Consórcio Guaicurus desafia Prefeitura e lota ônibus com trabalhadores em Campo Grande

Enquanto o prefeito Marquinhos Trad (PSD) cobra ajuda da população e comerciantes para combater a pandemia mundial de coronavírus em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus, que explora o contrato milionário do transporte coletivo urbano, é flagrado desrespeitando sistematicamente decretos municipais e expondo trabalhadores ao risco de contágio por covid-19. Mas, os abusos flagrados…

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Enquanto o prefeito Marquinhos Trad (PSD) cobra ajuda da população e comerciantes para combater a pandemia mundial de coronavírus em Campo Grande, o Consórcio Guaicurus, que explora o contrato milionário do transporte coletivo urbano, é flagrado desrespeitando sistematicamente decretos municipais e expondo trabalhadores ao risco de contágio por covid-19.

Mas, os abusos flagrados parecem não causar reação na administração pública municipal. As agências que deveriam fiscalizar e cobrar as cláusulas contratuais, Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) se mantêm inertes. As duas, inclusive, são alvo de denúncias de suposto favorecimento aos empresários do Consórcio Guaicurus.

Nem cobrança do MPMS parece ter surtido efeito na melhoria da fiscalização do contrato do ônibus em Campo Grande, envolto em suspeita de corrupção e fraude desde a licitação, realizada no fim do último mandato de Nelson Trad Filho (PSD) como prefeito da capital, em 2011.

Trabalhadores são mais prejudicados

Enquanto isso, os passageiros que dependem do transporte público e não têm opção de ficar em casa durante a quarentena enfrentam batalhas diárias nos ônibus. Decretos municipais estipulam número máximo de passageiros e o uso obrigatório de máscaras. Mas, são frequentes os relatos de violações das determinações pelas empresas do Consórcio Guaicurus.

Na noite da quinta-feira (21), por exemplo, o Jornal Midiamax publicou denúncia de um veículo da linha 051 em claro desrespeito às normas de circulação de passageiros.

Consórcio Guaicurus desafia Prefeitura e lota ônibus com trabalhadores em Campo Grande
Paulina precisou de carona para chegar em casa porque a linha que atende sua região encerrou mais cedo Foto: Ranziel Oliveira | Midiamax

Na manhã desta sexta-feira (22), as denúncias continuaram com relatos de aglomeração, veículos que desrespeitam o cronograma e, inclusive, linhas que finalizam as operações antes do previsto, deixando passageiros ‘presos’ em terminais e dependendo de caronas para chegarem em casa.

Linhas a menos e trabalhadores a pé

Como a da auxiliar de dentista Paulina Fernandes, de 44 anos, que viu a linha que a conduz para casa, na região da UCDB, encerrar as atividades antes das 20h.

“Quando saio do trabalho, às vezes às 18h30, corro o risco de perder o 085. Se eu me atrasar no Terminal Julio de Castilho, não tenho como voltar para casa. Ontem eu não vi mais o ônibus no painel quando cheguei. Perguntei para o fiscal e ele confirmou que tinha encerrado. Tive que conseguir uma carona. É um desrespeito enorme”, relata.

Ela também aponta que muitos passageiros retiram a máscara de proteção logo após passarem pela catraca. “As pessoas não tiram a máscara, descem no pescoço e no queixo. É uma falta de respeito com as pessoas. Da vontade de espirrar perto delas pra ver se a pessoa se toca. Às vezes na fila do ônibus, dentro do terminal, as pessoas estão sem máscaras e colocam só quando chega o ônibus”, denuncia.

Ônibus atrasado e lotado

Empregada doméstica, Josy Quintana, de 42 anos, precisa embarcar em três ônibus para chegar no emprego. As linhas que atendem o bairro, que antes tinham frequência de 20 minutos, agora só passam a cada hora. Para o embarque nos terminais, as exigências como máscara e lotação máxima são atendidas. “Mas quando você sai do terminal, o motorista sai parando para todo mundo. Eu chego no Centro em um ônibus lotado. Muita gente tira a máscara depois de entrar. É um terror”, conta.

Consórcio Guaicurus desafia Prefeitura e lota ônibus com trabalhadores em Campo Grande
Segundo os relatos, embarques nos terminais são fiscalizados, mas motoristas embarcam passageiros e ocasionam superlotação em outros pontos | Foto: Ranziel Oliveira | Midiamax

A gestora de RH Chirley Pirine, de 44 anos, também reforça os atrasos frequentes e superlotação. “Na segunda-feira os servidores da Prefeitura vão voltar. Mas vão chegar como no trabalho? Não adianta liberar todo mundo para trabalhar se não liberam o principal, que é meio de transporte. Por isso, tem que ter mais ônibus. Só chego atrasada, porque quando a linha chega aqui na Praça já está lotada e aqui o fiscal não deixa embarcar. E você tem sempre que esperar o próximo e acaba não chegando no horário. Se vão liberar mais pessoas, e precisam aumentar os ônibus”, pontuou.

Agetran só fiscalizou 3 dias

O cenário revela um sistemático desrespeito dos decretos municipais que normatizam a circulação e embarque nos veículos durante a pandemia do novo coronavírus. A fiscalização da Agetran quanto ao uso obrigatório das máscaras, que se tornou obrigatório no início do mês, durou três dias, mas a violação do uso obrigatório já é fortemente relatada.

Consórcio Guaicurus desafia Prefeitura e lota ônibus com trabalhadores em Campo Grande
Chirley relata que passageiros até embarcam com as máscaras, mas as retiram logo após passarem na catraca Foto: Ranziel Oliveira | Midiamax

O decreto das máscaras, publicado em 30 de abril, também autorizou que até 7 pessoas viajassem em pé em cada veículo alongado – 5, nos considerados leves ou médios e 3, no caso dos micro-ônibus. A capacidade de passageiros em pé respeita a necessidade de distanciamento mínimo de 1,5 metro entre os usuários. Já os veículos executivos não podem transportar passageiros que não estejam sentados.

“A gente não vê isso sendo cumprido. Realmente, nos terminais e no PEG Fácil tem fiscal e tudo ocorre direitinho. Só que mais pra frente é o próprio motorista que deixa as pessoas subirem e irem lotando o veículo. Como que tem distanciamento em ônibus lotado? Não dá, todo dia é um risco “, conta Maria Figueiras, de 49 anos, usuária do transporte público.

A reportagem do Jornal Midiamax entrou em contato com a Agetran e com o Consórcio Guaicurus pedindo posicionamento sobre a lotação e demais irregularidades. Como tem sido usual, ainda não houve resposta.

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