente está aqui, está de mãos atadas, né? Não pode fazer nada”, diz.

Caos tomou o Rio Grande do Sul

Regina conta que a neta está ajudando nos resgates de pessoas e também distribui lanches para levar aos desabrigados. “Minha neta entrou em pânico porque ela viu muita coisa ruim, muita coisa feia. Eram crianças afogadas, corpos de muita gente. Tá muito triste. Eles conseguiram barcos, trator, de tudo que é jeito eles saíam pra fazer o resgate”, relata a feirante, em Campo Grande.

“O meu filho pegou uma criança morta de meses. Um homem chegou pra ele e disse: ‘Pega a minha boneca’. Quando ele virou era uma criança morta de meses. Então tu imagina. É muito triste”, conta.

As tragédias das chuvas no Rio Grande do Sul já provocaram 95 mortes até agora, sendo que quatro casos estão em avaliação. O governador Eduardo Leite confirmou que 131 pessoas estão desaparecidas. Pelo menos, 401 cidades foram afetadas, o que representa 80,6% do total de 497 cidades gaúchas. 

Já o filho de Regina teve o barco assaltado próximo da Arena do Grêmio, em Porto Alegre, e por isso ficou até sem celular. “Levaram todo o mantimento que tinha. Agora eles estão saindo para resgate com escolta da polícia”, diz ela, que tem familiares na capital gaúcha.

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Regina soube de horrores vividos pela população no Rio Grande do Sul (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Trancados ‘fora de casa’

“Não tem nem como te explicar o que a gente sente aqui né. Porque a gente está longe e não tem como voltar também. O aeroporto está trancado e a gente está aqui trabalhando. Então, o sentimento de impotência total não tem nem explicação. Pedi pra não me mandarem as imagens pelo celular porque se não eu vou entrar em desespero”, lamenta ao Jornal Midiamax.

Entretanto, a feirante conta que só deve retornar para casa daqui a quatro meses, em agosto, por conta dos compromissos com as feiras. No roteiro ainda estão Rondonópolis, Brasília e Cuiabá. “Meus filhos até dizem pra mim: ‘mãe, graças a Deus que tu não está aqui, porque se você tivesse acho que tinha infartado'”, lembra Regina.

Em entrevista à imprensa nesta terça-feira (7), Eduardo Leite classificou a situação de “catástrofe”. Além disso, 48.799 pessoas deixaram suas casas e estão em abrigos.

No entanto, o governo contabiliza um total de 159.036 cidadãos na condição de desalojados. O desastre deixou, até o momento, 1,4 milhão de pessoas afetadas pelo desastre. O Rio Grande do Sul tem 10,8 milhões de habitantes, segundo o censo de 2022 do IBGE.

“O tamanho da crise no Rio Grande do Sul é o que especialmente torna essa situação difícil de tratarmos. Praticamente todo o estado está atingido de alguma forma”, lamentou o governador. Ele disse que os números estão se elevando a cada dia, mas que os dados podem estar “imprecisos”. 

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Rio Grande do Sul sofre com os alagamentos (Gustavo Mansur, Palácio Piratini)

Tragédia sem precedentes

O feirante Antenor Junior, 54 anos, conta que a última fez que o Rio Grande do Sul passou por uma enchente parecida foi em 1941, 30 anos antes dele nascer. Ele tem três filhas, um filho e um neto no RS.

“Eu e minha esposa, a gente veio de carro… A gente chegou aqui na quinta-feira à noite e começamos a tomar sentido do que estava acontecendo”, relembra.

“O epicentro de Canoas fica mais ou menos dois quilômetros da residência da minha filha, ou seja, para nós, foi um caos viver esse momento, a gente aqui sem possibilidade de ajudar, de fazer alguma coisa por elas. Eu falo com o pessoal que está aqui na FenaSul, que o corpo está aqui, mas desde sexta-feira à noite a cabeça tá lá”, diz.

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Gaúchos em Campo Grande acompanham tudo pelo celular (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Doações para o Rio Grande do Sul

A FenaSul é um dos pontos de doações para o povo do Rio Grande do Sul. Para doar, basta ir até o Círculo Militar, na Avenida Afonso Pena, a partir da 9h.

Segundo os organizadores, tudo é bem-vindo. “A minha filha disse que está faltando ainda muita chupeta, mamadeira, lenço umedecido e fralda descartável. A gente sabe que está chegando doação do mundo todo. Mas em alguns pontos, a gente sabe a dificuldade que está para chegar. Tu não tem acesso a todos os abrigos. E o que ela foi visitar, estavam com falta disso”, cita Antenor.

Outros itens, como materiais de higiene, roupas, comida e água potável são de extrema importância. “Se possível, um brinquedinho para as crianças”, acrescenta.

A campo-grandense Zilda de Jesus, de 78 anos, foi uma das que foi até a FenaSul doar. “Meu filho, o que a gente puder fazer pelo povo do Sul a gente tem que fazer. São nossos irmãos que estão passando uma dificuldade dessas. Nós não devemos medir esforços para ajudar”, diz ao Jornal Midiamax.

Jornal Midiamax mantém atualizada uma relação com diversos pontos de coleta de donativos na Capital de Mato Grosso do Sul e instituições que estão recebendo doações via Pix. LISTA: Confira os novos pontos de doações em Campo Grande para famílias do RS.

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Doações na FenaSul (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)