A Avenida Lúdio Martins Coelho foi inaugurada há 12 anos e se tornou a principal via de ligação entre ao menos 11 grandes bairros, onde vive uma população estimada de 120 mil pessoas. Porém, o serviço de transporte coletivo não acompanhou o crescimento de e a região do Lagoa continua sem ter linha de ônibus eficiente que percorra a principal avenida da região.

Apesar das constantes e de passageiros que moram na região, o Consórcio Guaicurus ignora a situação e mantém a Lúdio Martins sem uma linha para atender com rapidez os milhares de trabalhadores dos bairros.

Conforme consta no contrato de concessão com o município, criar novas linhas e serviços é responsabilidade do grupo de empresas que explora o transporte coletivo da cidade. Isso deve ocorrer “em função de fatores como o crescimento natural da demanda ou da dinâmica do uso e ocupação do solo”. É o que específica a cláusula 1.8 do contrato firmado em 2012, com validade de 20 anos.

Trecho do contrato de concessão que determina responsabilidade de criar novas linhas ao Consórcio Guaicurus. (Imagem: Reprodução)

Moradores fazem pedido para novas linhas há anos

Assim, reportagem do Midiamax de 2019 mostrou o questionamento da população, que cobrava uma linha que pudesse ligar diretamente os bairros ao Centro, como muitos outros têm. “Quando abriu a avenida nova aqui eu até pensei que teria mais pontos de ônibus e linhas novas, mas não teve nada”, uma moradora exclamou.

Se passaram mais três anos desde então e a avenida segue sem ser contemplada com algum itinerário do transporte público.

O comerciante Adeirson Vieira de Lima, de 66 anos, mora na região desde 1998 e acompanhou a evolução do bairro. Ele conversou com a reportagem e disse que apenas uma linha de ônibus corta o bairro e que o tempo de espera é longo para os passageiros.

“Seria muito bom ter uma linha de ônibus que passasse nessa avenida. Minha neta quando vem para cá pega o ônibus, desce no terminal e eu vou lá buscar. Se passasse alguma linha na avenida seria muito mais fácil e seguro”, disse.

Adeirson mora na região há 24 anos | Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax

Na região do bairro União, houve construções de comércio, condomínios e supermercados atacadistas. Apesar do investimento dos empresários e construtoras na região, a falta de uma linha que corte a avenida chama atenção.

Outro comerciante na região, Kauê Gualberto disse acreditar que a avenida não é contemplada com linha de ônibus, pois é uma via de acesso rápido para os motoristas da região. No entanto, acredita que a inclusão de linha seria benéfica aos moradores. “O desenvolvimento tem que acompanhar”, comentou.

Ônibus na região

Pelo próprio site do Consórcio, é possível realizar simulações para qual linha quem mora nesses bairros deve utilizar para se deslocar a outros locais. Confira o resultado de simulações feitas até a Praça Ary Coelho e para a avenida Júlio de Castilho.

Sem linha de ônibus na Lúdio Martins, ferramenta no site do Consórcio sugere passageiro andar a pé por 52 minutos para chegar até a Júlio de Castilho.

É possível notar que quem mora em regiões mais próximas ao Centro tem mais facilidade, como no caso de quem mora na região do União/Oliveira, que pode pegar a linha 301. Porém, para ir até a Avenida Júlio de Castilho, o site sugere que o passageiro vá a pé, pela Lúdio Martins Coelho, que não tem uma linha específica.

Para quem vive no Santa Emília ou no Portal Caiobá, por exemplo, é necessário pegar linhas que atravessam a avenida Lúdio Martins para chegar a algum terminal como o ou Bandeirantes. Depois, precisam esperar por outro ônibus para seguir ao Centro, por exemplo.

Como a Lúdio Martins não tem uma linha que corte a avenida, o passageiro que desejar ir para a região da Júlio de Castilho também precisa ir para um desses terminais para pegar uma linha que passe pelo Centro e, somente depois, conseguir chegar à avenida.

Na extensão da Lúdio Martins Coelho e de seu prolongamento, a Nasri Siufi, estão localizados 11 grandes bairros: Bandeiraintes, Taveirópolis, Caiçara, União, Leblon, São Conrado, Tijuca, Batistão, Coophavila II, Tarumã, Caiobá. 

Agetran justifica baixa demanda

Conforme a Agetran (Agência Municipal de Trânsito) – órgão municipal responsável por fiscalizar o Consórcio Guaicurus -, o motivo de não haver linhas que percorram a Lúdio Martins é a falta de demanda.

“Hoje o transporte coletivo possui aproximadamente 7 linhas que cruzam a Avenida Lúdio Martins Coelho, atendendo os bairros da Coophavila, Portal dos Laranjais, União, Bonanza, Leonel Brizola, Antártica, Oliveira e Taveirópolis. Assim, não há demanda suficiente para implementação de uma linha que percorra a Lúdio em sua extensão”, disse Agetran em nota.

A reportagem solicitou posicionamento ao Consórcio Guaicurus, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação.

Cálculo do Consórcio aponta tarifa a R$ 8

Com a tarifa atualmente a R$ 4,40, planilha do Consórcio Guaicurus aponta para reajuste que pode fazer a tarifa chegar a R$ 8 no transporte público de Campo Grande. No entanto, para o Município, o valor não tem espaço nas negociações para a tarifa que será discutida para 2023.

Conforme o diretor-presidente da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), Odilon de Oliveira Júnior, o valor é inviável para o bolso da população da Capital e agência trabalha em reformulação do contrato – que completou uma década – em que prevê melhorias e penalidades para as empresas que integram o consórcio.

“Estamos fazendo uma reformulação no contrato para trazer inovações, vamos submeter à prefeita para que através da PGM fazer uma melhor prestação de serviço. Um dos pontos, um dos que mais a população reclama, é de atrasos. E nessa reformulação, se o ônibus atrasar vai descontar [do consórcio]”, disse à reportagem.

Midiamax questionou o diretor da agência sobre o valor concluído em estudo pelo Consórcio Guaicurus e, segundo ele, quem define o valor é a Agereg, que ainda não definiu o novo cálculo da tarifa. 

“Quem calcula o valor é a gente [Agereg], vamos mudar a fórmula para que fique uma tarifa mais justa para o consórcio e também para a população. Se colocar uma tarifa nesse valor, ninguém vai pegar ônibus”, afirmou.

Consórcio deve explicar por que não cumpriu acordo

Consórcio Guaicurus admitiu em reunião na Escoex (Escola Superior de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul) no início do mês que cumpriu 5 dos 18 pontos do TAG (Termo de Ajustamento de Gestão) firmado há dois anos.

Assim, foi dado prazo para apresentar as soluções para cumprir os pontos e realizar as melhorias no atendimento à população.

No entanto, o Consórcio condicionou a aplicação das mudanças ao reajuste do passe de ônibus em 2023. A ideia não é descartada pelo diretor-presidente da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos Delegados), Odilon de Oliveira Júnior.

“Atualmente quem paga é o consumidor e nós queremos criar um sistema misto para ajustar a forma de remuneração ao Consórcio. Essa remodelagem do sistema de transporte público é necessária para dar continuidade ao serviço e esperamos aplicá-la até o início de 2023, junto com o reajuste”.

O valor da tarifa do transporte coletivo é anualmente discutido pela Agereg por previsão contratual estabelecida quando o Consórcio Guaicurus assumiu o serviço de transporte público de Campo Grande.