Atlas da Violência publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) retrata o que indígenas já sabem há anos. é um dos estados com índices alarmantes de conflitos letais contra indígenas. A violência contra os povos originários é praticamente o dobro do índice de homicídios gerais identificados no Estado.

Os dados do Ipea mostram que de 2020 para 2021 houve crescimento nos índices de violência em todas as categorias de Mato Grosso do Sul. Em 2021, a taxa de violência no Estado chegou a 19,4%, enquanto a taxa de violência contra indígenas chegou a 39,4%.

Já a taxa de violência em municípios com território indígena somou 44,8% em 2021. Na prática, significa que a violência (contabilizada pelo número de homicídios) contra indígenas é mais que o dobro do que a geral do Estado.

Suicídios de indígenas: números alarmantes

O Atlas da Violência também analisou dados de suicídio entre os indígenas, que apresentam índices alarmantes. Assim como nos homicídios, Mato Grosso do Sul desponta entre os três estados com maior índice.

Em 2021, foram 35 suicídios de indígenas, crescimento de 3% em relação a 2020. Mato Grosso do Sul, e Amazonas somados em 2021, registraram a morte de 110 indígenas, apenas em decorrência de homicídio e suicídio.

Família vive em situação precária em barraco de lona (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

Análise do Ipea sobre a maior incidência de suicídio de indígenas residentes nos estados do Amazonas e do Mato Grosso do Sul, revela que nos dois estados há grande número de população autodeclarada indígena, os conflitos fundiários e a violência relacionada aos interesses político-econômicos permanecem, incorporando particularidades de cada região.

“No Mato Grosso do Sul, há a demanda reprimida pela demarcação de terras indígenas, que envolve indígenas em confrontos letais com não indígenas, além de frustrar expectativas de melhoria da qualidade de vida diante da morosidade das demarcações”, diz o Ipea.

Saúde mental, uma necessidade distante

No Mato Grosso do Sul a vida dos indígenas é marcada pela miséria, violência e exclusão, que permeiam várias gerações dos povos. Quando se fala na necessidade de saúde mental e atendimento a este público, muitas barreiras emergem de uma sociedade marcada pela desigualdade.

A psicóloga Vanessa Terena destaca que as condições em que vivem os indígenas de Mato Grosso do Sul formam um ambiente que impossibilita a saúde mental. Além disso, a ciência da ainda não dispõem de ferramentas suficientes para atender os povos indígenas sem ser atravessada pelas barreiras culturais.

“É inconcebível considerar que uma pessoa em uma aldeia com falta de água, alimentação digna, trabalho e que convive há gerações com a violência, vai ter condições de saúde mental. E é justamente como consequência de toda a realidade que os suicídios aparecem”, afirma a psicóloga indígena.

Para ela, é importante a criação de políticas públicas que considerem a realidade e demandas dos povos indígenas, para que então os povos possam ter uma saúde mental real. Além disso, a psicologia é uma ciência nova, com apenas 60 anos no Brasil e só aos poucos tem incluído as peculiaridades de cada povo, para criar referências em atendimento.

“Aos poucos se inicia um momento de escuta dos povos indígenas, para podermos pensar uma psicologia que atende a multipolaridade da sociedade. Dessa forma, não tem como falar de suicídio sem proporcionar acolhimento para os povos indígenas”, destaca a psicóloga de Mato Grosso do Sul.