Em 2022, as máscaras ‘caíram’ e a população pôde abraçar o ‘velho normal’ de novo

Decretos que obrigavam o uso de máscaras, principalmente em locais fechados, foram substituídos por recomendações e fizeram a população respirar livre novamente

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MS registra novas mortes por SRAG. (Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

Era abril de 2020. Nesse tempo, com a população “trancada” em casa, também foi necessário encarar um novo item de vestuário, de uso obrigatório: as máscaras de proteção. Feitas de diversos materiais – inclusive tecido comum -, os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) foram a indicação das autoridades de saúde para diminuir a probabilidade de contaminação com o SarCov2, o novo coronavírus.

Você se lembra bem: sair de casa sem uma armadura dessas no rosto era impensável, ainda mais num Brasil que ainda não dispunha de vacinas, com milhares de mortes diárias, em um mundo que tentava entender como o vírus que mudaria o ritmo da vida de 8 bilhões de humanos se comportava. Era o que os jornais chamavam de “novo normal”.

A volta do “velho normal”

No entanto, passados aproximadamente dois anos, a obrigatoriedade do uso das máscaras caiu – para a alegria de milhões e desconfiança das autoridades de saúde. O fato é que, com a variante Ômicron (mais transmissiva e menos grave) e com a disponibilização das vacinas, o mundo começou a parecer com o que já havia sido.

A volta do “velho normal” era o desejo coletivo. Nesse contexto, o ano de 2022 ficaria marcado na história como o “início do fim” da pandemia do coronavírus e, por consequência, o relaxamento das medidas restritivas – o uso de máscaras, sem dúvidas, o mais emblemático delas.

Nesta matéria especial de retrospectiva, o Jornal Midiamax vai lembrar os caminhos da queda da obrigatoriedade do EPI, que fez o mundo se vestir diferente. Das máscaras de pano, às máscaras cirúrgicas, aos modelos “antivirais”, a N95, até restarem – para o bem ou para o mal – esquecidas em gavetas.

O cair das máscaras

Suor no rosto, óculos embaçado, respiração ofegante. O uso de máscaras era o mal necessário que teve seu declínio em 2022. Porém, no início deste ano, o uso obrigatório do EPI, em Campo Grande e em algumas partes de Mato Grosso do Sul, somente era exigido dentro do transporte público coletivo e em unidades de saúde.

O pontapé para o início da flexibilização se deu com Governo do Estado, que publicou um decreto que desobrigava o uso de máscaras em locais fechados em MS, em março de 2022. “O uso de máscara de proteção individual é facultativo em qualquer ambiente de circulação pública, aberto ou fechado, no território sul-mato-grossense”, diz parte do decreto.

Mas, isso foi como capítulo de novela. Isso porque a contenção da covid-19 não ficou vinculada nem à União e nem aos estados, com os municípios tendo, em tese, autonomia para gerir a pandemia conforme achasse necessário.

Flexibilização

A publicação estadual, no caso, reforçava que os municípios continuavam tendo a competência para estabelecer medidas mais restritivas quanto ao uso de máscara. E foi desde então que os municípios começaram a flexibilizar os decretos relativos à pandemia de acordo com os números registrados nos seus territórios.

Foi em agosto de 2022, no entanto, que decreto assinado pela prefeita da Capital, Adriane Lopes (Patriota), tornou facultativo o uso dos EPIs na Capital, derrubando sua exigência em qualquer ambiente. Na prática, a norma desobrigou o uso não só no interior dos veículos de transporte urbano, como também nas unidades de saúde.

Segundo o Executivo Municipal, a publicação da norma considerou “a redução expressiva do número de casos graves confirmados de covid-19, no município de Campo Grande e a queda da taxa de internação por covid-19 em hospitais públicos e privados”.

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Decreto no Diogrande (Foto: Reprodução)

Adaptação ao “velho normal”

A queda da obrigatoriedade de uso de máscaras foi celebrada, mas também dividiu opiniões. A auxiliar administrativa Suellyn Ramos, de 34 anos, diz ter ‘respirado melhor’ quando o decreto foi publicado. “Eu trabalhava sozinha em uma sala fechada, quase não tinha contato com outras pessoas durante o dia. Mas, era norma da empresa também”, contou ao Jornal Midiamax.

Já a estudante Vitória Almeida, de 20 anos, preferiu continuar usando máscara dentro do transporte coletivo. “No ônibus você tem contato com muita gente que passou por muitos lugares que você nem sabe. É um risco”, opinou ela, que depois se sentiu mais segura para deixar de usar o EPI.

Volta às aulas

O ano de 2022 também ficou marcado pela volta às aulas totalmente presenciais em Mato Grosso do Sul, também como capítulo de novela, já que as indefinições quanto ao retorno presencial dos alunos perdurou quase até o início das aulas, em março. Isso porque, naquela época, o Estado ainda enfrentava certa instabilidade no aumento dos casos de covid-19 e o retorno dos alunos poderia piorar a situação epidemiológica em MS.

Ainda assim, as aulas voltaram e, em Campo Grande, cada uma das crianças recebeu máscaras de proteção – que teve uso obrigatório -, além de passar por aferição da temperatura na entrada da escola. O comprovante de vacinação contra a Covid-19 não foi exigido, uma vez que a imunização contra a doença não é obrigatória. Tanto na Reme (Rede Municipal de Ensino), quanto na REE (Rede Estadual de Ensino), as aulas voltaram totalmente presenciais no dia 3 de março.

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Volta às aulas em escola de Campo Grande (Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

Uso das máscaras pode voltar a ser obrigatório?

As últimas semanas, no entanto, ficaram marcadas com a volta da covid-19 aos noticiários de TV e às páginas dos jornais: encarada, atualmente, como sazonal, o vírus voltou a se propagar e a fazer novas vítimas.

A ascenção de casos reativou o alerta para a doença e, talvez, para a volta de medidas mais restritivas. A pergunta que fica, portanto, é: vamos voltar a usar máscaras?

Em Mato Grosso do Sul, tanto o Governo do Estado como a Prefeitura de Campo Grande apenas recomendam o uso, assim como algumas cidades do interior do Estado. Até o momento, a obrigatoriedade segue descartada, sem perspectiva de mudança neste cenário.

Interior

Além da Capital, Ribas do Rio Pardo também adotou a recomendação do uso de máscaras na cidade. Nioaque e Selvíria também estão de olho na doença e já retomaram o uso obrigatório de máscaras em postos, hospitais e unidades de saúde dos municípios.

Segundo a presidente do Cosems/MS (Conselho das Secretarias Municipais de Saúde de MS) e secretária em Santa Rita do Pardo, Maria Angélica Benetasso, os dirigentes estão em alerta, principalmente nesta época do ano, onde ocorrem reuniões e maior circulação de pessoas.

Outros estados

Em novembro, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde publicou nota técnica em que recomenda o uso de máscara pela população e a adoção de outras medidas, como ampliação da vigilância genômica, por estados e municípios.

Alguns dias depois, o uso de máscara no transporte público voltou a ser obrigatório em São Paulo capital. O Governo do Estado de São Paulo recomendou que todos os municípios sigam a medida.

Até o momento, o aumento de casos não fez com que os mandatários publicassem decretos mais restritivos em Mato Grosso do Sul, considerando a baixa dos casos e número de mortes em queda.

O que esperar para 2023?

De fato, o período pandêmico trouxe algo novo para cada ser no planeta Terra: “Do crente ao ateu”, como diz a música do grupo Preto no Branco. Nas camadas da sociedade, alguma experiência vivida durante os tempos árduos do coronavírus servirá de ensinamento para 2023.

Em 2022, as pessoas experimentaram a transição, inclusive, com a percepção de uma espécie de “etiqueta respiratória” a ser usada por pessoas com sintomas gripais. São os legados da pandemia que devem seguir em 2023.

Para a estudante Vitória, foi difícil voltar aos velhos hábitos que eram simples antes da pandemia.

“Foi estranho não usar máscara, tinha um misto de medo e desconforto. Foi muito tempo usando e parecia que faltava uma peça de roupa [quando estava sem]”, relata ela à reportagem. “Eu ainda uso se preciso ir ao posto ou quando tenho algum sintoma”, completa.

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Máscaras passaram a ser somente recomendadas nos ônibus (Foto: Arquivo/ Jornal Midiamax)

“A gente tinha um inimigo em comum”

Na área da saúde, o recém-empossado Secretário Municipal de Saúde de Campo Grande, Sandro Benites, tem a missão de elevar a experiências ao nível de cidade para os próximos anos.

“Eu acredito que o mais importante é que nós conseguimos fazer uma união; uma parceria. E o ensinamento mais importante é que em um momento de crise, a união é fundamental, entre Estado, Município e até mesmo nível federal. A gente tinha um inimigo em comum”, opina ao Jornal Midiamax.

Benites citou a parceria com as universidades, Sesi, Senai, Sest, a Casa da Indústria. “As unidades de saúde, os profissionais de saúde, a população. Acho que foi fundamental para a gente voltar a normalidade o mais rápido possível”, considera o secretário.

Assim, para 2023, Benites cita que o direcionamento único levado pelos gestores de Mato Grosso do Sul é o maior ensinamento da pandemia.

“Aqui no nosso Estado a gente conversou: Estado e Municípios. Eu acho que isso fica um legado. […] nós temos grandes desafios na área da saúde que somente com a união, uma parceira público-privada, comunitária, de ensino e pesquisa, de participação popular, é que a gente vai conseguir vencer os grandes desafios”, finaliza Benites.

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Comércio de Campo Grande (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Outros impactos

Muito se discutiu sobre a economia, as perdas e a transformação do modo de comprar durante os anos de pandemia. Para o secretário Adelaido Vila, da Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio), as relações de consumo foram as mais alteradas no período pandêmico.

“Nós fomos obrigados a acelerar o tempo em pelo menos 10 anos e hoje temos aí infinitas realidades. Diferentes do que nós tínhamos antes da pandemia”, inicia Vila ao Jornal Midiamax.

“O serviço de delivery está muito forte; a compra online está muito forte. O físico não desapareceu, mas o digital assumiu uma parcela daquilo que era 100% físico. Nós estamos chamando esse novo momento de ‘Figital’”, explica.

‘Figital’

O ‘Figital’, segundo Adelaido, é o modelo híbrido de compra, ou seja, o físico com o digital. O período da pandemia obrigou as empresas a estarem presentes nas redes sociais ou aplicativos. “De alguma forma ele tem que fazer presença. Assim que ela está tendo que se comportar”, explica.

Além da presença na internet, é cobrada das empresas a capacidade de se comunicar com o cliente. “Não adianta também estar presente digitalmente sem ter a capacidade de se comunicar com o cliente”, alerta o secretário.

Assim, os anúncios nas redes sociais despertam o interesse no consumidor, que ‘corre atrás’ de informações do produto. “O cliente teve uma mudança da jornada. […] você desperta ele no Figital, dá um atendimento para ele, e, conforme o atendimento que você dá, ele vai te procurar e aí o momento que ele vai no físico”, comenta.

Adelaido ainda explica que se o consumidor não for bem atendido, ele vai procurar empresas semelhantes e acabar comprando em outro lugar. “Você teve o trabalho de despertar a necessidade, mas não conseguiu fechar a venda porque você não tinha atendimento no Figital”, ressalta.

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Número de empresas ativas cresceu (Foto: Marcos Morandi, Midiamax)

Mudanças

Outra mudança de comportamento apontada pelo secretário é que os locais precisam investir mais em comunicação do que em espaço físico. “Você pode ter um espaço menor e se comunicar com seu cliente de uma forma melhor. Investir mais na comunicação do que no espaço físico”, esclarece ele.

“Nós acreditamos que daqui para frente, e agora com a chegada do metaverso também, outras oportunidades; novas possibilidades ocorrerão o tempo todo”, finaliza.

Ele ainda ressalta que o físico não vai desaparecer. “Os dois vão caminhar juntos. O que a gente precisa, na verdade, para 2023, é equilibrar os dois. ‘Eu preciso ter atendimento nos dois, porque se eu não tiver atendimento nos dois, eu não consigo vender’”, destaca.

Quando todos estavam se adaptando ao ‘novo normal’ era difícil imaginar ou ter alguma perspectiva sobre seu fim. O futuro trouxe o ‘velho normal’ de volta, mas para muitos esses hábitos passados sofreram modificações.

E você, o que vai levar para o seu 2023?

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