Cada vez mais famílias dividem a dor de estarem infectadas pelo coronavírus em . Com o avanço da no Estado, parentes tragicamente se encontram em hospitais enquanto estão internados pela Covid-19. Famílias que perderam mais de um ente ou tiveram várias experiências com a doença são casos cada vez mais comuns em MS.

Já era de se esperar que estas coincidências ocorressem, são 196.094 infectados pelo coronavírus em todo o Estado. Com o avanço da doença, as mortes também são mais recorrentes em MS. Nesta terça-feira (16), foram registrados 39 óbitos por Covid-19, o maior número da pandemia.

Até esta terça-feira, são 3.667 vítimas fatais da Covid-19 em MS. Duas delas são da família do analista de suporte Matheus Diniz, de 24 anos. A tia e tia-avó dele faleceram após serem infectadas pelo coronavírus. A diferença de 11 dias dos óbitos deixou marcas profundas na família, que até hoje sofre pela perda.

Vanja Prado faleceu em 6 de novembro de 2020, a mulher era casada com o tio biológico de Matheus. A mãe dela e tia-avó de consideração do analista morreu 11 dias antes, em 26 de outubro. As duas lutaram contra a doença, mas não sobreviveram.

Luto em família

Matheus diz que a tia era muito querida pela família inteira e a notícia da morte assustou todos os entes. “Ela sempre foi uma ótima pessoa e adorada por todos. Minha tia foi o primeiro caso de morte mais próximo em nossa família, o choque que sofremos foi imenso. Descobri quando notificaram no grupo da família, o luto foi bem grande”, contou com pesar.

Ele lamenta que a pandemia afastou ele da tia, que não tinham contato há meses. Além disto, não pôde nem se despedir de forma intimista, pois existem medidas de biossegurança para sepultamentos de Covid-19.

Com a voz saudosa e alegria por poucos instantes, ele lembra dos momentos na chácara em que a tia e o tio dele possuem. “Depois de um dia incrivelmente divertido, com direito a banho de rio, ela me recepcionava na casa dela com pão caseiro e uma mesa rica”.

Emocionado, ele relembra das vezes em que a tia o ajudou com machucados das travessuras. Então, momento em que leu a mensagem do falecimento da tia querida, Matheus lembrou das conversas sentimentais que mantinha com a tia.

Assim, a lembrança do dia em que Vanja faleceu é vivida na mente do analista. “A informação do falecimento abalou todos da família”. Até hoje “o vazio que todos sentimos é muito triste”, desabafa.

Vizinhas de leitos

Internadas na mesma unidade, no em Dourados, mãe e filha lutavam contra Covid-19. Entretanto, a história tomou dois desfechos: o triste, da mãe que faleceu devido à doença; e o feliz, da filha que recebeu alta nesta terça-feira (16), por ter melhoras do quadro de coronavírus.

Internada em Dourados, a 229 km de , Sônia, de 49 anos, passou semanas na enfermaria do Hospital da Vida. O sobrenome da paciente será preservado, a pedido do hospital. Ela e a mãe enfrentavam a Covid-19 nas mesmas instalações, separadas por alguns metros.

Sônia ficou internada na enfermaria Covid-19 do hospital e precisou fazer uso de oxigênio, porém não houve necessidade de ser entubada. Já a mãe dela, teve o quadro agravado da doença e foi internada em uma das 10 vagas de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mas não resistiu a doença.

“Ela ficou bem ruim, mas evoluiu bem”, disse uma das profissionais que atendeu a mulher com alta. De acordo com o Hospital da Vida, Sônia reagiu bem aos remédios justamente quando a mãe dela faleceu. Assim, foi mantido o tratamento na enfermaria especializada até a alta dela.

Assombros da Covid-19

Faz mais de quatro meses que a tia e tia-avô de Matheus faleceram, mas a Covid-19 ainda é um assombro na vida dele. O medo de perder mais parentes para a doença é tão grande que o analista passe por crises de preocupação quando alguém adoece.

“Quando alguém da minha família diz que está sob suspeita, já peço que vá ao médico o quanto antes”. A mesma recomendação é feita para amigos e até vizinhos, Matheus perdeu pessoas da mesma rua para a Covid-19 e já viu colegas passarem por apuros.

Já em relação a ele, os cuidados são além dos recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). “Fiquei paranoico no início da pandemia, mas depois que peguei Covid-19 e perdi minha tia só piorou”. Ele chega do trabalho, já descarta as roupas na máquina de lavar e vai direto para o banho.

Só assim Matheus consegue interagir com a família sem ter medo de contaminá-los. O jovem acreditava que após um ano de pandemia, a situação seria melhor. Entretanto, lamenta o em que o Estado se encontra.

Os exemplos não param. Em dezembro do ano passado, período em que a pandemia não apresentava níveis críticos como os de hoje, mortes nas famílias começavam a tomar conta das redes sociais. A história de José e Maria, casal de idosos que morreu com 24 horas de diferença foi noticiada pelo Midiamax e comoveu muita gente em todo o Estado.

No mês passado, outro caso de morte na mesma família também marcou os sul-mato-grossenses. Em Batayporã, mãe e filho morreram no mesmo dia por complicações causadas pelo vírus.

Cenário crítico

MS é um dos estados com ocupação de leitos em cenário crítico. Há pelo menos um mês com índices de ocupação das UTIs acima de 80%, o Estado chegou ao ápice da pandemia. A recomendação dos especialistas é que os cuidados de uso de , álcool em gel e distanciamento social sejam cada vez mais frequentes entre os sul-mato-grossenses para que a pandemia não permaneça avançando no Estado.

Como já falamos, nesta terça-feira (16), foi registrado o recorde de mortes com 39 vítimas da Covid-19 em 24h. De acordo com o boletim da SES (Secretaria de Estado de Saúde), são 893 pacientes hospitalizados em estado grave. Número que nunca havia sido alcançado em MS.

Entre os leitos de UTI para Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e Covid-19, o Estado registra lotação de 93,26% até às 16h20 desta terça-feira (16). Assim, existem apenas 33 vagas para atender todos os pacientes com agravamento da Covid-19 do Estado.

Por fim, é preciso lembrar também que apenas 16 dos 79 municípios de MS possuem leitos de UTI. Nos dois últimos dias, 13 desses municípios registraram estado crítico nas ocupações. Pelo menos nove estavam com lotação e dois com superlotação na última segunda-feira (15).