Entenda o surto de doenças respiratórias que atinge crianças e tem provocado caos na saúde
O sistema de saúde pública e particular de Campo Grande está sobrecarregado, são horas de espera por atendimento e muita angústia por vaga em hospital
Priscilla Peres, Fábio Oruê –
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Mato Grosso do Sul tem 1.396 pacientes hospitalizados em decorrência de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), sendo que 50% dos casos atingem crianças de zero e 9 anos de idade. Em Campo Grande, por dia, a estimativa é de que 50 crianças estejam aguardando vaga em hospital.
Mas o que tem causado esse surto de doenças respiratórias e a consequente sobrecarga do sistema de saúde?
Gerente Técnica de Influenza e Doenças Respiratórias da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Lívia Maziero explica que a SRAG é uma condição clínica, composta por um conjunto de sintomas, que incluem dificuldade para respirar, febre alta e constante e tosse.
“Temos visto um aumento nacional de SRAG em crianças, que geralmente sofrem mais, porém este ano há o agravante de ter vários vírus respiratórios circulando”, explica Lívia. Entre os vírus estão a Covid-19, rinovírus, sincicial respiratório, influenza, entre outros.
O período sazonal para doenças respiratórias é o outono, que compreende os meses abril a junho. “Justamente por que estamos com todas esses vírus circulando, já em situação avançada, além de dengue e chikungunya, que tem sobrecarregado as unidades de saúde”.
Por que as crianças estão mais doentes?
Para responder a essa pergunta é preciso analisar o que aconteceu de 2020 para cá. A Gerente Técnica de Influenza e Doenças Respiratórias da SES explica que durante a pandemia a saúde continuou fazendo o painel viral, mas só se identificava Covid-19. Não havia a circulação de outros vírus.
“Só que nosso corpo tem memória imunológica, se defende do que entra em contato, então nós ficamos mais de dois anos sem entrar em contato com esses vírus e agora eles estão mais fortes e estamos mais fracos. Nossa resposta é diferente”, diz Lívia.
Ela explica ainda que o vírus sincicial respiratório, por exemplo, é conhecido como um vírus que atinge recém-nascidos, mas tem infectado adultos que estão ficando doentes, prostrados e precisando de hospitalização.
E é o vírus sincicial que causa a chamada bronquiolite em crianças. A grande maioria das crianças que chegam a casos graves respiratórios apresenta quadro de bronquiolite, onde é necessário internação urgente, principalmente em bebês pequenos.
E a Covid-19?
O vírus da Covid-19 continua circulando e fazendo vítimas, porém em menor escala do que durante a pandemia. Em três meses de 2023, Mato Grosso do Sul registra 88 mortes, além de 16.040 casos confirmados.
Para o infectologista Júlio Croda, referência no país sobre Covid-19, o atual surto respiratório que afeta principalmente as crianças tem influência da Covid-19.
“Esse atual surto tem igual frequência de Covid-19, Influenza e vírus sincicial respiratório, sendo 30% de cada”, destaca o infectologista.
O que preocupa é que as crianças entre 5 e 11 anos são as que menos tomaram vacina contra a Covid-19. Apenas 59,5% desse público tomou a primeira dose, enquanto que a meta é vacinar 301.008 crianças nessa faixa etária.
Vacinação contra a influenza é antecipada
Para evitar o agravamento das doenças respiratórias no período sazonal, de abril a junho, o Ministério da Saúde decidiu antecipar a vacinação contra a influenza. Todos os públicos poderão se vacinar.
Na segunda-feira (30), a vacinação estará liberada para Campo Grande. Nesta primeira remessa, 23 mil doses da vacina contra a influenza estarão disponíveis para a população de Campo Grande.
Em toda a campanha da influenza, a Sesau espera vacinar 190 mil pessoas de Campo Grande.
Cuidados com as crianças nos próximos meses
Crianças abaixo de cinco anos, além de idosos e pessoas com comorbidades, são considerados grupos mais vulneráveis para as doenças respiratórias. No outono, são comuns as viroses respiratórias como as rinossinusites agudas, laringites e faringites virais.
Médico otorrinolaringologista da Unimed Campo Grande, Bruno Higa Nakao explica que distúrbios de vias aéreas inferiores também podem ser acometidos como crises de bronquite ou asma e, em casos graves, podem evoluir com pneumonias.
É frequente os pacientes se queixarem de tosse, rouquidão, irritação de garganta e nariz entupido ou coriza devido a tal inflamação das vias aéreas.
“Como vivemos em situação de vulnerabilidade devido à mudança climática abrupta e aglomerações em ambiente escolar e de trabalho, existe uma quebra da barreira da mucosa respiratória, estando as crianças a iniciar os quadros primariamente associada à baixa imunidade e que transmitem por gotículas de secreção aos pais e destes no trabalho, tornando um ciclo de difícil controle”.
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