Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população de indígenas do Brasil e para preservação da cultura dos povos originários o Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, desenvolvido pelo Governo do Estado, visa entrega de materiais escolares didáticos produzidos na língua materna, com previsão de entrega no ano letivo de 2024.

O programa está ligado à Década Internacional das Línguas Indígenas, programada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que visa evitar a extinção da linguagem original da população. O Estado abriga 80 mil indígenas e oito etnias – guarani, kaiowá, terena, kadwéu, kinikinaw, atikun, ofaié e guató.

“Neste Plano Estadual das Línguas Indígenas, a gente está trabalhando em três frentes bem distintas. A primeira é para as três línguas em vias de extinção, com ação específica, que são kinikinau, ofaié e guató. A outra é com a Língua Terena de Sinais, que é a única língua indígena de sinais reconhecida no Brasil. E o Alfabetiza MS que envolve as quatro línguas mais faladas, terena, kadwéu, guarani e kaiowá”, explica Denise Silva, pós-doutora em Linguística, técnica da SED (Secretaria de Estado de Educação) e a representante da Unesco no Estado.

Acessibilidade

Conforme o Governo do Estado, como parte das ações desenvolvidas em relação à Língua Terena de Sinais, a SED realiza nesta terça-feira (18) em , o primeiro encontro de indígenas surdos, da etnia terena. “É um encontro da comunidade terena surda com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que tem expertise na área e temos parceria. Também vamos lançar uma história em quadrinhos em língua terena de sinais e o curso de formação de tradutores interpretes”, explicou a Denise.

Além de Miranda, o curso de formação de tradutores intérpretes para a língua terena de sinais também é desenvolvido em Dois Irmãos do Buriti, Anastácio, e , que vivem indígenas surdos da etnia terena.

“Existe uma língua terena de sinais que é diferente da Libras (Língua Brasileira de Sinais), são línguas distintas. Desde o ano passado, dentro do Plano Estadual para as Línguas Indígenas, fizemos uma parceria com a (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em e Campo Grande”, explicou a pós-doutora.

Ainda em Miranda, as línguas terena, kinikinau e a língua terena de sinais são cooficializadas. “Isso já é resultado desse plano de trabalho para a década das línguas indígenas. O Brasil tem 12 municípios com línguas indígenas cooficializadas, dois são no Estado, Miranda e Tacuru”, explicou Denise. Em Dois Irmãos do Buriti, Anastácio, Aquidauana e Sidrolândia vivem indígenas surdos da etnia terena.

Participam de atividades que contribuem na cultura (Divulgação)

Alfabetiza MS

Anunciada em maio deste ano, o programa estadual “Alfabetiza MS Indígena” irá produzir materiais didáticos para alfabetização e letramento de crianças indígenas nas línguas Guarani, Kaiowá, Kadiwéu e Terena.

A adequação linguística de material didático para as quatro línguas indígenas foi anunciada em maio deste ano como parte do “Alfabetiza MS Indígena”, uma ramificação do programa MS Alfabetiza, criado em 2021 e em prática na rede pública de ensino desde o início do ano passado.

“O Alfabetiza MS envolve as quatro línguas que são mais faladas. Estas línguas estão ameaçadas de extinção, mas com um nível de vitalidade melhor do que as outras três que estão diante dos últimos falantes. Então o trabalho é de formação de professores, fortalecimento linguístico. Em relação as outras línguas o trabalho é emergencial de revitalização”, esclareceu a professora Denise.

A previsão é de que, a partir do ano letivo de 2024, o material para alfabetização estará disponível nas respectivas línguas maternas – mencionadas – para as crianças do 1º e 2º ano do ensino fundamental, que estudam em unidades escolares indígenas (inclusive em aldeias urbanas). O trabalho é um reconhecimento a língua e a cultura indígena, e vai auxiliar na preservação dos costumes dos povos originários.

O programa “MS Alfabetiza – Todos pela Alfabetização da Criança” estabelece condições necessárias para que os estudantes matriculados nas redes públicas de ensino em todo o Estado adquiram o domínio das competências de leitura e escrita adequados a idade e ao nível de escolarização.