Sem concursos públicos estaduais desde 2014, profissionais da Saúde de enfrentam a política de contratações temporárias implantada nos últimos anos pelo governador Reinaldo Azambuja que fere o funcionamento das unidades de saúde, desmantelando equipes com rodízios de profissionais e afetando diretamente o atendimento a população, segundo acusam os principais sindicatos da área.

Após a pandemia causada pela Covid-19, houve um aumento na contratação temporária de profissionais da saúde, revelando a falta de efetivo permanente atuando nos hospitais do Estado. O presidente do Sintss-MS (Sindicato dos Trabalhadores em Seguridade Social de Mato Grosso do Sul), Ricardo Bueno, pontua as dificuldades de se prestar um bom atendimento com a falta de concurso e constantes contratações deste tipo.

Rodízio de profissionais

“O último concurso realizado foi em 2014, depois tivemos apenas contratações temporárias e é nítida a intenção do governador Reinaldo em implementar essa política de contratações que prejudica a equipe de saúde e o próprio paciente”, disse Bueno ao comparar as contratações com um rodízio de profissionais.

“Se você é contratado e daqui alguns meses seu contrato vai acabar e acaba surgindo uma oportunidade em outro local, você deixa o hospital. Hoje nós (Hospital Regional) temos cerca de 300 profissionais contratados, imagina se eles saem daqui um ano, ou no final da pandemia, essa bomba ia cair no colo da direção que irá precisar contratar e treinar cerca de 300 profissionais tudo de novo”, comentou.

De acordo com o presidente do Sintss-MS, hoje existe um déficit de cerca de 600 a 700 profissionais concursados no Hospital Regional. “Estamos falando do médico, do enfermeiro, do técnico, do farmacêutico e até mesmo da manutenção, se comparar com a Santa Casa eles possuem cerca de 100 profissionais na manutenção, aqui são apenas 20, estão sobrecarregados, caso surja algum problema não tem como resolver na hora porque falta profissional”, exemplificou.

Falta de experiência

O presidente do SinMed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Dr. Marcelo Santana Silveira, avalia que apenas no Hospital Regional, unidade de referência no tratamento contra a , deveria ser realizado concurso para preencher um quadro de ao menos 100 médicos.

Para ele, o principal problema gerado pelas contratações temporárias é a falta de experiência dos profissionais que atendem a comunidade e sintonia com a equipe. “Por exemplo, se fizermos um paralelo com um avião, quanto mais tempo uma equipe trabalha junto, melhor será o entrosamento, atendimento e reação em situações de emergência, agora nos hospitais a todo momento muda o médico, ou muda o enfermeiro, ou o técnico, a gente perde uma base solida, as pessoas chegam, precisam ser treinadas, não conhecem a equipe e quando começa se encaixar e ganhar experiência vai embora, então o processo precisa ser repetido novamente”.

Marcelo Santana explica que a contratação temporária dificulta até mesmo na hora de quantificar o efetivo de trabalhadores na saúde pública em Mato Grosso do Sul, pois no interior as vezes acontece até mesmo contratações individuais, “algo que é terrível, pois o médico, o enfermeiro, ele precisa conhecer a comunidade, os pacientes, gerar essa relação de confiança, algo que não existe mais hoje”.

Comparando com outras áreas consideradas essenciais, o presidente do SinMed-MS, conta que não existe contratações temporárias para policiais, que aprendem sua função e são trocados após alguns meses ou um ano, “porque com a área da saúde pode?”.

Acordo não cumprido

O presidente do Sintss-MS explica que havia a esperança de que concursos fossem abertos, por conta de uma medida tomada antes da pandemia. “Entre o fim de 2019 e início de 2020 nós tivemos reuniões com o MPE (Ministério Público Estadual), que também entenderam a necessidade de um novo concurso e entramos com uma ação proibindo novas contratações na área da saúde, mas com a chegada da pandemia o Reinaldo aproveitou e utilizou como brecha para voltar com as contratações”, disse.

Já o presidente do SinMed-MS conta que não ouve conversas nos últimos meses com o Governo Estadual, “na verdade nos últimos meses, nós estamos tão ocupados e focados em resolver questões envolvendo a pandemia, que nem conseguimos parar e conversar sobre concursos”, comentou.

Organizações Sociais de Saúde

Para o presidente do Sintss-MS, Ricardo Bueno, as constantes contratações do Governo Estadual na área da saúde, são uma nítida tentativa de implementação das OSS (Organizações Sociais de Saúde) em todo o Estado.

“Está bem claro que ele pretende implantar as OSS, utilizando contratações temporárias, mas essas empresas, que se dizem sem fins lucrativos, vêm, deixam uma dívida e vão embora”, disse, utilizando como exemplo a cidade de Ponta Porã que já contratou a segunda OSS, após mal gerenciamento de recursos realizados pela primeira contratada.

Em 2019, esse assunto foi levantado e gerou protestos na ALMS (), onde profissionais utilizaram mordaças pretas como forma de indignação à medida.

Debandada de médicos

Em conversa com o Jornal Midiamax, na terça-feira (3), o secretário estadual de saúde Geraldo Resende falou sobre um cenário de deserção de profissionais de saúde em seus plantões. Mato Grosso do Sul atingiu nesta semana uma taxa de ocupação de 85% nos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

O presidente do SinMed-MS, rebateu a fala de Resende, afirmando que essa “debandada” não ocorre por uma decisão pessoal do médico ou do profissional de saúde. “Nessa debandada citada pelo Geraldo, estão os óbitos, os médicos residentes, e outros, é uma afirmação errada, ele fala em debandada, mas não é realizado concursos”, disse.