Com tantos elefantes brancos, obras inacabadas se integram à paisagem em Campo Grande
O ano de 2023 encerra com uma lista de inúmeras obras que ficam de herança para 2024
Lethycia Anjos –
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Por cima do mato alto, as paredes sem janelas e o chão sem piso mostram que naquela estrutura exposta deveria haver uma escola. Por toda a cidade, o cenário se repete e as obras inacabadas tornam-se parte da identidade de Campo Grande. Em 2023, dezenas de ‘elefantes brancos’ seguiram sem conclusão e ficam de ‘herança’ para o próximo ano.
Há um mês à frente da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), o secretário Marcelo Miglioli destaca que o trabalho ainda é longo, uma vez que inúmeros projetos terão que ser readequados para, então, serem retomados e relicitados, se for o caso.
“Temos várias obras paralisadas há muitos anos e trabalhamos para uma readequação de projeto. Quando uma obra fica paralisada por muito tempo, é preciso readequar todo o projeto orçamentário e começar tudo outra vez”, ressalta o titular da Sisep em entrevista ao Jornal Midiamax.
Para 2024, a expectativa é que todas as obras paralisadas sejam retomadas no primeiro semestre do ano. Segundo o secretário, foi feita uma agenda de todas as obras paradas e, conforme forem adequadas à planilha orçamentária, novas licitações serão abertas para empresas interessadas em retomar as construções.
Emeis inacabadas se espalham por toda a cidade
Um dos principais problemas enfrentados pelos campo-grandenses é a falta de vagas nas creches e Emeis (Escola Municipal de Educação Infantil); entretanto, a solução para esse problema poderia ser encontrada com a finalização das sete creches inacabadas na Capital.
“No cronograma das Emeis, temos sete projetos em andamento, e a previsão é abrir novas licitações no começo do próximo ano”, afirma o secretário.
Das obras iniciadas, apenas uma não foi paralisada completamente. A construção da Escola da Vila Nathália começou em agosto de 2019, com prazo de 40 meses; o valor investido é de R$ 4.272.622,05, e foram gastos para execução R$ 2.057.785,35, até o momento. Segundo o Portal Mais Obras, 48% do andamento foi concluído.
A creche do Jardim Talismã recebeu R$ 527.351,22 em repasses do montante de R$ 1.318.378,06. Segundo a base Simec, 37,70% da instituição foi executada. Os cômodos estão vagos, gerando também reclamações de vizinhos sobre esconderijo para a criminalidade.
Também com convênio em 2013, a creche do Jardim Colorado deve receber ao todo R$ 1.716.093,34. Até o momento, foram pagos R$ 857.846,89. A obra inacabada recebeu 49,99% do contrato.
No Loteamento Nova Serrada, o nome da pré-escola ainda não foi escolhido. A instituição teve 51,46% concluídos, através de R$ 858.116,29 recebidos no acordo feito em 2013. A unidade infantil deve receber ao todo R$ 1.717.050,94, dos quais foram pagos pela União 49,98%.
Já no Jardim Nashville, a obra tem acordo com a União desde 2013, para receber repasse de R$ 1.712.559,14. Destes, foram pagos R$ 856.933,34. A construção inacabada tem 33,35% concluídos até agosto de 2023.
Maior ‘elefante branco’ de Campo Grande
Paralisado há nove anos, o Centro de Belas Artes é considerado o maior ‘elefante branco’ de Campo Grande. Localizada na Avenida Ernesto Geisel com a Rua Plutão, a obra, de 14 mil metros quadrados, foi iniciada em 1991 no governo de Pedro Pedrossian. Entretanto, a construção foi interrompida em 2013, quando estava com mais de 80% do trabalho concluído.
Em julho, a prefeitura de Campo Grande prorrogou mais uma vez o prazo de execução das obras. Com um acréscimo de mais 270 dias, totalizando oito meses, a entrega prevista anteriormente para este ano foi adiada para março de 2024.
Ao ser lançada, a licitação previa recursos de R$ 5.178.240,38 para concluir o Centro de Belas Artes, no Bairro Cabreúva. No entanto, a obra, cujo projeto original era a instalação da rodoviária da cidade, enfrentou paralisação após a rescisão do contrato com a empresa Vale Engenharia e Construções, em abril de 2021, que havia sido contratada por R$ 3.175.125,66.
Assim como outras obras paradas, o Centro de Belas Artes deve ser retomado em 2024, conforme afirma o secretário Marcelo Miglioli.
“O Centro de Belas Artes foi uma das primeiras agendas que tive como secretário. Fizemos uma reunião e vimos que não havia condições de continuar a obra como estava. Houve rescisão contratual, e agora, no começo de janeiro, vamos relicitar para, enfim, concluir essa obra”, diz.
Obras no rio Anhanduí se estendem há 12 anos
Em toda tempestade, o cenário se repete na Avenida Ernesto Geisel: a chuva gera deslizamentos de encostas, queda de paredes de concreto e alagamentos nas ruas. Aguardada há mais de 12 anos, as obras de contenção de enchentes e drenagem do Rio Anhanduí foram novamente adiadas para 2024.
O projeto de revitalização do Anhanduí, datado de 2011, teve duas licitações e uma ordem de serviço assinadas e posteriormente canceladas em 2012. Em 2014, a segunda tentativa de licitação também fracassou. Foi estimado que seriam necessários R$ 68 milhões para concluir o projeto até o final da Avenida Ernesto Geisel, no Aero Rancho, com R$ 28 milhões de contrapartida.
Em agosto, a longa espera teve um novo capítulo com a inclusão da obra no pacote de 14 obras que receberão recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Conforme o Governo Federal, a prevenção a desastres incluirá contenção de encostas e drenagem do Complexo Anhanduí, Cabaça e Areias.
Secretário Marcelo Miglioli, reforça que a obra está na lista de prioridades do governo devido à gravidade da situação.
“Na primeira quinzena de janeiro, o lote 2 deve ser colocado em licitação, mas estamos cadastrando os lotes três e quatro no PAC para garantir recursos e concluir essa obra de forma definitiva, da Salgado Filho a Manoel da Costa Lima”, explica.
Enquanto asfalto não chega, moradores torcem para não chover
No Nova Lima, a lama e os buracos tornam as ruas intransitáveis em dias de chuva. O bairro está entre os locais contemplados com obras de pavimentação anunciadas pela prefeitura de Campo Grande. No entanto, as obras paralisadas têm se tornado um transtorno para os moradores, que aguardam pelo tão esperado asfalto há anos.
“A situação no Nova Lima exige nossa atenção; as etapas C e D tiveram os contratos rescindidos, mas as obras devem ser destravadas neste primeiro semestre”, disse Miglioli.
Conforme a prefeitura de Campo Grande, a obra do Nova Lima é dividida em três etapas. Duas delas estão paradas e serão relicitadas, enquanto a terceira também está parada, aguardando autorização da CCR para ser retomada.
Em dezembro de 2022, a GTA Projetos e Construções solicitou a rescisão do contrato referente às etapas C e D de pavimentação e drenagem no Nova Lima. A obra, em parceria com a empresa Equipe Engenharia, deveria ser executada em 12 meses, conforme o cronograma. Estavam previstas a pavimentação de 31 ruas e o recapeamento de outras seis, abrangendo o quadrilátero formado pelas Ruas Zulmira Borba, Cônsul Assaf Trad, Gualter Barbosa e Lino Vilacha.
Além do Nova Lima, os bairros Santa Emilia, Ramez Tebet, Bosque das Araras, Jardim Itatiaia, Jardim Mansur, Jardim Auxiliadora e Nova Campo Grande aguardam pelas obras de pavimentação asfáltica.
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