Um terço das mortes de indígenas em conflitos no campo foi em MS, aponta Pastoral da Terra

Relatório da Comissão Pastoral da Terra, sobre 2022, aponta que Estado registrou 6 das 18 mortes de indígenas durante conflitos no campo

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
indígena
Moradores da Aldeia Amambai, durante sepultamento de indígena (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

Mato Grosso do Sul registrou um terço das mortes de indígenas do país durante os conflitos no campo no ano passado. Os dados foram apresentados no relatório da CPT (Comissão Pastoral da Terra) sobre as violências ocorridas no Brasil em 2022.

O documento indica que as terras sul-mato-grossenses registraram seis das 18 mortes de indígenas do Brasil e destaca os casos de retomada dos indígenas Guarani-Kaiowá. Seis pessoas foram mortas entre maio e dezembro do ano passado. 

O número posiciona o Estado de Mato Grosso do Sul em terceiro do país que mais registrou assassinatos decorrentes de conflitos no campo. A morte de indígenas no país representa 38% do total de óbitos em violências no campo, que totalizaram 47 pessoas assassinadas em 2022. 

Os demais foram de Sem Terra (9), com 19%; Ambientalistas (3); Assentados (3) e Trabalhadores Assalariados (3), os três com 7%. 

Violência contra indígenas em MS

Em Mato Grosso do Sul, o relatório destaca as mortes durante a retomada da Tekoha Guapoy, no interior da Reserva Indígena de Amambai: 

Vitorino foi uma liderança assassinada no centro de Amambai. Porém, ele já tinha sobrevivido a outra investida similar enquanto dirigia pela estrada que dá acesso ao Tekoha.

Inclusive, a CPT reforça que os registros de assassinatos geralmente são antecedidos por ameaças ou tentativas de mortes.

“Os assassinatos nunca ocorrem sozinhos, muitas das vezes são antecedidos ou sucedidos de outras violências contra a pessoa. Nesse sentido, dos 29 territórios com assassinatos no ano de 2022, 59% (ou 17 desses territórios) sofreram também alguma tentativa de assassinato entre 2016 a 2022, e 52% tem pelo menos uma ameaça de morte registrada no mesmo período”, relata o documento. 

Com o objetivo de relatar a LGBTFobia, a CPT também faz um recorte de orientação sexual e de gênero das vítimas de violência no campo. Em novembro do ano passado, Mato Grosso do Sul registrou a morte, aos 16 anos, do jovem indígena Guarani-Kaiowá, Cleijomar Rodrigues Vasques. Então, essa morte se junta às outras cinco pessoas LGBTQIA+ mortas em 2021 durante conflitos no campo.

Conforme a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Cleijomar foi morto com vários golpes na cabeça na Comunidade Indígena Limão Verde, em Amambai. Segundo a organização, a motivação da morte estava ligada ao ódio à orientação sexual do jovem, que era assumidamente gay.

Resgate de pessoas em situações de escravidão

Além das mortes no campo, Mato Grosso do Sul ficou em quinto lugar entre os estados com mais pessoas resgatadas em situação análoga à escravidão em 2022. 

O ano passado registrou o maior número de resgatados em todo Brasil da última década. Foram 207 casos de trabalho análogo à escravidão no meio rural e 2.218 pessoas que foram retiradas de serviços em condições subumanas. São 29% a mais de pessoas resgatadas e alta de 32% de casos na comparação com 2021.

Mato Grosso do Sul ficou em quinto lugar no ranking entre os estados, com 10 casos e 116 pessoas resgatadas. Minas Gerais lidera com 62 registros e 984 trabalhadores encontrados nesses locais. 

O relatório aponta que o agronegócio e as empresas de monocultivos são grandes promotores da exploração do trabalho, com 90% dos casos em áreas rurais. 

Em 62% dos casos, as pessoas trabalhavam em monoculturas, como no caso da cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul. O Estado também registrou ocorrências em monocultivos de árvores.

Conteúdos relacionados