Maternidades superlotadas e com demanda de todo MS agravam risco de faltar atendimento a grávidas

Com poucas opções, unidades para realizar parto via SUS estão operando 90% acima da capacidade

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Lotação na Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Divulgação Santa Casa)

Depois de nove meses de gestação, a hora do nascimento do bebê é um momento crucial para as mulheres. Mas, em Mato Grosso do Sul, onde não há centro de parto normal e ainda existem poucos hospitais, gestantes ficam à mercê de uma vaga e sob risco de desassistência e violência obstétrica.

Em Campo Grande, são três hospitais e uma maternidade que atendem obstetrícia via SUS (Sistema Único de Saúde), cada um com suas peculiaridades. Essas unidades também atendem demanda intensa dos 78 municípios do interior do Estado.

Em superlotação extrema anunciada em 11 de maio, a Santa Casa vive dias de caos no setor de obstetrícia. O maior hospital de Mato Grosso do Sul chegou a bloquear as salas de parto para acomodar bebês recém-nascidos. Enquanto isso, há gestantes e bebês aguardando atendimento, UTI neonatal e sob risco de desassistência.

A Santa Casa é referência em atendimento de alta complexidade obstétrica e atende não só a demanda de Campo Grande, mas de todo o Estado. O problema é que a lotação de leitos não é realidade só da Santa Casa, as outras opções para gestantes também compartilham da mesma situação.

A maternidade Cândido Mariano convive com lotação de leitos de enfermaria para gestante em torno de 90%, assim como as vagas em UTI neonatal. A unidade é referência para casos de médio e baixo risco e atualmente todos os leitos de UTI neonatal e da unidade intermediária neonatal estão lotados.

Único centro de parto normal do Estado fechou as portas

No dia 30 de abril, o único centro de parto normal de Mato Grosso do Sul fechou as portas. Localizada em Sidrolândia e anexo ao Hospital Beneficente Dona Elmíria Silvério Barbosa, a unidade atendia gestantes de vários municípios da região.

Centro de Parto Normal de Sidrolândia. (Foto: Reprodução/Facebook)

O CPN fechou por falta de equipe de retaguarda, composta por profissionais capacitados para intervir em casos de intercorrências com as gestantes ou recém-nascidos. A equipe demandaria R$ 150 mil por mês e não recebeu apoio de nenhuma esfera para manter as portas abertas.

A unidade, além de mais uma opção para mulheres na hora do parto, também era referência em boas práticas em relação ao parto normal. A doula Laís Camargo, afirma que, desde dezembro de 2022, por várias vezes encontrou os hospitais lotados.

“A maternidade Cândido Mariano não comporta a demanda, Hospital Universitário também vive cheio. O CPN era uma ajuda a atender interior e também a Capital, vamos perder muito enquanto não tivermos mais opções de maternidade”, explica a doula.

Hospitais lotados e mulheres com sensação de desassistência

Além da Santa Casa e da Cândido Mariano, atendem obstetrícia via SUS o Hospital Universitário e o Hospital Regional. Porém, só a população de Campo Grande, viabilizaria pelo menos dois centros de parto.

Presidente da Associação de Doulas, Tatiana Marinho explica que as gestantes de baixo risco poderiam ser atendidas em casas de parto, o que desafogaria a demanda dos hospitais. Ela acredita que só a demanda de mulheres em idade fértil, viabilizaria três centros de parto em Campo Grande.

“Teve o fechamento do centro de parto normal em Sidrolândia, para onde essas mulheres estão indo? Provavelmente para Campo Grande, atendidas via SUS e à mercê de uma vaga em hospital”, afirma a doula.

Coordenadora de enfermagem da Cândido Mariano, Viviane da Silva Saro Cardoso explica que na maternidade são quatro salas de parto normal e a rotatividade é alta nos leitos. “Mesmo assim a lotação é muito alta, porque ainda recebemos pacientes vindos de outras unidades”.

O Hospital Universitário afirma que também está com lotação máxima. De acordo com a assessoria, a taxa de ocupação da maternidade em 2023 ficou entre 95,7% e 109% de janeiro a abril, com pacientes no corredor.

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