As histórias são vertentes, com evidências de que algo aconteceu, as várias linhas de conto. Neste enredo, não há como deixar de citar a identidade do Exército Brasileiro em solo sul-mato-grossense. Em comemoração ao Dia do Exército, celebrado em 19 de abril, separamos brevemente as histórias sobre lutas que aconteceram em com efetivo militar, desde os tempos imperiais.

Houve suor, lágrimas e sangue como indicam as memórias traçadas em MS, terra de conflitos e defesa de espaço. Wellington Corlet dos Santos, historiador independente do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul), explica que diversos homens morreram em combate defendendo a Pátria, há acervos em 1500, início da monarquia no Brasil.

“O Brasil estava sendo desbravado, nessa época o Estado ainda era o mesmo território de Mato Grosso. Havia conflito entre os espanhóis, quando decidiu fortificar as fronteiras. O Coronel Ricardo Franco, patrono da engenharia militar, comandou as tropas para defender o Forte Coimbra, em 1801, em Corumbá. Havia o Forte Príncipe da Beira, em Rondônia e o Quartel dos Dragões, em Mato Grosso”.

O Forte de Coimbra marcou grandes ataques, o primeiro aconteceu em setembro de 1801, quando o comandante D. Lázaro da Ribeira — que era governador de Assunção, no Paraguai — chegou com uma tropa composta por 900 homens, contra 109 em MS. Foram nove dias de conflito, quando os espanhóis retornaram para o país vizinho, sem munição e comida.

Retirada da Laguna

A história do estopim para mais um conflito com os paraguaios, em 1864, quando os vizinhos invadiram uma província de Mato Grosso, enquanto uma força naval subia o rio Paraguai, tomando o Forte de Coimbra, por terra, cerca de 2 mil cavaleiros destruíram a Colônia Militar dos Dourados e ocuparam as vilas de e Miranda.

“A tropa do Paraguai chegava a 80 mil homens, enquanto saíam do Brasil em torno de 1,5 a 3 mil. Muitas propriedades foram saqueadas no Estado, em Jardim, Dourados. O Coronel Carlos Camisão, que leva o nome do distrito de , se apresentou como comandante com a chegada da tropa em Nioaque, mas nessa altura tinha muitos inválidos, doentes. Foram chamados voluntários, que também morriam em combate ou doença. A história diz que eles foram enterrados nas margens do rio Miranda, no famoso cemitério de Jardim”.

Em junho de 1867, três anos após o conflito, os militares e civis atravessaram o rio Miranda, se estabelecendo na Fazenda Jardim. Foi o tempo que os laranjais se estabeleceram e se curaram, retomando a marcha em direção a Nioaque. Os paraguaios não atacaram mais, mas deixaram uma armadilha explosiva na igreja, que matou vários.

Pintura de Pedro Paulo Cantalice Estigarríbia ilustrando a Retirada da Laguna (Foto: Acervo Exército Brasileiro)

Guerra do Paraguai

“Em 1964, época do Natal, novamente entramos em conflito com o Paraguai, a famosa Guerra do Paraguai, o maior conflito armado internacional da América Latina. Foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, com o Brasil, e Uruguai. Perdemos muitos homens, o estopim do conflito ocorreu quando os paraguaios aprisionaram o vapor Marquês de Olinda, uma embarcação brasileira. Também tinha uma tensão entre os governos, já que tinha disputa por território, pedaço de terra que corresponde ao MS, pela navegação dos rios Platina que cortava o Paraguai”.

A guerra durou até março de 1870, deixando rastro de destruição nos países. No Brasil, com a recessão econômica grave, teve início a decadência da monarquia. Os números de mortos são polêmicos, mas acreditam que mais de 450 mil pessoas perderam a vida em combate ou devido a doenças, incluindo indígenas recrutados.

MS na Guerra Mundial

A história apresenta nome de combatentes de Mato Grosso do Sul, como a do general Euclides Zenobio da Costa, natural de Corumbá. A tropa somou a participação do Batalhão de Engenharia de Combate, de Aquidauana, que teve missões na Itália, para evitar movimentação do inimigo. Diversos militares e recrutadores foram chamados de diversas cidades da região: Porto Murtinho, Ponta Porã, Bela Vista, e Campo Grande.

Os militares daqui, como o soldado Valdemar Marcelino dos Santos e Sebastião Ribeiro, em outubro de 1944, são homenageados como heróis do 9º BECmb, mortos em ação. A sede e todos que lutaram pela pátria foram preservados na Sala Histórica, em formato de monumento. Dezenas de indígenas de Aquidauana, da etnia terena, kadiwéu e guarani estiveram em combate atuando.

O único pracinha vivo completou 103 anos em dezembro do ano passado, Justino Pires de Arruma, morador de Ponta Porã. Justino fez parte do 11º Regime de Cavalaria Mecanizado, integrante da FEB (Força Expedicionária Brasileira). O militar aposentado participou ativamente das batalhas de Camaiore, Colechio, Monte Prano e Zocca.

Indígenas de Aquidauana atuaram ativamente no combate (Foto: Patrimônio Histórico Cultural do Exército)

Tecnologias da época e combate

Wellington Corlet explica que o Exército Brasileiro atuava com constantes mudanças e aprimoramento das técnicas de combate, enaltecendo a habilidade de MS em combater na selva. “São chamadas de doutrinas que acabaram sendo copiadas dos batalhões dos países, como a doutrinação portuguesa, lá no século 18, com as modificações alemãs, dos franceses e ingleses, ou seja, a cada batalha uma forma de doutrina. As formas de empregar o combate existente também dependia do material, do armamento e da munição”.

Embora as vitórias, o Brasil ainda precisa evoluir tecnologicamente para combate. “Nossa tecnologia não é a mais ‘top' do mundo e nem o armamento, quando falamos de doutrina cada país tem e o seu tipo de combate, o nosso é excelente em guerra na selva, mas num geral dependemos muito de equipamentos, existem carros de combate nacional que não estão em boas condições”.

O historiador finaliza que é necessário incentivo quanto à modernização do Braço Forte, principalmente em orçamento financeiro. “Tivemos a participação do exército no combate a pandemia, inclusive tardio pela liberação do Governo Federal”.