O trecho da , nas proximidades de Ribas do Rio Pardo, cidade a 100 quilômetros de , se tornou um novo foco de acidentes em Mato Grosso do Sul. Segundo dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal), foi registrado um aumento de 80% no número de acidentes no trecho da rodovia do dia 1º de janeiro de 2022 até o dia 15 de março, em comparação com o mesmo período do ano passado, saltando de 10 para 18 registros.

Conforme a PRF, a instalação de novas atividades econômicas na região — ligadas ao plantio de eucalipto e fábricas de celulose — influencia o aumento do fluxo de veículos e, consequentemente, o maior número de acidentes.

Já os acidentes graves tiveram um aumento de 300%, com apenas um em 2021 e 4 em 2022. Já em 2020, foram 73 acidentes, sendo 8 graves; e 59 em 2021, com 12 graves. O número de óbitos subiu de 43, durante todo o ano de 2020, para 57, em 2021, com 5 óbitos no primeiro ano e 6 no segundo.

Só nos primeiros meses de 2022, de 1º de janeiro a 15 de março, foram 14 feridos e 5 mortes, enquanto no mesmo período do ano passado foram 12 feridos e zero mortes. O número de mortes na BR-262 em Ribas do Rio Pardo nos primeiros três meses deste ano já se equipara ao total dos anos anteriores: 6 em 2021 e 5 em 2020.

O acidente mais recente ocorreu nesta terça-feira (22) e deixou a BR-262 interditada entre Água Clara e Ribas do Rio Pardo por oito horas. O motorista de uma das carretas envolvidas — uma de fábrica e outra boiadeiro — morreu, e outras duas pessoas ficaram feridas, sendo encaminhadas a hospitais de Ribas e Água Clara.

Um dos sobreviventes, de 45 anos, teve de ser transferido, horas depois, para a de Campo Grande, onde teve uma das pernas amputada. A cabine onde estava José Cosme Ramos dos Santos, de 33 anos, ficou totalmente destruída com a colisão e morreu no local. A suspeita é de que o condutor do boiadeiro teria dormido enquanto atravessava a pista.

Rotina de acidentes

Quem passa pelo trecho todos os dias percebeu o aumento no número de acidentes ainda mais de perto. O contador Paulo Alves dos Santos, de 49 anos, mora em e usa a BR-262 para ir até seu escritório em Ribas do Rio Pardo e a principal diferença notada por ele é o maior fluxo de caminhões desde que uma empresa de fabricação de celulose se instalou no município.

“Eu vou e volto duas vezes na semana e depois do trevo Mutum, em Santa Rita do Pardo, se não tiver cuidado, o asfalto ‘toma' o volante, por conta dos declives e defeitos. Além da pista ser simples, passam muitas carretas e os motoristas são muito imprudentes”, afirma Paulo.

O motorista Vandir de Oliveira Silva, de 58 anos, é dono de uma empresa de transporte por vans e, junto a dois sobrinhos, faz o trajeto entre Ribas do Rio Pardo e Campo Grande três vezes por dia há 20 anos. Para ele, nas últimas semanas, houve um aumento considerável de acidentes, mesmo os sem muita gravidade.

“Eu lembro de uma vez que por pouco uma S10 não atingiu a gente. Estávamos quase chegando em Campo Grande e meu sobrinho estava dirigindo, ele vinha mantendo uma distância do caminhão que estava na frente e de repente surgiu uma caminhonete ultrapassando todo mundo. O caminhão teve que sair da frente duma vez, ele também, e um dos carros que vinham atrás acabou batendo em outro, tiveram que desviar e sair pelo acostamento. Tomamos o maior susto”, relembra.

Mortes todos os meses

No dia 25 de janeiro, três pessoas morreram após uma caminhonete Chevrolet S-10 tentar fazer uma ultrapassagem na subida da rodovia, possivelmente em local indevido. No sentido contrário, seguia um Kwid, em direção à Água Clara, que não conseguiu evitar a colisão. Com o impacto, os dois veículos foram arremessados para fora da pista.

No dia anterior, em 24 de janeiro, três pessoas morreram após uma colisão frontal entre um carro de passeio e um caminhão. O caminhoneiro foi preso por omissão de socorro após fugir para uma mata logo depois do acidente. No dia 26 de novembro do ano passado, uma mulher de 32 anos morreu após ser atingida por uma peça de caminhão, também na BR-262 em Ribas do Rio Pardo.

Ela seguia em seu veículo Fiat Uno junto ao marido e duas crianças, que ficaram feridas e receberam atendimento em um hospital próximo. A peça, uma capana do freio do veículo, atingiu a cabeça da vítima, que morreu na hora. A Polícia Civil ainda apura as circunstâncias em que a peça se soltou.

Já no segundo dia do ano, uma Chevrolet S10 e um Volkswagen Polo colidiram na altura do km 250. Na ocasião, cinco pessoas ficaram feridas e o motor do Polo chegou a ser arrancado com a força da batida. Os ocupantes da camionete seguiam sentido Três Lagoas e os do Polo, Campo Grande. Três passageiros são de Paranaíba.

Solicitação da Prefeitura

Conforme explicado pelo prefeito da cidade, João Alfredo Danieze, ao Jornal Midiamax, um ofício foi enviado ao Ministério da Agricultura no dia 31 de janeiro deste ano, com pedido de apoio para que “sejam criados mecanismos para diminuir e minimizar os problemas gerados na referida rodovia junto ao Governo Federal”. Um relatório com os “piores trechos e com maiores índices de acidente” foi elaborado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), a pedido da Prefeitura.

Segundo Danieze, os acidentes aumentaram significativamente com a construção da fábrica de celulose no município, que é dita pela Prefeitura como “a maior fábrica de celulose do mundo”. Ainda conforme o ofício, o trecho Campo Grande – Três Lagoas é rota de caminhões tritrem com carregamento de madeiras de eucalipto, além de caminhões bitrem que transportam minério de ferro, saindo da cidade de Corumbá, com destino a e Minas Gerais.

No pedido enviado ao Ministério da Agricultura, o prefeito solicita a duplicação de todo o trecho Campo Grande – Três Lagoas e a instalação de duas passarelas de pedestres nos quilômetros 240 e 236. Além destas, outra forma de reduzir o número crescente de acidentes seria a instalação de semáforos no trecho principal da cidade, rota de veículos leves, caminhões pesados, motocicletas e pedestres, “já que a BR-262 ‘corta' a cidade no sentido leste-oeste”.

Três dias após o encaminhamento do ofício, o prefeito afirma ter recebido uma resposta do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, de que “Mato Grosso do Sul será inserido no Programa de Autorização de Ferroviárias e foram feitos seis pedidos de autorização para o Estado”. Além disso, estaria em estudo um modelo de concessão da BR-262 para a iniciativa privada, sem prazo para definição.

Levantamento da PRF

O levantamento feito pela Delegacia da PRF de Três Lagoas apontou os pontos críticos da rodovia, entre os quilômetros 141 e 232. Entre eles, foram destacados o trecho de aclive no km 149, com apontamento de que o trecho forma “momentos de filas de carros por conta de veículos pesados e lentos, sugerindo terceira faixa”. Já no km 164, constatou-se que a sinalização está danificada, enquanto nos kms 167 e 172 não há mais sinalização vertical indicando que é proibido ultrapassar.

(Foto: Reprodução/ Relatório PRF)

No km 179 também não há a mesma sinalização, além de a sinalização horizontal estar “com muitas falhas”, segundo levantamento da PRF. Em um dos pontos mais graves, nos kms 181 e 186, a sinalização das faixas na pista está danificada, inclusive na curva. Os kms 187 e 194 também foram indicados como trechos de aclive, com formação de filas de carros por conta de veículos lentos, como caminhões e carretas. Nos locais, a PRF sugeriu que seja feita uma terceira faixa.

Nos trechos seguintes — que incluem os kms 198, 204, 214 e 225 — não existe mais sinalização de que é proibida a ultrapassagem. Entre os kms 176 e 190, a PRF encontrou “pavimento asfáltico defeituoso em diversos pontos do trecho”, além de buracos no km 163 e acostamento danificado no km 153.