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Cotidiano

Com previsão de seca histórica no Pantanal, população pode enfrentar falta d’água, aponta agência

Bacia do Rio Paraguai pode ter terceira declaração do país para situação de escassez hídrica crítica
Priscilla Peres -
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Régua de medição de Ladário (Foto: Juliana Arini/Ecoa)

A seca que atinge a bacia do Rio Paraguai em Mato Grosso do Sul e que já afeta a navegação, pode impactar também o fornecimento de água potável para a população do Estado. Além disso, há risco da região ter declaração de situação de escassez hídrica crítica pela ANA (Agência Nacional das Águas), a terceira do país.

O baixo nível do Rio Paraguai e de seus afluentes pode comprometer a captação e abastecimento de água em Corumbá e Porto Murtinho, onde a situação de estiagem é mais crítica. Caso a ANA decida por declarar situação de escassez hídrica crítica na região, a empresa de saneamento estadual, a Sanesul, fica autorizada a criar tarifas de contingência para medidas emergenciais.

As situações foram abordadas na primeira reunião da Sala de Crise da BAP (Bacia do Alto Paraguai), que reúne entidades nacionais e regionais e é coordenada pela ANA. A agência nacional elaborou uma nota técnica recomendando a declaração de situação crítica de escassez hídrica quantitativa, até outubro na bacia do Paraguai.

Na reunião, o superintendente da ANA, Patrick Tadeu Thomas, explicou que desde 2020 a agência tem a atribuição de avaliar situações de escassez hídrica e desde então foram feitas duas declarações no país sobre a situação. O Pantanal caminha para ter a terceira declaração do país.

“Esse documento de escassez crítica hídrica, praticado pela primeira vez em 2021 na bacia do Paraná, em 2023 foi a segunda declaração no rio Madeira. Diante do quadro que vivemos na região hidrográfica do Paraguai, equipe técnica da ANA elaborou uma nota técnica recomendando para a diretoria a declaração de situação crítica de escassez hídrica na bacia do Paraguai”, afirma o superintendente da ANA.

Sanesul afirma que monitora a situação

Questionados sobre a situação do nível dos rios e uma possível falta d’água em cidades de Mato Grosso do Sul, a Sanesul afirma que desde o mês de fevereiro deste ano, um grupo de trabalho técnico acompanha a realização de ações de maneira preventiva nas captações do Rio Paraguai, nos municípios de Porto Murtinho, Ladário, Corumbá e no distrito de Porto Esperança.

Considerando as previsões climáticas realizadas pelos órgãos competentes, que apontam baixo volume de chuvas e as altas temperaturas, este grupo faz o monitoramento constante da região, a fim de identificar possíveis fragilidades no sistema de abastecimento de água nessas localidades.

Uma das ações é o trabalho de combate às perdas no sistema de distribuição de água tratada, principalmente na cidade de Corumbá. Isso é possível por meio do gerenciamento de pressões, controle de vazamentos não visíveis, agilidade nos reparos da rede e investimento na infraestrutura.

Até o momento, não há comprometimento no abastecimento. Devido às medidas preventivas adotas, todos os sistemas de abastecimento da empresa estão funcionando normalmente. Porém, a equipe se mantém em alerta para eventuais mudanças que possam acontecer.  

Além de monitorar a situação da bacia do Rio Paraguai bem de perto, a empresa trabalha na conscientização, pedindo o apoio da população para que faça o uso racional da água, evitando o desperdício sempre. 

Pior seca em 60 anos

O Pantanal caminha para ter a pior seca histórica, pior que a de 1964. A situação é consequência de uma união de fenômenos, como o baixo nível de chuvas no período chuvoso deste ano, as temperaturas muito acima da média e a baixa perspectiva de chuva.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, as bacias do Rio Paraguai têm registrado chuvas significativamente abaixo da média, ao longo da estação chuvosa. Até março, o déficit hídrico acumulado na bacia, somava 276 mm em média, considerando a chuva esperada no período de 938 mm e registrada de 662 mm.

Nível dos rios da bacia do Paraguai (Foto: Reprodução/ Serviço Geológico do Brasil)

As chuvas de abril amenizaram em apenas 20 mm o déficit hídrico da bacia. Além disso, é improvável que chova acima da média no próximo trimestre e mesmo que ocorram precipitações dentro da média, entre abril e setembro, 2024 será um ano mais seco que em 2020, podendo ser pior que 1964.

O baixo nível do rio já afeta a navegação do Rio Paraguai, principalmente na hidrovia para exportação de minério. Além disso, deve impactar na geração de energia em centrais hidrelétricas, além do turismo, lazer e pesca.

MS tem 95% do território em escassez hídrica

Durante a primeira reunião da Sala de Crise da BAP (Bacia do Alto Paraguai), entidades destacaram dados que comprovam a situação crítica de escassez no Pantanal. Técnico do Cemaden, Marcelo Seluchi, mostra que Mato Grosso do Sul e também Mato Grosso já estão em situação de seca.

A maioria das propriedades rurais do Estado enfrenta seca entre severa e moderada, e apenas 5% do território sul-mato-grossense não enfrenta escassez hídrica. O problema se agrava devido às altas temperaturas que fazem nos últimos dias e tendem a continuar pelas próximas semanas, pressionando ainda mais os recursos hídricos e a saúde da vegetação e podendo levar a um ambiente propício à propagação de incêndios.

Previsão de seca na bacia do rio Paraguai (Foto: Reprodução/Cemaden)

Para o trimestre que começou (maio, junho e julho) está previsto um recuo da influência do fenômeno El Niño sobre o clima e, a partir do próximo mês, quem passa a ditar as regras do tempo é outro fenômeno também oriundo das águas do Oceano Pacífico: o La Niña. Não há previsão de melhora na distribuição de chuvas, ou seja, a situação de seca deve se prolongar. O que está previsto ocorrer é uma queda brusca das temperaturas com a chegada do Inverno sob efeito do La Niña. (Com informações da Semadesc)

Mato Grosso do Sul em emergência ambiental

Em 10 de abril, o Governo de Mato Grosso do Sul publicou o decreto n° 25 que declara estado de emergência ambiental em todo o Estado, por 180 dias, devido às condições climáticas que favorecem a propagação de focos de incêndio sem controle. Entre as ações, estabelece as queimas prescritas.

Conforme o decreto, cabe ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) disciplinar o licenciamento da atividade de queima controlada. E a queima prescrita deve seguir as rotinas estabelecidas no Comunicado CICOE nº 01 de 15 de junho de 2022, do Centro Integrado de Coordenação Estadual.

Com relação a áreas identificadas com acúmulo de biomassa, com alto poder de combustão, identificadas pelo Sifau (Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas), o Estado poderá prescrever e autorizar a realização de queimas controladas ou de queimas prescritas, mesmo durante a vigência deste Decreto e auxiliar a realização de queimas prescritas em áreas particulares.

Também está prevista a realização de aceiros com até 50 metros de largura de cada lado de cercas de divisa de propriedade. O decreto também dispensa o Governo de licitação para a contratação de itens e serviços pertinentes a queimadas.

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