O avanço dos casos de coronavírus em Mato Grosso do Sul, que em 11 dias dobraram e, em um intervalo de uma semana, cresceram 61%, em meio à redução de medidas como a adesão ao isolamento domiciliar ou mesmo o uso de proteção (como máscaras e álcool em gel), podem fazer com que a Covid-19 permaneça como um problema no Estado por muito mais tempo que o previsto. No atual ritmo, a redução de casos poderá ocorrer apenas em setembro –cerca de três meses depois das previsões mais otimistas– e finalmente pressionar o sistema de Saúde.

A possibilidade foi levantada pelos professores Erlandson Saraiva e Leandro Sauer, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), que realizam um trabalho de modelagem matemática e estatística para a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) de Campo Grande a fim de apontar cenários sobre a quantidade de casos de Covid-19 na Capital. Os pesquisadores apontam que, com a evolução da doença no Estado, foi a necessidade de também efetuar registros para Mato Grosso do Sul.

Erlandson pertence ao Instituto de Matemática da UFMS, e Sauer integra a Escola de Administração e Negócios. Seus estudos visam a apontar possíveis cenários a partir da redução ou crescimento no volume de infectados de coronavírus em Campo Grande, de forma a balizar as estratégias de Saúde Pública e outros setores impactados pela pandemia.

“Modelamos as quantidades registradas no Estado. Desta forma, é possível estudar o possível impacto que o aumento de casos em Mato Grosso do Sul terá no sistema de Saúde Pública”, aponta o levantamento mais recente, que utilizou dados até o dia 17 de maio. Naquele momento, o Estado apontava 570 casos confirmados (174 deles em Campo Grande) e 15 mortes por Covid.

A partir dos indicadores levantados até ali, os professores ajustaram três modelos de crescimento do volume de infectados, dos quais foi apontado um que melhor explicam os números. Por ele, Mato Grosso do Sul chegará ao máximo de 17.824 casos confirmados de coronavírus.

“Além disso, o ponto de inflexão [quando o total de casos deixará de subir] é estimado somente para o dia 183 [12 de setembro], com 6.557 casos confirmados. Ou seja, a partir desse modelo, estamos em uma fase de crescimento dos casos; e as taxas de notificação começarão a diminuir somente a partir de 12 de setembro, se nada for feito”, destacou o estudo.

Pressão

As simulações da UFMS, feitas em computador, resultaram em projeções para as quantidades de pacientes que precisarão de atendimento hospitalar. Foram considerados aumentos de 10%, 20%, 30%, 40% e 50% da taxa atual de internações, ao mesmo tempo em que se avaliou que cada leito ocupado estaria liberado apenas 10 dias depois, no caso dos clínicos, e após 21 dias, nos casos de UTIs (unidades de terapia intensiva).

Caso as taxas de notificação cresçam 20%, saindo da média de 2,47% para 2,96%, cerca de 200 pessoas precisarão de atendimento em leitos clínicos e 110 em UTIs na última semana de julho. Atualmente, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) confirma ter à disposição 1.172 leitos clínicos e 296 de UTI para pacientes de Covid-19.

Já em um cenário mais pessimista, no qual a taxa de notificação de Covid-19 saia de 2,47% e chegue a 3,7% (um aumento de 50%), o sistema de Saúde estadual entraria em colapso: haveria de 2 mil a 2,2 mil pessoas dependendo de leitos clínicos (o dobro do disponível) e de 500 a 650 pessoas demandariam vagas em UTIs (o triplo do existente).

Apesar do tom pessimista que tais números carregam, eles não mostram uma realidade tão distante do Estado. No início do estudo, em 27 de abril, os professores identificaram que Campo Grande tinha uma taxa de notificação de 1,3%. Em 10 de maio, esse índice chegou a 3%. O mesmo estudo sugeria que, caso a taxa de notificação subisse para 4,5% na Capital, o total máximo de casos a ser atingido na cidade seria de 2.797. Se chegasse a 5,3%, seriam mais de 313 mil contaminados.

O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, afirmou nesta manhã ter preocupação com o aumento na demanda por vagas em UTIs no Estado diante da “falsa sensação de segurança” causada pelos baixos índices de contágio em Mato Grosso do Sul –até o momento, o Estado é o de menor incidência, volume de contaminados e de mortes.

Os professores da UFMS defendem que as projeções mostram a importância de se obedecer as recomendações de isolamento social para reduzir a taxa de contaminação e quantidade de pessoas que poderá precisar de internação hospitalar.