Sem Morada, acervo com mais de 100 itens da família Baís não tem lugar para ser exposto

Apesar de acervo não estar exposto, mais de 100 obras e 90 objetos pessoais da família Baís estão salvaguardados no Marco e no Sesc Cultura

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Lídia Baís
(Foto: Reprodução/FCMS)

A Morada dos Baís é um dos principais pontos turísticos e históricos de Campo Grande. Aberta à população por muitos anos, espaço está completamente fechado desde a saída dos artesãos, no último domingo (19). Tendo em vista que local abrigava todo o acervo da família Baís, uma das precursoras da Capital, seu fechamento resultou na transferência dessas peças para outros locais. Atualmente, mais de 100 obras de Lídia Baís e 90 objetos estão salvaguardados no Sesc Cultura e no Marco (Museu de Arte Contemporânea de MS).

Segundo informações da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), 101 obras foram doadas à Fundação, são tombadas e estão salvaguardadas na Reserva Técnica do Museu de Arte Contemporânea de MS. “A grande maioria das obras é em 2D, telas e desenhos. Há duas pequenas esculturas”, diz.

Enquanto isso, o acervo de obras e peças de Lídia Baís adquiridos pelo Sesc-MS é composto por mais de 10 obras de arte, quadros feitos com técnicas de óleo sobre tela, pastel seco sobre papel, dentre outras técnicas da artista. Além disso, mais de 90 peças pessoais da própria Lídia e da família também estão no Sesc Cultura.

“O acervo está armazenado em local seguro, inclusive com curadoria constante que averígua condições de climatização, iluminação, fundamentais para a conservação”, informa.

Obras não estão expostas

Quem visitou a Morada dos Baís na época em que museu estava aberto consegue recordar da viagem no tempo em que o visitante era submetido ao ter contato com os objetos e obras da família. No entanto, todo o acervo foi retirado do local enquanto o mesmo permanece de portas fechadas. Lá, as únicas artes que ficaram ‘em casa’ foram as pinturas na parede feitas por Lídia.

Enquanto isso, demais obras não estão expostas ao público por enquanto. Conforme o Marco, com as visitações temporariamente suspensas por causa de obras, o acervo da família Baís pode ser exposto com a retomada das atividades.

Além disso, FCMS ainda planeja ações culturais para esse ano. “Devido à mudança de Governo, consequentemente Gerência de Patrimônio Histórico e Cultural da FCMS e Coordenação do Museu, as ações para 2023 ainda estão sendo programadas”, informou.

Obra de Lídia Baís
(Foto: Reprodução/FCMS)

No Sesc, pinturas e objetos só estarão disponíveis para visitação quando houver espaço e local adequado para isso, tanto para exposição quanto para recebimento do público, informou a instituição.

Questionada se o acervo poderia voltar a ser exposto de volta na Morada, por meio de possíveis parcerias com a prefeitura, a instituição informou que “após a entrega do Sesc Morada não houve oportunidade de conversa alguma sobre uma exposição do acervo da Lídia Baís com instituição, seja ela pública ou privada, sobre parcerias”.

Obras foram transferidas em 2022

Em fevereiro de 2022, a FCMS anunciou que as obras de Lídia abrigadas na Morada dos Baís passaram por processo de higienização para poderem ser transportadas. Parte do acervo foi para o Marco e outra para o MIS-MS na época.

Conforme anúncio divulgado, as obras voltariam para o casarão quando a reforma fosse terminada. No entanto, terminado restauro, obras não têm previsão de serem transferidas de volta e seguem guardadas nos respectivos locais citados na reportagem.

Segundo a coordenadora do Marco, Lúcia Monte Serrat, as obras sofreram um processo de exposição ao calor, frio, e a temperatura e condições de umidade a que estavam expostas não eram adequadas para sua conservação, o que gerou uma deterioração das peças.

“Esta obra do autorretrato, por exemplo, está craquelando no rosto, cabelo, centro, ao redor das fores, e tem manchas de contato no centro inferior. Ela foi restaurada pela Áurea Katsuren, mas necessitaria de um novo restauro”, disse na época à equipe da FCMS, que registrou o trabalho de conservação.

Morada dos Baís fechada

Localizado na principal avenida de Campo Grande, o casarão amarelo já foi palco de bandas culturais, manifestações artísticas, de encontros culinários e preservava acervo histórico da família Baís. No entanto, espaço passou por empecilhos desde a retomada da gestão da prefeitura e, desde a saída dos artesãos, o casarão está completamente fechado na Capital.

Espaço, que possui importante peso histórico e cultural para a cidade, foi encontrado em situação de abandono pela equipe do Jornal Midiamax, com acúmulo de lixo e avarias na fachada. Em 2021, foram realizadas obras no valor de R$ 240.000,00 para pintura e manutenções para entrega da Morada à prefeitura.

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Morada dos Baís (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Casa da Memória Lídia Baís

Foram feitos levantamentos em mais de 10 peças de teatro e encenações desde 1999, bem como matérias jornalísticas, documentários, livros, artigos acadêmicos, monografias, teses e dissertações. Todo esse escopo foi utilizado para organizar a exposição e o percurso de visitação da Casa da Memória.

Contudo, nem sempre o cenário era esse. Maria Rosana Rodrigues Pinto Gama, professora de história e pesquisadora, conhece de perto a história da família Baís. Isso porque ela participou de pesquisa para subsidiar a instalação da Casa da Memória Lídia Baís na antiga Unidade Sesc Morada dos Baís.

“A Lídia Baís desperta desde a década de 80 um enorme interesse em torno de sua vida e obra. É uma personalidade muito presente na memória campo-grandense. Ela é reconhecida como pioneira das artes plásticas”, ressalta a professora.

Para ela, o acervo deveria voltar para Morada pelo local ser patrimônio da arte, da cultura e memória campo-grandense.

“Aquele prédio pertence ao imaginário da cidade, como Morada dos Baís, como Casa da Memória Lídia Baís”, pontua.

Retorno é urgente

Na opinião da pesquisadora, a abertura da Morada dos Baís, e o retorno da Casa da Memória Lídia Baís, é urgente e necessário.

“São objetos pessoais, telas, instrumentos musicais, inclusive um piano que era dela que contam a história da cidade, as marcas de um tempo vivido, as transformações. O cuidado com os bens históricos, o incentivo à preservação, a valorização do patrimônio cultural da cidade são necessários e um direito da cidade”, afirma.

Vale ressaltar que o casarão amarelo foi construído entre os anos de 1913 e 1918 para abrigar a família do italiano Bernardo Franco Baís. O edifício foi o primeiro sobrado da Avenida Afonso Pena, o primeiro sobrado em alvenaria de tijolos e o segundo sobrado localizado na cidade.

Morada dos Baís
(Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Lídia Baís era filha de Bernardo. Uma das personalidades mais representativas das artes plásticas da Capital, ela morou no sobrado por muitos anos e lá deixou sua marca registrada com pinturas nas paredes internas da casa. Desenhos resistiram ao tempo e estão escondidos lá dentro.

“Funcionou como Pensão Pimentel na década de 40 e passou por um incêndio em 1947. O fogo destruiu todo o madeiramento de cobertura e o piso original do prédio. No final da década de 70 deixa de ser Pensão Pimentel e passa a ser utilizado para diversas atividades comerciais”, explica Maria.

Patrimônio histórico

A Morada dos Baís tornou-se Patrimônio Histórico de Campo Grande por meio do decreto de tombamento nº 5390, de 1986. Ainda segundo a pesquisadora, a instalação da Casa da Memória, em 2018, no centenário da Morada dos Baís, foi uma homenagem a todas as pessoas que se dedicam à preservação da cultura.

Afinal, já dizia Lídia Baís: “Por minha causa, vocês vão ficar na História”.

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