Com novo surto, busca por medicamentos do ‘kit covid’ aumenta em até 60% em Campo Grande

Eficácia contra o coronavírus ainda não foi cientificamente comprovada

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Com uma nova onda de contaminações por coronavírus nas últimas semanas, a procura por medicamentos do ‘kit Covid-19’ apresentou um aumento nas farmácias de Campo Grande, mesmo que, atualmente, a eficácia dessas drogas contra a covid tenha sido descartada pelos próprios fabricantes. Seja Ivermectina ou Hidroxicloroquina, a procurar pelo suposto tratamento preventivo ainda persiste no imaginário popular.

Em uma farmácia localizada na rua Rui Barbosa, a farmacêutica responsável notou um aumento significativo na demanda por um desses medicamentos. “A procura por Ivermectina aumentou em 60% nos últimos dias. Ela chegou a ficar em falta, mas já voltou aos estoques”, disse Daniela Molina, de 47 anos.

Conforme a farmacêutica, o perfil da procura acaba seguindo um certo padrão. “É a recomendação do kit covid-19, muitas pessoas não pararam de tomar e algumas começaram agora com a nova onda” explicou.

Na 13 de Maio, o gerente financeiro e administrativo de uma farmácia também sentiu aumento na procura por Ivermectina. “Tem médico que ainda está receitando para prevenção e tratamento. A demanda dela subiu cerca de 20%”, explicou.

Em outro ponto do centro, na Rua Marechal Candido Mariano Rondon, a farmacista Heloise Catherine, de 24 anos, viu o novo surto de coronavírus refletir na procura pela Hidroxicloroquina. “Há cerca de duas semanas a procura aumentou em 80%”, disse ela.

Ivermectina funciona?

A ivermectina é um medicamento utilizado para tratar infestações de piolho e sarna e, na pandemia, se tornou muito popular diante da suposta possibilidade de ajudar no tratamento e prevenção da covid-19. O presidente Jair Bolsonaro, por diversas vezes, defendeu o uso do medicamento combinado com a cloroquina no tratamento precoce da doença, o chamado ‘kit covid’.

Apesar de várias pesquisas já terem sido realizadas, a eficácia da ivermectina na prevenção e tratamento do coronavírus não foi comprovada. Um dos estudos que apontava a possível eficácia do medicamento, chefiado pelo médico Ahmed Elgazzar, foi despublicada há alguns meses. 

A pesquisa apontava que os pacientes tratados com o medicamento tiveram recuperação mais rápida e redução da mortalidade em 90%. Contudo, o estudo foi derrubado após suspeita de plágio, no qual parágrafos inteiros da pesquisa teriam sido copiados de sites.

Em julho, cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, iniciaram nova pesquisa sobre o uso de ivermectina em casos de covid, com objetivo de comparar pessoas que receberam a ivermectina e pacientes que receberam os cuidados rotineiros no sistema de saúde britânico. Mesmo com alguns resultados positivos iniciais, o pesquisador-chefe, Richard Hobbs, disse que seria prematuro recomendar a ivermectina para pacientes com coronavírus.

Vale lembrar, no entanto, que o próprio fabricante do medicamento já havia anunciado não haver eficácia da ivermectina contra covid. Em média, costuma-se receitar meio comprimido a cada 25 kg corporais. Desta forma, um indivíduo de 50 kg deve tomar um comprimido. Pacientes com 75 kg devem tomar 1,5 comprimidos. Logo, pessoas com 100 kg tomam dois comprimidos. A dose é única para os casos indicados em bula, como eliminação de parasitas intestinais.

O problema é que a comunidade científica tem observado casos que vão de grandes alterações no fígado até mesmo a hepatite medicamentosa, após a prescrição da ivermectina para prevenir a covid: alguns protocolos de ivermectina receitam 4 comprimidos pela manhã, durante três dias, somado a outras drogas (protocolo de tratamento precoce). O protocolo preventivo recomenda de 2 a 4 comprimidos por mês, a depender do peso.

Em São Paulo, há registro de pacientes que tiveram lesões permanentes no fígado após uso desencomendado da droga. Pelo menos 5 pessoas no estado vizinho entraram na fila de transplante em decorrência do uso contraindicado.

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