Após denúncias de aglomeração em festa que reuniu cerca de 15 mil pessoas no sábado (23), produtores tradicionais do ramo de eventos indignados decidiram se pronunciar à respeito do descaso tanto com a saúde coletiva quanto com a classe que, desde o início da pandemia, tem adiado eventos. Sem plano de biossegurança, a festa é considerada ilegal e os organizadores podem ser multados.

O evento contava com apresentação da dupla Ícaro e Gilmar e foi realizado no Terra Nova eventos, na BR-080, saída para , e que foi flagrada em vídeo.

A festa ilegal violaria o decreto municipal nº 14.566, que até o dia 21 de janeiro proibia festas com mais de 80 pessoas em . No entanto, o texto do decreto foi modificado dois dias antes do evento e retirou este limite de pessoas. No texto, permaneceram proibidos festas, eventos e reuniões de qualquer natureza acima de 40% da capacidade de cada local, com exceção de eventos coorporativos ou religiosos (no caso de casamentos).

Em nota, a Prefeitura Municipal ressaltou que o foi realizado irregularmente sem uma licença da Vigilância Sanitária. A multa para descumprimento varia de R$ 100 a R$ 15 mil, podendo levar a interdição do local.

Produtores do ramo que estão seguindo as normas impostas ressaltaram ao Jornal Midiamax que a multa extremamente baixa é um dos motivos que muitos não respeitam as medidas.

Revolta e não representação da classe

Para o produtor Leonardo Alencar, da empresa Realiza Shows, responsável por shows de grande porte em MS como de Nando Reis, Zeca Baleiro, Maurício Meirelles, Afonso Padilha, o sentimento é de indignação com os responsáveis pelo evento ilegal e descaso com a profissão. Segundo ele, os produtores por trás do show não são profissionais e “não se importam com os outros e muito menos com as leis”.

“Só no papel que está proibido. Shows estão acontecendo desde o começo da pandemia. Todos em , sem distanciamento e sem álcool em lugar nenhum. E nada acontece. Acontece com os poucos que tem consciência e não querem fazer as coisas errados, esses sim estão sofrendo sem trabalhar e sem ajuda nenhuma do governo federal muito menos municipal. Brasil é o país que se paga alto custo por querer agir de acordo com as leis. Essa é só mais uma”, desabafa o produtor cuja empresa está desde março de 2020 com 22 shows paralisados devido à pandemia.

Falta de auxílio para os produtores

O produtor também ressalta que a falta de auxílio e fiscalização deixam a desejar. Com mais de 400 mil eventos cancelados e mais de 1 milhão de trabalhadores do setor desempregados segundo levantamento da Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Evento), vários migraram para outras áreas para sobreviver. Sobre os shows atrasados, com razão da pandemia, a empresa pede paciência aos clientes e relembra que a vontade de retornar existe, mas a consciência limpa prevalece.

“Nós da Realiza, por mais que seja difícil, por mais sem ajuda que estamos, o planejamento no momento é esperar que todos fiquem bem e vacinados. Só voltaremos com sinal verde 100%. Não queremos ter em nosso currículo, que até agora é impecável, uma morte, um sofrimento.
Prezamos pela saúde, pela família. Queremos pais, mães, filhos e avós juntos rindo em nosso teatro, como sempre foi”, reitera Leonardo.

Já a empresa Pedro Silva Promoções, há mais de 40 anos no ramo de eventos de teatro e shows de Campo Grande, também falou sobre a irresponsabilidade da realização de uma festa ilegal meio à pandemia. A empresa tradicional já adiou grandes shows, como de Gal Costa, mais de 4 vezes pela cantora fazer parte do grupo de risco, e tem o próximo show, Tributo ABBA – THE MUSIC, previsto para o fim de fevereiro, mas sem certeza.

“Nós aqui da Pedro Silva Promoções também fomos surpreendidos com a noticia da realização desse evento em pleno ‘pico' da pandemia em nosso Estado. É muito desrespeito com toda a população, achamos inclusive que o Locatário do Espaço teria que ser responsabilizado também, afinal eles sabiam com antecedência do Evento e cedeu o Local para a realização do mesmo”, diz a empresa em nota.

Ainda em novembro de 2020, quando foi liberada a volta dos eventos (com restrições) em Campo Grande, a Pedro Silva Promoções realizou 3 eventos seguindo todas as restrições e normas de segurança à risca, inclusive levando prejuízo em 2 deles por terem mais gastos do que público. Eventos que seriam para 1.049 pessoas, aconteceram com apenas 200 ingressos.

“Com a volta das medidas contra a Pandemia em dezembro de 2020, nosso primeiro evento de 2021 que seria realizado em 27 de fevereiro, já foi adiado pra 27 de Março na esperança da liberação do setor até lá. Outro evento que aconteceria no início de dezembro, e também foi transferido para 24 de abril, foi o show da cantora Gal Costa que acontecerá no Palácio Popular da Cultura”, explicam.


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