Os traços da arquitetura e urbanismo estão espalhados de norte a sul de , mantendo histórias da beleza de obras em concreto aliada a natureza. Nesta sexta-feira (15), Dia do Arquiteto e Urbanista, o Jornal Midiamax listou alguns monumentos que mantêm a identidade da cidade.

Clube dos Servidores Estaduais

Construído em 1961, no Parque dos Poderes, o Clube dos Servidores Públicos Estaduais recebeu a assinatura do arquiteto Sérgio Ferreira dos Santos, Osvaldo Alves de Siqueira Júnior e Deise Pavani. A principal característica do prédio é a entrada, com riqueza nas janelas, marquise em forma de meio tubo e varanda.

Ao longo dos anos, o prédio recebeu manutenções paliativas, mantendo a edificação original.

Clube dos Servidores de MS (Ilustrativa)

ALMS

A ALMS (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) foi construída em 1982, no Parque dos Poderes, por Jurandir Santana Nogueira, Ângelo Marcos Vieira de Arruda e Aldo Matsuda. São 6 mil m² de área construída, além do amplo jardim de valorização da área preservada.

Há pilares periféricos de concreto, no estilo de órgão público. O salão principal tem cobertura em grelha com domus acrílico, que garante iluminação eficiente no pavilhão central.

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ALMS (Arquivo)

Palácio Popular da Cultura – Centro de Convenções

A entrada é um show a parte aos admiradores de arquitetura, diante do formato em concreto, uma área de água e amplo visagismo. O projeto tem assinatura dos arquitetos Rubens Gil de Camilo, Chen Chan Wan, Lu Pei, Ricardo de Melo Spengler, Gil Carlos de Camilo e Rubens Fernando de Camilo. O prédio reconhecido mundialmente por “arquitetura inteligente”, com plano inicial em 1983, mas teve obra paralisa, que só foi retomada após 10 anos.

O novo projeto trocou o simples auditório para instalação de um palco para teatro, com espaço de capacidade para mil lugares. Todo amadeirado, o espaço interno contém detalhamentos no foro e iluminação para grandes apresentações.

Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo (Divulgação)

FIEMS

O grande prédio que abriga a FIEMS, foi construído em 1983, também com trabalho do arquiteto Rubens Gil de Camilo. O edifício retangular tem seis pavimentos e anexos, com localidade na Avenida Afonso Pena. A principal característica é a imponência da modernidade, a vidraçaria e monumentos eletrônicos.

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Prédio Fiems (Divulgação)

Edifício Solar do Pantanal

Um dos primeiros arranha-céus da cidade tem dedicação de Rubens Gil de Camilo e Ronaldo Navarro Gondim. O conjunto de três torres de 16 pavimentos está localizado entre a Avenida Afonso Pena e a Rua José Antônio. O nome faz jus a pintura inicial, que buscava elevar a cor do pôr do sol visível na extensão da avenida.

O espaço abriga apartamentos de alto padrão, com varandas alternadas e janelas em fita esquadrias de alumínio em cada quarto.

Estrutura com varandas de formatos alternados (Infoimóveis)

Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio

A arquitetura religiosa da Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio, entre a Rua do Padre e Calógeras, no Centro, teve a estrutura demolida em 1970 para reconstrução em 1985, com projeto do arquiteto Wagner Vieira de Paula.

O organizado tem formato diagonal no terreno, salão, capela, sela de catequese, sacristia e habitação para os párocos. Além da amplitude, a igreja abriga um salão de festas no subsolo. Outro ponto de beleza na arquitetura são as consideráveis madeiras e vitrais de santíssimos, o que também reflete na iluminação natural.

Arquitetura religiosa (Arquivo Midiamax)

Cicloribeiro

A Ciclobeiro, antiga Loja Ciclosul, na Rua Rui Barbosa, não é apenas um lojista tradicional, também está localizado em um prédio de arquitetura moderna, de 1985. A obra tem assinatura dos arquitetos Rubens Gil de Camilo e Ronald Navarro Gondim.

São três pavimentos no espaço, sendo o térreo, subsolo e superior. O prédio tem uma loja com vitrines diferentes para expor as bicicletas. A construção toda em concreto tem uma vitrine em cubo escavado, além de visagismo no piso superior.

Fachada da Cicloribeiro (Divulgação)

Regimento de Cavalaria Blindada

Um dos primeiros prédios de estrutura militar, o Regime de Cavalaria Blindada está localizado na Rua Presidente Vargas. Em 1986, os arquitetos César da Silva Fernandes, Emmanuel de Oliveira, Gogliardo Vieira Maragno e João Bosco Urt Delvizio concluíram o projeto para uma obra característica funcional, abrigando uma estrutura para manobras, atividades noturnas, guarita, pavilhões, área esportiva e oficina-garagem.

Hospital São Julião

O Hospital Filantrópico São Julião é pioneiro no tratamento de hanseníase em Mato Grosso do Sul, há 83 anos na Rua Matias de Albuquerque. O projeto é de Jurandir Santana Nogueira, que destaca a arquitetura na área externa e interna.

A entrada é definida com estilo residencial/militar, em formato meia curva, telhas de cerâmica e pintura alaranjada. O ponto de destaque é a construção em meio ao verde de área preservada.

São Julião
Fachada do Hospital São Julião (Divulgação)

TV Educativa

Certamente, o prédio da TV Educativa, no Parque dos Poderes, não passa despercebida nesta lista. Os arquitetos Robero Montezuma Carneiro da Cunha, Kátia Avelar e Gilca Fernandes aproveitaram a construção no desnível natural do terreno, em 1992.

Há uma passarela sobre as águas das piscinas até o hall de entrada, a torra e formato curvado da estrutura garante autenticidade ao Palácio das Comunicações. Na parte inferior há o estacionamento e outras salas da repartição pública.

Prédio da TV Educativa (Arquivo)

Hospital Rosa Pedrossian

Carlos Eduardo Pompeu e Celso Costa assinam a arquitetura do Hospital Rosa Pedrossian, na Avenida Gunter Hans, em 1993. São três formatos dinâmicos do prédio, sendo o espaço principal alongado. Ao todo, são quatro blocos e dois pavilhões.

O projeto priorizou a proteção solar de todo o edifício, inclusive nos pavilhões e blocos, que abrigam as salas de atendimento.

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Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. (Foto: Arquivo, Secom-MS, Saul Schramm)

Parque das Nações Indígenas

O projeto do Parque das Nações Indígenas começou a sair do papel em 1993. Na época, moradores pontuavam o desafio de alinhar a área verde ao urbanismo. Os arquitetos César da Silva Fernandes, Inácio Salvadir Nessimian e João Bosco Urt Delvizio são responsáveis pelo empreendimento.

A construção utiliza as regras do Plano Diretor de Implantação em uma grande área de 129 hectares. O espaço também serviu para ampliar monumentos históricos, como o Museu de Arte Contemporânea, Museu do Índio, de História Natural, Polícia Florestal, Concha Acústica e prédio da administração.

Não é à toa que o lugar é preferido das capivaras, sendo o cartão postal da cidade e do campo-grandense.

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Imagem aérea do Parque das Nações Indígenas. (Foto: Divulgação)

Morada dos Baís

O imigrante Bernardo Franco Baís deixou a para enraizar gerações em Campo Grande. Em 1879 chegou na cidade e decidiu construir a moradia de taipas, alvenaria, argamassa, cal e areia. O primeiro monumento histórico arquitetônico não teve arquiteto, mas mão-de-obra técnica para um construção estilo europeia.

Para a época, o edifício se destacava ao entorno pela intenção eclética dos elementos arquitetônicos. As janelas e portas em formato de meia curva ainda é conserva a elegância. A ficha técnica do imóvel confirma que os próprios moradores ergueram a moradia.

A morada já foi Casa Lotérica, Pensão Pimental e é atualmente tombado como patrimônio histórico. Apesar de ameaçado de demolição ao longo dos anos, o espaço cumpre a formação histórica da cidade. A última revitalização conservou o amarelo em tom quente e o amadeirado.

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Morada dos Baís (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Parque dos Poderes

A extensa área verde se alia ao urbanismo no Parque dos Poderes, o maior conjunto de obra arquitetônica da cidade. Idealizado pelo pelo ex-governador para concentrar as sedes administrativas do executivo, legislativo e judiciário. O projeto tinha objetivo de “dara cara de Capital” para a cidade recém-emancipada.

Segundo o Governo do Estado, o parque foi entregue em duas etapas. No início da década de 1980 foi finalizada a construção dos oito blocos que hoje abrigam as secretarias estaduais do Poder Executivo. No final da mesma década foram construídos o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas, a Assembleia Legislativa e o Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo, o Palácio Popular de Cultura.

A reserva florestal ecológica possui 285 hectares, com nascentes de córregos e vehetação nativa. São quatro setores, sendo o primeito para o parque ecológico, o dois para secretarias do poder executivo e cultural, o terceiro para o legislativo, empresas e autarquias. O setor 4 foi destinado para prédios de repartições federais, academia de polícia, Tribunal Regional Eleitoral e obras necessários para atendimento médico; além de depósitos, bancos, laboratórios, garagens, oficinas, posto de bombeiros e de polícia.

Após quase 40 anos, o Parque dos Poderes foi revitalizado em 2020. A revitalização do Parque dos Poderes inclui o recapeamento de 110 mil m² de ruas, implantação de 4 quilômetros de pista de caminhada e corrida, 4,2 quilômetros de ciclovia no canteiro central, acessibilidade, paisagismo, 70 bancos de descanso, três estações de ginástica, reforma dos estacionamentos e instalação de 41 abrigos nos pontos de ônibus e de lixeiras, além da construção de um Centro de Apoio ao Usuário com banheiros masculinos, femininos e adaptado para pessoas com deficiência.

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Vista aérea do Parque dos Poderes. (Foto: Arquivo, Secom-MS, Edemir Rodrigues)

Santa Casa

No final da década de 1970 e início da de 1980, Arthur D'Ávila foi responsável pela construção da Santa Casa. Além desta realização, Dr. Ávila, como ficou conhecido, presidiu a ABCG por quase 20 anos, entre 1974 e 2005. O arquiteto Celso Costa é autor do projeto do hospital.

Desde a construção, a unidade foi um marco na saúde e arquitetura da cidade. Na época, a construção do prédio tinha capacidade para até 700 leitos. O grande pavilhão em três formatos e visagismo recebeu revitalização ao longo dos anos, mas mantendo o projeto inicial.

Santa Casa de Campo Grande. (Divulgação, MPT-MS)

Hotel Gaspar

A arquitetura imponente pertencente ao prédio do antigo Hotel Gaspar, localizado na Avenida Mato Grosso esquina com a Calógeras, chama atenção mesmo apís anos fechado. Avaliado em R$ 6,8 milhões, prédio segue sem um novo dono. Porém, herdeiros sonham que espaço venha a se tornar, algum dia, um braço da cultura sul-mato-grossense.

O Hotel Gaspar foi inaugurado em 26 de agosto de 1954 pelas mãos de Antônio Gaspar. Português, o empresário chegou em 1935 à Capital, onde montou um bar na 14 de Julho. Mas suas ambições cresceram e ele resolveu, ao lado da esposa, Mariana Margarido Gaspar, construir o hotel, que se tornou símbolo de modernidade e referência em Campo Grande por muitos anos.

Bioparque

Por fora uma forma elíptica e por dentro para emitir a sensação de “estar dentro de um peixe”. O Bioparque do Pantanal é uma das recentes “obras de grife” construída na Capital. Ao longo dos anos de obra parada, o projeto mudou de comando e escala, mas recebeu selo de gripe pelo arquiteto Ruy Ohtake.

Ao meio, duas escadas rolantes e uma escada comum, que dão acesso a ambientes com laboratórios de robótica, ciência e tecnologia, aquários que passam sobre a cabeça, salas pedagógicas, ambientes que abrigam artesanato e até a Nossa Senhora do Pantanal, que é genuinamente sul-mato-grossense.

A obra ao lado do Parque das Nações Indígenas tem a complexidade dos tanques de água, que conseguem ter visibilidade na parte interna e externa. Ao percorrer os corredores, o público poderá ver os peixes em mais de cinco milhões de água armazenada.

Bioparque Pantanal (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Da casa de argamassa a aranha céu

A professora de arquitetura e urbanismo Maria Lúcia Torrecilha, especialista da área urbana, relembra que a cidade respeita o estilo arquitetônico “funcional”, aquele que separa a funcionalidade das áreas de comércio, lazer e residencial. Ao profissional da área abre um espaço para crescimento do município desde o primeiro plano de alinhamento urbanístico.

“Tivemos um primeiro plano urbanístico em 1909, chama Plano de Alinhamento e Praças, feito por um engenheiro Nilo JavaryBarém. O problema é que esse plano só foi estabelecido 10 anos depois que Campo Grande tinha se emancipado e se tornado uma vila. A gente percebe que as pessoas primeiro habitaram e depois veio o plano, isso que em 1905 já tinha um código para a cidade, esse código determina o estilo arquitetônico, uma engerência no jeito de construir. Foi feito um alinhamento de forma geométrica, no sentido norte, sul, leste e oeste, foi feito em pontos cardiais, um tabuleito de xadrez na cidade”.

Ou seja, os imóveis não foram construídos de forma aleatória após implantação desse regramento. Torrecilha diz que as construções se limitava, entre a Rua 26 de Agosto, Afonso Pena e as vias paralelas. Devido a atuação da linha ferroviária, os empreendimentos evitaram a expansão para a regiões oeste da cidade, por exemplo, para o bairro Cabreúva.

“No ponto de vista arquitetônico, temos alguns modelos que, além de obedecer os códigos, a gente não tinha a linha modernista no Brasil, que é mais ou menos da década de 60 e 70, na Europa já tinha. O nosso traçado é bem funcionalista. Tinhamos e temos a arquitetura religiosa, militar, ligadas a estrutura de ferro que importava materiais. Em 1938 tivemos uma planta topográfica. Apesar de ser plana, Campo Grande tem seus altos e baixos, a planta topográfica facilitava muito para se ter uma construção melhor, aproveitando as dimensões do terreno, a planta prioriza o sanemaneamento, onde seria o abastecimento, as bacias…”

Tal topografia auxiliou a delimitar o perímetro urbano da cidade, alinhando os projetos de construção, que saia da construção horizontal para a vertical. Atualmente a cidade se baseia no Plano Diretor, que prevê a preservação natural e o urbanismo.

“Até esse plano, Campo Grande já sofreu muitos processos, que eu até discorso, na sua elaboração. Temos uma cidade com riqueza hidrográfica, abundanete em córregos. Eramos para ter córregos em praças como tem em Curitiba. O que aconteceu com os córregos? Foram tomponados. Os córregos foram fechados e enrigecidos, como o Segredo no Centro, ele tem uma estrutua que ao longo dele quase não tem calçadas, um projeto caro de engessamento das áreas laterias. temos um processo que era rico em hidrografia que poderia se tornar um partido. Em Brasília, por exemplo, na década de 60, se asfaltou todo o leito, onde se poderia ter maior caminhabilidade, ciclovia, mas o automóvel era a prioridade dos tempos modernos. Nós seguimos rigosamaente. Hoje sofremos por uma desumanização da cidade”.

Para o arquiteto Gustavo Shiota a cidade cresceu com apoio de profissionais sul-mato-grossenses e de fora, mantendo desde a década de 70 obras importantes para desenvolvimento econômico, turístico e de expansão.

“No final dos anos 90 vimos uma explosão imobiliária de edifícios verticais, o que foi puxando concorrentes entre as construtoras e incorporadoas a investir, gerou impaxto no horionte da cidade. Hoje, temos um horizonte mais recheado de edifícios altos, passando de 20 a 30 andares, o que não era comum até os anos 80. Isso é uma evolução marcante no horizonte. O “boom' imobiliário expandiu conforme o crescimento dos moradores, que afeta toda nossa convivência na cidade, de forma positiva e negativa. Um arquiteta e urbanista quando vai construir uma casa, comércio ou prédio não pensa só na produção do edificio, mas na produção de constexto na cidade”, finaliza.

*Esta pesquisa utiliza informações do acervo da ARCA (Arquivo Histórico de Campo Grande).