A violência doméstica sofrida por mulheres vai além das agressões físicas e deixam traumas que marcam para sempre a vida das vítimas. É uma situação comparada com uma prisão, pois na maioria dos casos ocorre dentro de casa. Diante desse cenário, o grupo de mulheres da Ibapan (Igreja Batista Avivamento para as Nações) realiza nesta sexta-feira (29) encontro de mulheres com o tema: “Para quebrar a corrente da prisão, apenas é possível com a espada da atitude”.

A jornada para se libertar do agressor é longa e cheia de obstáculos. É assim para Eliane Simão de Almeida, de 35 anos, que não consegue seguir adiante com sua vida. “Tem que ter muita força e coragem para poder seguir”, conta. Ela é proprietária de um salão de beleza e tem um filho de 3 anos com o ex, mas enfrenta constantes ameaças e intimidações, que abalam o psicológico. “A insegurança é a mesma, mas eu tenho que ter coragem de continuar forte e prosseguir. Tem que ser muito forte, muito mulher para enfrentar tudo isso”, relata.

As visitas à Casa da Mulher Brasileira se tornaram constantes nos últimos meses. Foram mais de 11 boletins de ocorrência registrados contra o ex, a maioria por quebra de medida protetiva. A morosidade da Justiça é um dos maiores obstáculos: “Ainda espero uma audiência, pois o processo é muito lento. Uma punição que não é justa para quem me deixou totalmente doente psicologicamente, abalada e com traumas. Estou coagida ainda por ele ser réu primário. Com tudo o que ele fez, com todas as provas que tenho, ele continua somente com a tornozeleira”, desabafa, relatando não aguentar mais se sentir prisioneira na própria vida.

O problema no relacionamento causou transtornos até no trabalho. “A gente se sente mais fragilizada, porque tem uma criança no meio, é difícil. Perdi muitas clientes com essa situação e estou passando bastante dificuldade, pois preciso trabalhar, mas tenho que manter minha cabeça firme no lugar, porém, é difícil”, lamenta.

Quem já venceu

Nas estatísticas já foram 4.284 registros oficiais de violência doméstica no sistema da polícia em Mato Grosso do Sul. Muitas dessas mulheres estão sofrendo esse tipo de crime, algumas já nem estão mais aqui para contar a história e poucas conseguiram vencer e superar as dificuldades.

É o caso de Maria – que pediu para ter a identidade preservada -. Ela superou um ex-marido agressivo e mostra que é possível ultrapassar as barreiras e seguir uma nova vida. “Fui vítima de violência doméstica por muitos anos e me calei. Fui casada com esse homem que nunca teve respeito por mim. Cheguei no suspiro da minha morte. Nesse dia, ele me bateu muito e até fiquei sem andar, mas com a força de amigos e familiares, me coloquei em pé”, lembra.

Para Maria, ter apoio é fundamental para atravessar por essa situação. “Elas não podem ficar caladas, tem que pedir socorro e respeito, acima de tudo. Precisamos de amor e cuidado”, completa.

Evento

O evento terá como palestrante o advogado João Ricardo Batista, que irá abordar assuntos como a Lei Maria da Penha, feminicídio e como a mulher deve agir quando sofre violência doméstica.

A ação terá cerca de 100 mulheres que já passaram ou passam pela situação e serve, também, como forma de reunir as vítimas para se apoiarem nesse momento difícil.

O encontro acontece às 19h30 desta sexta-feira, na Ibapan, que está localizada na rua Clevelandia, 1737, Jardim Aero Rancho.