#CG122 Apesar de avanços, acessibilidade em Campo Grande ainda é sonho para pessoas com deficiência
Acessibilidade na Capital também esbarra nas relações com outros cidadãos
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Usufruir da cidade e de todas as atividades e serviços que possam ser oferecidas de forma segura e autônoma. É isso que PcDs (Pessoas com Deficiência) esperam de qualquer município, o caso não seria diferente em Campo Grande. A capital, que caminha para a acessibilidade, ainda dispõe de barreiras para os 6% de moradores que possuem algum tipo de deficiência.
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Campo Grande possui cerca de 49,3 mil PcDs. O censo mais atualizado é o de 2010, quando foram consideradas deficiências visuais, auditivas, motoras e intelectuais.
Neste ano, a Capital completa 122 anos e mais do que nunca permite experiências para todas as pessoas. Para conversar com a reportagem, a presidente da Amdefms (Associação de Mulheres com Deficiência em Mato Grosso do Sul), Mirella Ballatore, foi até o Parque das Nações Indígenas.
A tarde foi marcada por emoção, indignação e busca por direitos, assim como o dia a dia de uma pessoa com deficiência em cidades que ainda não são plenamente acessíveis. Após a reforma do parque, uma rampa de acesso foi instalada nos piers que deixam a vista do lago mais bonita.
Pela primeira vez, Mirella, que é cadeirante e sofre da síndrome dos ossos de vidro, conseguiu usar a passarela para admirar a vista. “É emocionante, porque eu e meu marido frequentamos aqui e nunca conseguimos fazer isso. É algo que todo mundo faz, mas a gente não podia”, lembra-se dos dias que não era acessível o local.
Detalhes quase imperceptíveis para pessoas que não possuem deficiência são os que fazem a diferença para PcDs. Mirella subiu a rampa, que foi aprovada por ela e considerada adequada. No entanto, o píer é feito de madeira intercalada, com pequenos espaços entre as ripas e geram receio na presidente da Amdefms.
“Tenho que tomar muito cuidado, por causa da minha síndrome”, diz ela. Mas ainda assim, Mirella esbanjou felicidade de finalmente poder usufruir daquela vista. “Agora tenho que trazer meu marido aqui”, almeja.
Novas gerações, mesmos desafios
Mirella afirma que já é possível ver diferença na acessibilidade da Capital, se comparada com anos atrás. “A gente vai em frente, lutando, justamente para que essas meninas e adolescentes não tenham que passar pelo que nós passamos, que elas tenham uma acessibilidade plena quando forem passear, estudar ou trabalhar”, explica.
Na entrada lateral, pela rua Ivan Fernandes Pereira, existe um parquinho infantil adaptado no Parque das Nações. Porém, nem sempre o projeto de acessibilidade alcança o objetivo. “Se uma criança cadeirante tenta ir ali, acaba caindo”, aponta Mirella.
Sem corrimão e com uma inclinação para fora do parque, o caminho de acesso dificulta o uso dos brinquedos. “Onde eu vou, vejo que as pessoas estão tentando dar acessibilidade. Mas o que elas não entendem é que não é só colocar um banheiro mais ou menos, um piso tátil ou rampa mais ou menos, tem que ser acessível de verdade”, ressalta.
No grupo dos jovens com deficiência, Luís Vinícius Quintana, de 19 anos, mora há 17 anos em Campo Grande. Chegou à Capital com apenas dois anos, mas ainda não conhece boa parte da cidade.
As chances de encontrar locais que não são acessíveis acabam fazendo ele preferir a própria casa. O jovem estudante lembra que as mesas são casos quase unânimes de inacessibilidade. “Geralmente são muito baixas ou muito altas, ou muito estreitas, ou ficam num canto que não dá pra entrar com a cadeira. Nas praças também, as mesas já veem com aqueles banquinhos de concreto instalados, sabe? Aí não tem como usar elas com a cadeira de rodas”, detalha a realidade que encontra.
Mesas e bancos instalados no Parque das Nações também são inacessíveis. Todos instalados na parte do gramado, são altos e não comportam PcDs. “Também quero ver o banheiro daqui, uma amiga me falou que a rampa é perigosa”, disse Mirella.
E assim chegou até os banheiros principais do parque, que logo no acesso ao espaço já se mostrou sem praticabilidade para cadeiras de rodas. Com um pequeno degrau, as rodas ficam bambas e podem causar um acidente.
Chegando ao banheiro, o sanitário com rampa estava trancado. O do lado tinha placa de acessibilidade para cadeiras de rodas, mas dispunha apenas de um degrau. “Inacreditável, como vamos ao banheiro assim?”, questiona com pesar a presidente da Associação de Mulheres.
Ir e vir nas ruas de Campo Grande
Mesmo sem frequentar muito o comércio central de Campo Grande, Luís Vinícius notou grande diferença nas ruas. “Uma mudança significativa que houve foi a reforma recente em algumas das principais ruas lá do centro, que deixaram as calçadas bem mais largas e planas”, destaca.
Mirella também aponta as revitalizações como positivas, ela reforça que em algumas ruas, como a Cândido Mariano, todas as esquinas são acessíveis. “A Amdefms também faz parte [da revitalização], participa e se eu vejo alguma coisa, mando foto para equipe e falo ‘olha, estão fazendo errado’. Então, a gente é ouvido, é uma coisa que nunca aconteceu”, explica surpresa com a comunicação.
Ela destaca ainda que os gestores são trocados de acordo com as eleições, mas as pessoas com deficiência ficam para sempre. “Então, eles têm que revitalizar a cidade para todas as pessoas”.
Porém, às vezes, a acessibilidade avança no setor público, como nas calçadas da rua 14 de julho, mas empaca no comércio privado. “Eu não vou na 14 de julho consumir porque eu sei que as lojas não vão ser acessíveis para mim”, reconhece Mirella.
Rampas que terminam em degraus, caixas altos e espaços estreitos fazem cadeirantes e outras pessoas com deficiência deixarem de frequentar o centro comercial da Capital. “E assim eu sinto como se o meu dinheiro vale menos. Então, vou em lugares acessíveis, como o shopping”, diz a presidente.
Acessibilidade é um coletivo
Apesar de a acessibilidade ser o direito de usufruir de atividades e serviços de forma autônoma e segura, o tratamento interpessoal é fundamental para inclusão dos PcDs. Além de visitar lugares cercados de olhares que causam desconforto, facilidades da tecnologia estão longe de ser a realidade de cadeirantes em Campo Grande.
“Quantas vezes já chamei carros de aplicativos e eles perguntam: ‘Vai a cadeira de rodas também?’”, diz Mirella, literalmente rindo de nervoso. A mulher que acreditou que a tecnologia de viagens particulares facilitaria o traslado em Campo Grande encontra dificuldades no contato com motoristas quando chegam ao local. “Acessibilidade é um coletivo”, afirma Mirella, que tem esperanças de que a consciência das pessoas melhore.
Quem passa pela mesma situação é o Luis Vinícius, que já pagou até mais caro para conseguir entrar no carro. “Vários motoristas já quiseram cobrar mais caro a corrida por ter que me ajudar a entrar no carro, por exemplo, às vezes, com alguns olhares mais estressados”, lamenta.
Exemplo de Capital
Por enquanto o termo ‘exemplo de Capital’ em questão de acessibilidade ainda é um sonho. Mas Mirella afirma que “já avançamos muito. Pois estamos falando mais sobre isso”.
Mesmo com os empecilhos, Campo Grande melhora a cada dia e parte da evolução é resultado da comunicação da gestão municipal com associações de pessoas com deficiência, garante a presidente da Amdefms.
Empresas privadas já chamaram a Associação para ajudar no processo de acessibilidade, mas infelizmente a procura não é corriqueira. “Gostaria muito que Campo Grande fosse um exemplo de cidade acessível. Cabem eles, cabemos nós”, finaliza Mirella com a frase que a mãe dela repetia quando era garota.
Você é responsável por acessibilizar a cidade
A Prefeitura Municipal de Campo Grande informa que a fiscalização realizada pela Semadur (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana) acontece em todas as regiões da cidade. Além disso, eles atendem denúncias para adequação da cidade à acessibilidade.
Mas a responsabilidade é de quem? A Lei Municipal nº 2.909, que institui o Código de Polícia Administrativa do Município, no que se refere ao passeio público, enfatiza que os responsáveis pelos imóveis são responsáveis pelas calçadas.
Estes espaços devem ser construídos seguindo a Lei nº 3.670. Elas devem ser feitas de maneira contínua, revestidas de material antiderrapante, sem degraus ou obstáculos que prejudiquem a circulação de pessoas, sendo executadas em concreto simples e sarrafeados.
E se você mora em uma esquina da Capital, saiba que é obrigatória a execução de rampa em toda a esquina, na posição correspondente à travessia de pedestres. Gramados na calçada só são permitidos se houver calçamento de 1,5 metro de largura para o trânsito de pedestres.
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