Corre-corre, abraços afetuosos e brincadeiras lado a lado fazem das crianças o que elas são, mas um inimigo quase invisível está à espreita e se multiplicando nesses dias de altas temperaturas em Campo Grande: o piolho.

O que muita gente pode não saber é que o calorão que tem feito há cerca de 10 dias em Campo Grande, por conta da onda de calor, é ideal para a rápida proliferação dos piolhos. E com as crianças lado a lado nas salas de aulas e, às vezes, juntas em atividades e brincadeiras, conter a multiplicação deles pode ser uma tarefa difícil.

Por isso, escolas de Campo Grande têm emitido alertas aos pais e responsáveis para que ‘vasculhem’ a cabeça das crianças. A direção de uma das unidades chegou a ser notificada, pois piolhos e lêndeas foram encontrados na cabeça de alunos.

piolho
Comunicado enviado pelas escolas (Fala Povo, Jornal Midiamax)

“Solicitamos que verifiquem com frequência a cabeça de seu filho/ sua filha para que possamos evitar a proliferação deste parasita entre as crianças”, diz o comunicado. O alerta de outra escola não cita casos internos, mas deixa o aviso ao responsáveis.

“O período em que estamos, infelizmente, colabora muito para a aparição dos mesmos. Sendo assim, pedimos que averígue a cabecinha do (a) seu (sua) filho (a) para que não ocorra nenhuma visita indesejada”, traz o aviso.

A Sesau (Secretaria Municipal de Educação) explica que as unidades públicas de Campo Grande orientam por meio de bilhetes, recados ou mensagens sobre a higiene dos alunos.

“[…] por meio de bilhetes, recados e por mensagem através dos canais de comunicação entre escola e pais/responsáveis, para que a higiene pessoal do aluno seja mantida e com isso, o cabelo seja sempre olhado para evitar a proliferação de piolhos”, ressalta.

A SED (Secretaria de Estado de Educação) também foi questionada sobre as ações em caso de proliferação, mas até esta publicação não houve retorno. O espaço segue aberto.

Como prevenir e tratar o piolho?

Segundo a pediatra Amanda Coutinho, o tratamento é feito lavando o cabelo com shampoos especializados e aplicação de loções para pediculose. Em casos mais graves pode ser necessária medicação oral, mas prescrita por dermatologista.

Ela ressalta que o tratamento deve se estender a familiares além da criança que tem o parasita. “O tratamento de escolha é a permetrina emulsão ou loção 1%, que pode ser utilizada a partir dos dois meses de idade. Medicamentos via oral são reservados para casos que não respondem ao tratamento tópico”, explica ao Jornal Midiamax.

Aliada à lavagem dos cabelos, é importante remover totalmente os piolhos e lêndeas com pente-fino ou manualmente, já que os medicamentos não matam os ovos do parasita. Não é necessário cortar o cabelo e nem se afastar da escola.

A profissional ressalta que o tratamento deve se estender a familiares além da criança que tem o parasita e complementado com outras práticas. “Lavar com água quente (acima de 50°C) as roupas e utensílios pessoais de tecido usados nas últimas 48 horas e secar em máquinas nas configurações mais altas de calor”, diz à reportagem.

Prevenção

Amanda ressalta que não há medicação preventiva, como repelentes. “Cuidado com fórmulas caseiras, pois podem causar intoxicação e lesões”, diz a profissional.

As melhores formas de prevenção são:

  • Evitar o compartilhamento de roupas, toalhas, acessórios de cabelo, chapéus e outros objetos de uso pessoal.
  • Evitar contato direto com cabelos de pessoas infestadas (‘cabeça com cabeça’).
  • Manter pentes e escovas de cabelos contaminados submersos em água quente por 10 minutos para matar os piolhos presentes nesses utensílios.

Proliferação de piolhos

O biólogo Júlio Vianna Barbosa, pesquisador do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) esclarece que a infestação de piolhos na cabeça é chamada de pediculose.

A intensa coceira no couro cabeludo e presença do piolho ou as lêndeas (ovo de piolho) estão entre os sintomas da pediculose. Elas aparecem como pequenos pontos esbranquiçados grudados nos fios de cabelo.

“A coceira é o primeiro sintoma da manifestação da pediculose e acontece devido à reação do corpo à alimentação do piolho. Para conseguir se alimentar do nosso sangue, o piolho utiliza duas substâncias presentes em sua saliva”, explica.

O profissional explica que ao encontrar um vaso sanguíneo, o inseto injeta saliva naquele local. Uma enzima anestésica impede que a pessoa sinta dor no momento em que a boca do inseto penetra no couro cabeludo.

Entretanto, outra enzima entra em ação com função anticoagulante para evitar que o sangue coagule no intestino do piolho durante a alimentação.

“A combinação destas substâncias promove uma reação do corpo humano, manifestando-se na forma de coceira intensa, um incômodo que geralmente começa atrás da orelha ou na região da nuca. Outro sintoma que pode se manifestar especialmente em crianças, dependendo da quantidade de piolhos, é o desenvolvimento de anemia”, ressalta Júlio.