Enquanto salário aumentou 26% em 5 anos, reajustes de energia podem somar 54% e consumidores reclamam: “um absurdo”
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Nos últimos cinco anos, o salário mínimo no Brasil acumulou reajuste de 26,3%. Em contrapartida, a conta de energia elétrica em Campo Grande já acumula 38,06% de reajuste no mesmo período e pode aumentar mais 16% nos próximos dias, chegando a 54% de reajuste em cinco anos.
Em Campo Grande, a expectativa de um reajuste em dois dígitos causa indignação. “É um absurdo. O salário não sobe desse jeito e a energia cada mês é mais cara. Desse jeito, vamos ficar sem luz”, reclama a dona de casa Maria Souza.
Na casa dela, no jardim Itamaracá, vivem apenas ela e o marido, com poucos eletrodomésticos: a televisão fica desligada a maior parte do tempo; a máquina de lavar, usada apenas uma vez por semana; e o ventilador é o que fica ligado para aguentar o calor. Mesmo assim, o valor segue aumentando todos os meses.
“Em vez de diminuir, só aumenta a conta. Graças a Deus não pagamos aluguel, porque ficaria impossível”, diz a dona de casa.
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No bairro Universitário, a dona de casa Marinalva Guedes, 56 anos, mostra as contas antigas para o Jornal Midiamax. Ela afirma que não vê motivos para aumentar tanto a conta de energia, já que ela não comprou eletrodomésticos nos últimos anos que justificassem o aumento.
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Na casa vivem apenas ela e o marido, que evitam o desperdício de energia elétrica. “Durante o dia, eu fico ouvindo o rádio, mas quando vou mexer com as panelas, desligo. Se liga a TV, desliga a luz da sala. Compramos uma garrafa térmica de oito litros e colocamos água gelada para beber durante o dia e não ficar abrindo a geladeira, mas mesmo assim está sempre aumentando”, argumenta a dona de casa.
A costureira Patrícia Cristina de Souza, 48 anos, conta que já até ligou na Energisa para reclamar do aumento, mas foi informada que a energia elétrica teve reajuste para todo o Estado e que o valor a pagar era o correto. Na casa dela vivem três adultos e a conta chega aos R$ 280.
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Patrícia chegou a comprar um aparelho de ar-condicionado para ter mais conforto, há dois anos, mas devido à conta de luz desistiu e vendeu o aparelho. Ela e o marido, o pedreiro Marcelo Tavares, 44 anos, dizem acreditar que as contas subiram muito nos dois últimos anos por conta da isenção que alguns consumidores tiveram por conta da pandemia.
“Eu acho que estamos pagando por quem não paga. Fica difícil assim. Está igual à gasolina que sobe todo dia. Não tem motivo esse aumento. Calorzão desse, nem chuveiro quente usamos. Nós trabalhamos só para pagar contas”, diz Patrícia.
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A cuidadora de crianças Maria Olívia, 72 anos, diz que toda vez que a conta chega, fica na dúvida se gastou tudo o que é cobrado. “Somos meio leigos para entender, então fica difícil saber. Tem que tomar muito cuidado para não gastar muito”, conta.
Maria cuida de crianças do bairro na casa dela e, atualmente, são apenas três. “Há dois anos eram oito crianças aqui e a conta era de R$ 38, R$ 36. Agora são três e a conta vem R$ 50, R$ 56, R$ 70. Aqui é um bairro simples faz muita diferença”.
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Reajuste do salário mínimo Reajuste da energia
2022 – 10,0% 2022 – 16% previsto
2021 – 5,26% 2021 – 8,9%
2020 – 0,58% 2020 – 6,9%
2020 – 4,11%
2019 – 4,61% 2019 – 12,39%
2018 – 1,81% 2018 – 9,87%
Novo reajuste já está na porta
A primeira reunião para debater o aumento na conta de energia pedido pela Energisa em Mato Grosso do Sul será realizada nesta terça-feira (5), em Brasília. Segundo o Concen-MS (Conselho de Consumidores das Áreas de Concessão da Energisa em MS), o reajuste não deve ser menor que 16%, já que a atualização segue o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), que teve inflação acumulada nesse patamar. Se aprovado, o aumento deve vigorar a partir de 8 de abril.
Para o Concen, pouco pode ser feito para evitar o reajuste, já que o contrato firmado com a Energisa tem como premissa dos reajustes o acumulado do IGP-M. No mês de março, Rosimeire Costa, presidente do Concen, teve reunião virtual com a assessoria da diretoria da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para tratar do empréstimo setorial que deve mitigar os efeitos do RTA (Reajuste Tarifário Anual) de abril.