Bons no forró e futebol: o que diverte e o que falta de lazer para população indígena de Japorã

Na quinta reportagem especial, o Jornal Midiamax vai mostrar as atividades que divertem e o que falta no lazer dos Guarani Ñandeva

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O lazer dos indígenas em Japorã (Kísie Ainoã, Midiamax)

Ao entrar na Aldeia Porto Lindo, no município de Japorã – distante 426 km de Campo Grande – uma das primeiras cenas avistadas é a partida acontecendo no campo de futebol. Além do esporte, os bailes noturnos, com muito forró, são as principais formas de lazer dos jovens indígenas na aldeia. Na quinta reportagem especial, o Jornal Midiamax vai mostrar as atividades que divertem e o que falta no lazer dos Guarani Ñandeva.

Indígenas de Japorã (Kísie Ainoã, Midiamax)

Um campo de futebol, uma quadra poliesportiva e duas quadras de areia, são os espaços onde os esportes são desenvolvidos dentro da aldeia.

O próprio prefeito da cidade, Paulo Franjotti (PSDB), foi treinador voluntário das crianças. Além do futebol, ele fala que ocorre um “forró muito bom”, promovido pelos próprios indígenas, aos finais de semana.

“Eu fui jogador amador aqui na região e treinava escolinha de futebol voluntária aqui dentro, então vinha duas vezes por semana para cá para treinar as crianças. Isso tudo na época em que fui professor e também secretário de educação. Nunca morei longe de Japorã mais de 30 dias”, conta.

As programações culturais da aldeia envolvem encontros quinzenais da comunidade, com apresentações da banda de percussão indígena. Algumas datas comemorativas, também são marcadas por eventos culturais, como a “Semana Indígena”, e o réveillon na aldeia.

Momento de diversão na Aldeia Porto Lindo, em Japorã. (Arquivo Pessoal)

“No Réveillon mais de mil pessoas vêm para a festa, e a maioria são brancos. Tem a semana indígena também, que são quatro dias de festa. É em abril, e mais de mil pessoas [comparecem], maioria são visitantes. Não há brigas, as pessoas ficam hospedadas na cidade”, explica o cacique da aldeia, Roberto Carlos.

Indígenas em momento de lazer na Aldeia Porto Lindo (Arquivo Pessoal)

Os bailes que acontecem a cada duas semanas também divertem os mais jovens. Na ocasião, o forró produzido dentro da aldeia, é o grande atrativo. Mas, de acordo com o prefeito, a vida noturna na aldeia, com festas recorrentes, já trouxe problemas de violência para o local.

“A violência dos jovens diminuiu bastante porque diminuíram as festas. Duas vezes por mês eles têm bailes noturnos. Eles liberam para os bailes. Aqui na aldeia tem um forró diferenciado”, explica.

Dupla de forró é sucesso na aldeia

O grupo Guaranizinhos do Forró nasceu em 2010, quando os amigos da aldeia Porto Lindo procuravam uma diversão. Os jovens se juntaram para aprender a tocar os instrumentos, e começaram a escrever as próprias músicas. Atualmente, o grupo é conhecido na região e já se apresentou em outras aldeias de municípios próximos, como Caarapó e Antônio João.

O grupo indígena foi o pioneiro a produzir o forró e se apresentar nas aldeias, e após ficarem conhecidos, inspiram jovens de outras aldeias a formarem seus próprios grupos musicais. A reportagem conversou com Juvenil Samaniego, de 30 anos, um dos integrantes da dupla.

Veja aqui um pouco do início da história do grupo Guaranizinhos do Forró:

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O que falta de lazer na aldeia Porto Lindo?

Apesar da riqueza cultural, o cacique da aldeia, Roberto Carlos, explicou à reportagem que o local ainda necessita de opções para as crianças e jovens se divertirem. Durante a semana, a maioria vai da escola para suas casas, e o futebol é a única distração.

O lazer dos indígenas em Japorã (Kísie Ainoã, Midiamax)

“Não temos pracinha, o único lugar que temos para brincar é jogar bola, tomar cachaça, a cada 15 dias faz um bailinho, a gente dança, que chega a dar mil pessoas, então não tem onde as crianças irem, o jovem, a escola durante a semana, futebol e a festinha é o isolamento total neste ciclo”, lamenta o cacique.

No caso do turismo, o cacique fala que, mais recentemente, está percebendo o interesse das pessoas em conhecer a comunidade indígena.

“Do ano passado para cá, estamos recebendo algumas pessoas, que estão querendo vir aqui e conhecer a comunidade. Elas são levadas na ‘Cachoeira do amor’ e na ‘Garganta da Pedra’, que são os atrativos turísticos que temos aqui dentro da aldeia. É o início, mas, queremos cada vez mais mostrar a nossa comunidade”, comentou.

Apresentação com o cavalo na Aldeia Porto Lindo (Arquivo Pessoal)

Além disso, o cacique fala que a “Semana do Índio” recebe turistas de todo o Mato Grosso do Sul, além de outros estados brasileiros. “Já temos o nosso réveillon que está dando mais de mil pessoas e a maioria são brancos. A semana indígena agora também. São quatro dias de festa em abril e a maioria são visitantes. Não há brigas, as pessoas ficam hospedadas na cidade, então, é assim que a gente quer mostrar o convívio”, disse.

Conforme o cacique, assim que os turistas “sentem o clima na aldeia” querem estar cada vez mais próximos. “O pessoal vem, almoça com a gente, anda com a gente e vê o carinho que temos com quem se interessa pela nossa causa. Este alguém, depois, se torna defensor da causa e muitos voltam para fazer novas visitas. Inclusive, estava agendando uma pessoa aqui”, finalizou.

Censo Demográfico Indígena

Japorã fica na região sul de MS. (Divulgação Prefeitura de Japorã)

Censo Demográfico Indígena foi realizado em áreas urbanas, rurais e em TIs (Terras Indígenas), sendo a coleta iniciada no dia 1º de agosto de 2022 e encerrada no dia 28 de maio de 2023. 

Conforme apurado, a população indígena do Estado cresceu 51,04%, saindo de 77.025 em 2010 para 116,346 pessoas em 2022. Os povos originários representam 4,22% dos moradores de Mato Grosso do Sul, a qual chegou a 2.756.700 habitantes. 

Ao todo, MS tem 43 TIs, seis a mais do que em 2010. A média de moradores em domicílios particulares permanentes ocupados é de 3,51 com pelo menos um morador indígena.

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