No dia da água, lagos de Campo Grande agonizam e animais enfrentam assoreamento
Muito se falou sobre o assoreamento do lago no Parque das Nações Indígenas, mas ele não é o único a passar pelo problema. Os lagos de Campo Grande agonizam e o medo é de que possam repetir a sina do Lago Rádio Club Campo e estejam fadados ao desaparecimento. Com os lagos praticamente condenados a […]
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Muito se falou sobre o assoreamento do lago no Parque das Nações Indígenas, mas ele não é o único a passar pelo problema. Os lagos de Campo Grande agonizam e o medo é de que possam repetir a sina do Lago Rádio Club Campo e estejam fadados ao desaparecimento. Com os lagos praticamente condenados a morrer, a cidade pode perder alguns de seus cartões postais. Mais grave é a situação dos animais, que correm risco de perder alimento e seu habitat natural.
Apesar de ser um processo natural, ou seja, todos os lagos passam por assoreamento, a urbanização contribui e muito para a aceleração do processo. Um deles é o Lago do Amor, que tem a data prevista de sua morte e o prazo de vida fica cada vez mais curto. De acordo com estudos feitos pelo grupo HEroS (Hidrologia, Erosão e Sedimentos) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em 2017, o lago tinha previsão de ‘durar’ até 2038. Nos estudos de 2018, o prazo já ficou mais curto e o lago pode desaparecer até 2036.
Neste dia Mundial da Água, muito se fala sobre a importância dos recursos hídricos para a vida humana, mas a questão é que a fauna também depende dos lagos e rios. Problemas ambientais como o assoreamento afetam toda a cadeia e o resultado é a migração dos animais para outros locais, chegando a entrar em residências, coisa comum em Mato Grosso do Sul.
“O ambiente é o sistema, se afeta uma coisa, afeta todos os outros envolvidos. Com o assoreamento, prejudica toda a vida de vegetação, que alimenta os peixes herbívoros. Assim vai prejudicar os outros peixes, que são carnívoros, afetando toda a cadeia alimentar. Aí quando começa a faltar alimento, o animal migra em busca de alimento”, explica o tenente-coronel Edmilson Queiroz, da PMA (Polícia Militar Ambiental).
O tenente-coronel conta que os lagos previnem enchentes e alagamentos. Sem eles, problemas como estes ficam cada vez mais comuns nas cidades.
A engenheira ambiental e mestranda do programa de tecnologias ambientais, Maria Eduarda Ferreira, explica que o assoreamento é um processo natural e acontece com todos os lagos, inevitavelmente. Entretanto, a urbanização acelera o processo, deixando o tempo de vida do Lago do Amor cada vez mais curto. “O processo de urbanização da bacia acelera o assoreamento. Como o solo é impermeável, a água não infiltra no solo, assim há o desprendimento de sedimentos, que são carregados pelos córregos Bandeira e Cabaça, que acabam no lago”, afirma. A especialista afirma que o projeto informa a universidade sobre o assoreamento, para que possa tomar medidas que controlem o assoreamento, como o plantio de mudas no entorno.
O projeto não faz um estudo focado nos animais, mas nos anos de pesquisa, a engenheira conta que o local é moradia para jacarés, capivaras e patos, que podem ficar sem ‘casa’, caso o assoreamento destrua o lago. Ela ainda conta que, além da areia, outro material pode prejudicar os animais: o lixo. “A gente atravessa o lago para fazer a batimetria, aí a gente percebe garrafa, lixo acumulado às margens, principalmente após grandes chuvas”, diz.
José Carlos Monteiro, de 53 anos, trabalha com a venda de frutas todos os dias em frente ao lago. Ele teme que o lago acabe assim como o Lago Rádio Clube Campo, que hoje é apenas lama e vegetação. “Aqui vem muita gente visitar, nos fins de semana e feriados o pessoal vem aqui e fica apreciando a vista. Além de ele estar acabando, tem gente que joga lixo, tinha que ter mais atenção do poder público aqui”, opina.
O estudante Daniel Falcão acredita que há uma falta de cuidado, apesar os esforços da universidade. “Eu vejo que eles fazem uma manutenção, mas não é suficiente. Aqui é um ponto turístico, deveriam investir para ter mais visitantes”, diz.
Entre a população e os pesquisadores, o medo é de que o Lago do Amor de transforme e desapareça, como aconteceu com o Lago do Rádio Club Campo. No local onde viviam patos e capivaras, sobrou apenas um pântano cercado de mata. O empresário Paulo Gonçalves França, de 43 anos, conta que viu a morte do lago acontecer aos poucos, sem que ninguém tentasse impedir. Ele relembra que a água do lago invadia a pista das ruas próximas quando chovia e foi feita uma obra para evitar que isso acontecesse. Depois da obra, o lago não foi o mesmo.
“Era um lugar muito bom, tinha pedalinhos, muitos patos e capivaras, as crianças gostavam de ficar lá. Quando eu cheguei aqui ele ainda existia, por volta de 2007, depois só foi deteriorando, até que por volta de 2014 acabou tudo. Agora só vai assoreando cada vez mais. O Lago do Amor é o próximo [a desaparecer] porque a água desce para cá mas não para, todos os sedimentos do Lago do Rádio Club descem para o Lago do Amor”, explica. Paulo não sabe dizer ao certo o que houve com os animais, que eram muitos. Ele conta que sempre vê os patos, mas em menor quantidade. Já as capivaras continuam no local, mesmo com o desaparecimento do lago.
Outro lago com risco de desaparecimento é o Lago do Parque das Nações Indígenas, que chama a atenção por ser um dos principais pontos turísticos da cidade. No último domingo (17), um grupo fez um ‘abração’, para chamar a atenção para o problema.
Segundo a engenheira Maria Eduarda, o Lago do Amor e o do Parque das Nações têm condições muito parecidas. “São similares por serem reservatórios, naturalmente eles são retentores de sedimentos, porém a intensificação desse processo decorre das atividades de uso e ocupação do solo a montante do reservatório, e em ambas as bacias hidrográficas ocorre urbanização da área”, diz.
O Governo do Estado afirma que vai definir um cronograma de obras de desassoreamento dos lagos do Parque das Nações Indígenas. “Retirar os sedimentos é o trabalho mais fácil de ser executado, mas isso não resolve. O Governo tem consciência de que é preciso resolver definitivamente o problema da erosão, portanto já temos estudos, projetos e as ações necessárias. Com as chuvas menos frequentes é possível iniciar as obras”, disse.
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