Centro de Altas Habilidades é acolhimento e ‘luz’ para mais de 240 alunos superdotados de MS
Referência nacional no atendimento às crianças com altas habilidades, Ceam/AHS oferece espaço seguro para que superdotados se expressem e aprimorem conhecimento
Priscilla Peres –
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Mato Grosso do Sul tem mais de 240 ‘pequenos gênios’ matriculados no Ceam/AHS (Centro Estadual de Atendimento Multidisciplinar para Altas Habilidades/Superdotação). Essas crianças e adolescentes com altas habilidades são aquelas popularmente conhecidas por superdotados, tendo como principal característica a inteligência acima da média para a idade.
Diferente do que possa parecer, a vida desses pequenos notáveis não é fácil. Há geralmente um longo caminho de dúvida, exclusão, bullying e sofrimentos até o diagnóstico e a chegada ao Centro de Altas Habilidade. Neste longo percurso, as dificuldades são enfrentadas pelas crianças e também pela família que não sabe como lidar com as situações.
O Ceam/AHS funciona como um enriquecimento curricular nas áreas em que o aluno tem interesse. É gerido pelo Governo do Estado e, portanto, totalmente gratuito. No contraturno das aulas os alunos podem participar de 48 oficinas em 12 áreas específicas de conhecimento, que vão desde artes até ciências.
A escola atende alunos desde os três até os 18 anos e tem um projeto para atender egressos. Os alunos de Campo Grande participam das aulas presencialmente, mas também há estudantes no interior que têm aulas remotas.
Centro é oásis de inclusão e conhecimento
“Na terceira vez em que meu filho veio na aula ele entrou no carro e disse que se eu tirasse ele do Ceam ele morreria. E foi ali que eu entendi a importância do centro de altas habilidades”, a frase é de Eliane Morais Fraulob, mãe de uma criança superdotada e que anos depois desse episódio se tornou gerente pedagógica do Ceam/AHS.
Ela conta que já era professora quando descobriu as altas habilidades do filho, o que não os impediu de enfrentar as mesmas dificuldades dos demais pais. Como gerente da unidade, mais do que conhecimento, ela proporciona empatia aos pais e alunos que por ali passam.
“Aqui as crianças descobrem que não são estranhos, descobrem seus pares e crescem. O atendimento dá para essas crianças a identidade de quem eles são e potencializa suas habilidades acadêmicas”, explica Eliane Fraulob.
Mãe de uma criança de 7 anos com altas habilidades e também professora, Amanda Reginald explica que o Ceam/AHS oferece todo o suporte em relação às crianças. “No centro a criança superdotada ela decola, porque ela vai poder ir fundo na área de conhecimento que ela domina”, explica ela, que também tem altas habilidades.
Equipe de “olheiros” atua em escolas estaduais
Apesar de muito inteligentes, os superdotados nem sempre lidam bem com o potencial que detêm. A psicóloga do Ceam/AHS, Norma Elisa Graldi, explica que na maioria das vezes as crianças com altas habilidades sabem que são diferentes, mas se sentem fora do contexto, justamente por não saberem onde se encaixam.
“Existem dois extremos. Um quando essa criança aparece muito na escola e dá problema por ser insubordinado ou quando ele reprimi o conhecimento e não aparece nada e se prejudica. Faz parte também da escola ajudar a identificar no dia a adia, os superdotados”, destaca a psicóloga.
Para ajudar esses alunos, o Ceam mantém uma equipe interdisciplinar que percorre escolas estaduais para identificar crianças com altas habilidades. “É geralmente o professor que identifica esse aluno no dia a dia das aulas. Trabalhamos para levar conhecimento aos diretores e professores, para cada vez mais poder ajudar essas crianças”, explica a psicóloga.
O diagnóstico de altas habilidades passa por várias avaliações do Ceam/AHS e, depois de matriculados, também há acompanhamento para pais e responsáveis. “Fazemos encontros de pais para que eles possam conversar e também se identificar. A inclusão aqui também é deles”, destaca Norma Elisa Graldi.
Alunos relatam mudança de vida com a escola
A vida dos superdotados que frequentam o Ceam/AHS pode ser dividida entre antes e depois das aulas no Centro. Isso porque é ali que se encontram com outros iguais e se sentem livres para se expressar.
“Mudou muito em relação a minha autoestima, porque escola para mim é muito importante e aqui pude potencializar o que eu já sabia, que é a arte”, diz a pequena Maria Isabel Teizeira, 14 anos, superdotada com mais conhecimento em arte.
Já Agnes Escobar, 15 anos, relata histórico de bullyng e confusão sobre quem era. “Eu não entendia direito meus sentimentos, sofria na escola por ser muito estudiosa e depois da identificação mudou muita coisa. Agora eu tenho esse acompanhamento e quero seguir carreira de astrobiologia”, conta.
Depois de diagnosticada com altas habilidades, Agnes passou a olhar melhor em volta, nos amigos e percebeu que Guilherme Ribeiro, 16, tinha as mesmas características que ela. “Sempre tive alguma afinidade com a atividade acadêmica. Se situar com outras pessoas que têm altas habilidades é uma forma melhor de se enxergar no mundo. Agora consigo lidar melhor com as pessoas”, conta Guilherme, que também é aluno do Ceam/AHS.
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