Seja pela movimentação da fronteira, turismo ou até mesmo pela chegada de estudantes de medicina vindos de outros cantos de Mato Grosso do Sul, a cidade de Ponta Porã, a 339 quilômetros de Campo Grande, cresceu 18,6% entre 2010 e 2022, o que resulta num quantitativo de 14.140 novos moradores nos últimos 12 anos. Apesar do crescimento representar número positivo para a cidade fronteiriça, a prefeitura alega que o quantitativo de habitantes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) está abaixo e que Ponta Porã já chega a uma média de 103 mil habitantes.

Conforme dados do IBGE, a população residente de Ponta Porã em 2010 era de 77.872 habitantes, número que aumentou para 92.017 em 2022. Ainda segundo o Censo 2022, a densidade demográfica do município é de 17,17 habitantes/km², o que representa uma taxa de crescimento bruto de 18,16% e de crescimento geométrico de 1,4% nos últimos 12 anos. 

Porém, segundo a prefeitura de Ponta Porã, a quantidade de habitantes está em 103 mil habitantes, não em 92.017. Ao Jornal Midiamax, o secretário municipal de Finanças, Fabrício da Costa Cervieri, disse que o número de moradores do Censo 2022 está abaixo do real. Questionado sobre o motivo, ele defende que o IBGE teria contabilizado os estudantes de medicina como “não residentes” ao invés de “residentes”. A classe estudantil é bem movimentada na cidade, uma vez que muitos estudantes de Mato Grosso do Sul e outros Estados optaram por estudar medicina na fronteira nos últimos anos.  

Conforme o município, aproximadamente 10 mil estudantes residem na cidade da fronteira. Cervieri ainda elenca que os imóveis vagos foram contabilizados pela média estadual e não do município. Mesmo assim, o secretário pontua que “o número de crescimento foi bom. Esse é o crescimento natural das cidades e vem em função dos investimentos sendo feitos. Fronteira sempre cresce”.

Além disso, dados do Censo 2022 mantiveram a cidade no mesmo patamar e representa saldo positivo ao município, que não registrou perda de moradores igual a outros municípios de Mato Grosso do Sul, como Novo Horizonte do Sul.

Maria de Fátima Pereira dos Santos, aposentada de 67 anos, é uma das pessoas que ajudou no crescimento populacional de Ponta Porã nos últimos 12 anos. Ela morava em Dourados, mas decidiu se mudar para a cidade fronteiriça com a família em julho de 2021. Assim, Maria reside com sua filha. 

Ela contou ao Jornal Midiamax ter ficado muito satisfeita com a mudança por considerar a cidade tranquila, com moradores hospitaleiros, amáveis e educados. Além disso, afirma não ter planos para se mudar. 

“A qualidade de vida é ótima, oferece opção de lazer, como academias, parque para realizar caminhadas e várias modalidades de esportes incluídas no próprio parque. Lugar seguro, bem cuidado (limpo) e iluminado. Gêneros alimentícios acessíveis e variados. Lanchonetes, bares, restaurantes e hotéis com preços acessíveis para todos os tipos de públicos. Clima ótimo, às vezes frio, mas nada de mais”, conta.

Na sua opinião, um dos pontos negativos é ter a cidade rotulada como perigosa. Porém, desde que se mudou para lá, não vivenciou nenhum episódio. “Pode ser perigoso para pessoas que se envolvem com o crime, contrabando, ou seja; optam por agir fora da Lei. Essas são alvos umas das outras. Pessoas do bem só são vítimas quando estão próximas do acerto de contas entre os bandidos, mas esporádicos”, opina. 

Maria ainda pontua perceber grande movimentação de novos moradores na cidade, tanto de famílias quanto de jovens. O último público motivado pelas faculdades do Paraguai. 

Ponta Porã é “point” dos estudantes

Enquanto isso, a esteticista e estudante de 29 anos Michele Reis se mudou para Ponta Porã em 2019 para ingressar na faculdade de medicina no Paraguai. Assim, ela integra o grupo dos 10 mil estudantes que moram na fronteira.

Ao Jornal Midiamax, ela revela não descartar a possibilidade de continuar morando na cidade depois da graduação caso consiga oportunidades profissionais. Porém, de modo geral, considera a qualidade de vida da cidade boa.

“Por ser uma cidade com muitos estudantes, constantemente tem novidades na cidade. Falando de empreendedorismo, por ser uma cidade de interior, mas não ser uma cidade tão pequena, podemos encontrar tudo o que necessitamos com a grande facilidade que temos o Paraguai ao lado e o melhor sem trânsito”.

Questionada sobre os pontos negativos, ela destaca o fato de que muitos paraguaios têm documentação brasileira e muitas pessoas de todas as cidades do Brasil vivem lá, o que gera superlotação no sistema de saúde pública da cidade.

“Outro ponto negativo na cidade é em relação aos aluguéis, visto que a maioria das pessoas dependem de aluguel. A lei da oferta e procura aqui sempre tem muito mais procura, fazendo com que os preços dos aluguéis nem sempre sejam justos ao imóvel e ficando difícil até mesmo a negociação. A cada seis meses chega uma nova leva de estudantes na cidade”, explica.

Além disso, Michele também pontua que Ponta Porã não é uma cidade tão violenta quanto aparenta ser. “Uma vez que você é um cidadão do bem, não se envolve em coisas erradas, a perigosidade da cidade fica igual a qualquer outra cidade”, diz.

Domicílios recenseados

Ainda conforme o município, 37.658 domicílios foram recenseados em Ponta Porã, sendo:

37.578 particular

37.549 particular permanente 

30.465 Particular permanente ocupado

28.990 Particular permanente ocupado com entrevista 

1.475 Particular permanente ocupado sem entrevista 

7.084 Particular permanente não ocupado

4.496 Particular permanente não ocupado – vago

2.588 Particular permanente não ocupado – uso ocasional

29 – particular improvisado   

80 – coletivo 

23 – coletivo – com morador 

Ainda segundo o IBGE, a média de moradores em domicílios particulares permanentes caiu. Enquanto o valor de pessoas num mesmo domicílio em 2010 era de 3,46, o número reduziu para 3 em 2022.

Comerciantes alegam dificuldades

Enquanto isso, Ana Rosa Bonfim, de 55 anos, trabalha no setor de comércio de comida na cidade. Moradora de Ponta Porã desde criança, ela atribui o crescimento de moradores pelo fato de ser uma região com muitas lavouras, além de ter um turismo movimentado devido à fronteira.

À equipe de reportagem, ela afirma que, enquanto muitos jovens vão até a cidade para estudar, outros saem em busca de novas oportunidades. É o caso do seu filho que se mudou de Ponta Porã para Foz do Iguaçu, no Paraná, recentemente. Questionada sobre a qualidade de vida na cidade, Ana alega perceber menor movimentação do comércio alimentício.

“Reduziu bastante depois da pandemia e esse ano também porque o valor subiu demais. Fechou muito comércio de comida, muitos comerciantes não conseguiam pagar aluguel”, explica. Além disso, opina que a violência e a criminalidade ainda são fatores negativos na cidade. 

Ainda de acordo com o Secretário de finanças, o município tenta aumentar o contingente de guardas civis metropolitanos para ajudar na segurança do município. Além disso, são usados cerca de R$ 150 milhões para o ramo da construção civil, como obras de revitalização da linha internacional e asfaltamento dos bairros não pavimentados. 

MS atingiu 2,7 milhões de habitantes

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) divulgou, na última quarta-feira (28), os primeiros resultados do Censo 2022. Os dados apontam que a população de Mato Grosso do Sul cresceu 12,56% desde 2010, último ano da pesquisa, e passou de 2.449.024 para 2.756.700 pessoas. 

A coleta de informações começou em agosto de 2022 e foi finalizada em maio passado. Tradicionalmente, o Censo é realizado a cada dez anos, mas foi adiado em 2020 devido a dificuldades orçamentárias e pela pandemia de Covid-19.

A pesquisa aponta que o Estado recebeu 307.676 novos habitantes no período de 12 anos. No caso de Campo Grande, que há anos espera-se chegar a marca de um milhão de habitantes, os dados apontam que faltam mais de cem mil moradores para atingir o resultado.

*Matéria atualizada às 13h11 de 04/07/2023 para acréscimo de informações.