O mês de janeiro é considerado de conscientização para o tratamento da hanseníase – doença causada pelo bacilo Mycobacterium leprae não hereditária, mas que é transmissível pelas vias aéreas respiratórias entre pessoas doentes sem tratamento e pessoas saudáveis. As pessoas além de enfrentarem a doença, acabam encarando o preconceito.

O preconceito acontece por conta de uma lenda histórica e de valores bíblicos onde consideravam a doença deformadora da pele e que caía pedaços das pessoas. Esses valores diziam que a hanseníase é a lepra, mas muito pela falta de conhecimento.

“Antigamente não tinha tratamento, então a pessoa tinha uma perda de sensibilidade na mão bem diminuída e não sentia nada. Tem muita gente que fala que ela é hereditária, mas não é. O preconceito é pela falta de conhecimento, porque as pessoas não conhecem e tem medo do desconhecido”, disse uma enfermeira entrevista pela reportagem.

A fala em questão é da enfermeira Fabiana Pisano, que atualmente trabalha no Hospital São Julião, referência em tratamento de hanseníase em todo o Mato Grosso do Sul. Ela começou a trabalhar no hospital em 2011 e desde 2015 atua no setor responsável pelo projeto para combater a doença.

“A gente faz esse trabalho de educação com os familiares para eles saberem que não tem que separar nada em casa. Mas ainda tem [preconceito], infelizmente. Tem aqueles casos que o paciente teve o diagnostico um pouco tarde, que tem uma incapacidade, que não dá conta de trabalhar. Às vezes a própria empresa discrimina”, esclareceu Fabiana.

#JaneiroRoxo: Hanseníase ainda enfrenta tabu no tratamento da doença
A cartela vermelha é para as fases mais contagiantes, enquanto a verde é para os casos mais simples. (Foto: Vinicius Costa, Midiamax)

Sobre a doença, a enfermeira explica que a evolução demora de 2 a 7 anos para que se tenha uma evolução clara e que necessite de um diagnóstico. “A doença traz quatro fases distintas nas pessoas que são: indeterminada, tuberculóide, dimorfa e virchowiana”, disse. As duas primeiras fases são iniciais e que gera um tratamento de seis meses de forma mais simples.

As fases dimorfa e virchowiana são as que mais apresentam número de bacilos no organismo, são consideradas as formas mais contagiantes e que transmitem. O tratamento nestes casos dura entre um a dois anos, dependendo do índice bacilar.

No Hospital São Julião, como conta Fabiana Pisano, possui um projeto para que seja combatido a hanseníase. A equipe profissional é formada por dermatologista, ortopedista, oftalmologista, enfermeira, técnica de enfermagem, psicólogos, terapeuta ocupacional, fisioterapeutas, assistente social, bioquímica e farmacêutico.

Notificações feitas pelo hospital

Os casos notificados vêm sendo registrados desde 2014 pelo Hospital São Julião. Naquele ano, foram registradas 96 notificações da doença, crescendo um pouco em 2015 com 99 notificações, mas com o passar dos anos, elas foram caindo. Em 2016 foram 76 notificações, em 2017 registrou-se 64, já em 2018 foram 63 e no ano passado foram 66 notificações.

Sintomas da doença

Os principais sintomas da hanseníase são manchas avermelhadas, esbranquiçadas ou até amarronzadas insensíveis ao toque, calor e a dor que surgem pelo corpo. Caroços e inchaços avermelhados e dolorosos também são parte dos sintomas.

Cura e tratamento

A cura para a hanseníase é a busca por auxílio e ajuda para iniciar o tratamento o mais cedo possível. Vale destacar que quando o tratamento é iniciado, o paciente não transmite a doença a familiares, amigos, colegas de trabalho ou qualquer ambiente convivido com outras pessoas.

O tratamento é bem simples e consiste em tomar medicamentos via oral com poliquimioterapia – que são coquetéis de antibióticos, que servirão para destruir os bacilos.

O tempo mínimo é de seis meses a um ano tomando os medicamentos em casos simples, mas podendo ser estendido até dois anos em casos mais avançados. Caso o paciente siga à risca o que é recomendado, ele receberá alta por cura.