Com calor de quase 40 graus, aldeias de Dourados seguem sem abastecimento de água
Solução para problema crônico esbarra em projeto orçado em R$ 44 milhões que não sai do papel
Marcos Morandi –
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Se na cidade o calor tem provocado reclamações dos moradores, a situação nas aldeias é ainda pior. Além das altas temperaturas, as aldeias Bororó e Jaguapiru seguem com os dramas resultantes da falta de água que atravessam décadas e parecem estar longe de ser resolvidos.
De acordo com relatos de moradores e lideranças indígenas, a situação está cada vez mais ‘insuportável’. Sem um programa de saneamento capaz de solucionar o problema, que já é considerado crônico, com o calor as mazelas da Reserva Indígena Federal ficam ainda mais visíveis.
“Não sei onde iremos parar com esse descaso que afeta as nossas comunidades. Todo dia eu acordo sem saber se teremos água pra beber, cozinhar e tomar banho. Hoje mesmo vamos ter que cortar o banho”, disse uma moradora da Aldeia Jaguapiru à reportagem do Jornal Midiamax. Enquanto ela relatava o dilema diário, os termômetros marcavam 35,2 graus.
Ainda segundo a indígena, quem mais sofre são as crianças, que precisam tomar banho para ir à escola. “Estamos cansados de ficar esperando os caminhões-pipas que muitas vezes demoram para chegar aqui”, comenta a moradora.
“Já pedimos água até para Jesus e não sabemos mais o que fazer”, reitera o capitão da Jaguapiru, a mais populosa das aldeias, Ramão Fernandes. Segundo ele, o drama dessas comunidades com a falta de água só vai ser resolvido com a construção de um superpoço.
A prática de pedir ajuda a Deus tem sido frequente nas comunidades. Outro exemplo é o de uma moradora da Bororó que também não tem água encanada em casa. “Rezo todos os dias para que Deus mande chuva, pelos menos dá pra encher algumas vasilhas”, conta a indígena que tem três filhos.
‘Cadê esse tal projeto?’
“É sempre assim. Ninguém assume a responsabilidade por esse sofrimento que estamos passando. Todas as vezes, as autoridades falam que existe um projeto para resolver a nossa situação. E cadê esse tal projeto. Se existe está engavetado”, reclama Ramão.
“Continuamos sem caixas suficientes para fazer o armazenamento”, explica Ramão, que já conversou com a coordenação do Dsei-MS (Distrito Sanitário Especial Indígena). A falta de água também afeta moradores das retomadas (acampamentos indígenas) que ficam no entorno da Reserva.
A reportagem do Jornal Midiamax entrou em contato com a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) de Dourados e também com a Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul) para falar a respeito da reclamação dos moradores das aldeias.
De acordo com a coordenadora da Funai em Dourados, Teodora de Souza Guarani, o órgão tem acompanhado de perto o drama das comunidades indígenas de Dourados. “Temos tomado todas as providências possíveis, mas o negócio emperra no projeto que a Sanesul está elaborando”.
‘Coisas não resolvidas’
Segundo ela, o governador tem que decidir quem vai arcar com a manutenção, cobrança e gerenciamento. “As coisas ainda não estão resolvidas e por isso estamos conversando a respeito da realização de audiências públicas nas aldeias”, ressalta Teodora.
Por outro lado, a Sanesul, que é responsável pelo abastecimento de água na maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul, explica que embora a competência em relação às aldeias seja do Governo Federal, a concessionária participa do Grupo de Trabalho que busca soluções para o problema.
Em junho do ano passado, a empresa coordenou uma reunião para tratar do assunto. Nela foram discutidas algumas soluções, entre elas a construção de um superpoço na reserva Indígena Federal que pode resolver de vez a situação. Na época, a proposta estava orçada em R$ 34 milhões.
Passados quase 8 meses, o projeto ainda não foi viabilizado. À reportagem do Jornal Midiamax, o diretor da Sanesul em Dourados, Madson Roberto Pereira Valente, explicou que a proposta agora deve custar em torno de R$ 44 milhões.
“O projeto está cadastrado no PAC (Programa de Aceleração Continuada) do Governo Federal. Estamos aguardando avaliação técnica da Caixa Econômica”, ressalta Valente, em referência aos estudos realizados nas aldeias Bororó e Jaguapiru.
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