Recentemente, a apresentadora Tatá Werneck afirmou que sua filha com 1 ano e 7 meses nunca brincou com outra criança, devido aos riscos de contaminação em uma realidade de mais de 1 ano de pandemia no Brasil. Dependendo da circunstância, o isolamento total pode gerar riscos para o desenvolvimento da criança, e para toda geração que está nascendo e crescendo em um mundo pandêmico e sem contato social.

Para o pediatra e alergista Leandro Silva de Britto, de 39 anos, as consequências desse isolamento podem variar entre desatenção e também influenciar em crianças que já passaram pelo processo de desfraldamento, e que voltaram a usar fraldas. “A criança precisa ter uma vida social, nessa fase de 1 a 2 anos ela está na fase do ‘egocentrismo’. Ela precisa ter contato com outras crianças para entender que nem sempre as coisas funcionam como elas querem. Na pandemia esse desenvolvimento foi atrapalhado”, disse ele.

Além das consequências já citadas, esse distanciamento também está gerando atraso na fala: crianças de até dois anos que ainda não pronunciaram a primeira palavra e crianças maiores que estavam falando pouco e começaram a regredir. Outro ponto, é o aumento da irritabilidade. “Algumas crianças estão desenvolvendo bruxismo enquanto dormem. Já os mais velhos, sem contato com outras crianças, muitas ficam nos jogos e celulares, e para o futuro isso gera problemas visuais e auditivos”, detalhou.

Para amenizar a situação, o médico recomenda que os pais e responsáveis estimulem os cinco sentidos da criança. “O Ideal seria cantar músicas, contar histórias e fazer vídeo chamadas com o avô e avó, é bom para os familiares e a criança começa a reconhecer a voz, isso ajuda a diminuir esse retardo”, disse ele.

E no caso do convívio com os eletrônicos, a recomendação é para ficar em alerta com o excesso da tecnologia. “Não deixe a criança ficar somente no celular. Tem crianças que choram quando o aparelho é desligado, existem pais que usam o celular para entreter o filho enquanto dão comida, e sem o celular a criança não come da mesma forma. Isso está causando uma certa dependência, você está condicionando ela a tecnologia”, finalizou.

Impacto psicológico

Para a psicóloga Camila Torrecilha Cancio, especialista em Psicoterapia da Infância e Adolescência, os impactos na vida da criança irá depender da faixa etária que o isolamento ocorre. Entre 1 e 2 anos a criança está na primeira infância, e nesse período, é muito comum que os pais optem por ficar com a criança em casa ao invés de matricular em um berçário, não gerando contato com pessoas  fora do convívio familiar.

A partir desse ponto é preciso compreender se ela está em isolamento total, ou recebendo estímulos por parte da família. “Ela está privada de contato com outras pessoas, mas tem o contato físico da mãe e do pai. Até os dois anos ela ainda está no processo de descoberta, não vai haver um prejuízo desde que os pais mantenham a interação. É importante que a família proporcione algum contato”, explicou.

Entretanto, a especialista reforça que esse período é de descoberta e desenvolvimento da fase motora, onde a criança conhece o mundo através do contato com: alimentos, texturas de árvore, e o convívio com outras crianças.

“Ela iria descobrir através da disputa de brinquedo com outra criança. Acredita-se que pode haver um estranhamento quando houver outro ser que faça como ela, porque até então o contato foi só com adultos. Não digo um atraso, talvez ficar mais egoísta, porque os adultos vão facilitar o que ela teria que resolver com outra criança. Ela vai demorar mais pra ter esse vivencia de frustração”, detalhou Camila.

 Como possível método de intervenção, os pais devem utilizar os aparelhos eletrônicos de uma forma que estimule positivamente os cinco sentidos da criança. “Se ele está sendo estimulada pelos pais, uma alternativa são os meios eletrônicos: Música e ela pode conhecer uma pessoa através da imagem. O contato vai fazer falta, mas ela pode ter um vínculo na descoberta”, finalizou.