A família de Miguel Otávio Vilela Santos, 3 anos, protocolou uma denúncia no MP-MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), contra a secretária de saúde do município de , a 68 quilômetros da Capital. A alegação seria de que a responsável pela pasta teria coagido o irmão mais velho do garoto a não denunciar um caso de suposta negligência médica.

Diagnosticado em novembro de 2011 com um tumor de 14 centímetros no rim, o pequeno Miguel, teria passado por uma peregrinação durante aproximadamente 6 meses indo e vindo de unidades de saúde. Segundo, Orlando Júnior Ojeda Santos, 28 anos, a família esteve uma vez em Campo Grande para tentar uma solução para o caso do menino.

Orlando conta que o pai deles teria passado por várias unidades de saúde, mas que os médicos teriam receitado apenas remédios para gases e verme a criança. “Em nenhuma unidade de saúde pediram um exame sequer. Ele tava com o abdômen inchado, com dor, a única coisa que fizeram foi dar remédio pra gases e verme”, conta.

Conforme relatado por Orlando, o tumor foi diagnosticado dia 13 de novembro de 2018, e no dia 20 do mesmo mês ele teria procurado a secretária de saúde de Bandeirantes, que durante a conversa o teria coagido para não denunciar o fato na Justiça. “Eu fui pedir os prontuários do meu irmão, ela me ofereceu dinheiro e emprego na Prefeitura para que eu abafasse o caso”, conta.

Na conversa, a secretária relata que o equipamento de raio-x do hospital da cidade teria mesmo problemas para diagnosticar questões referentes a órgãos internos e que se a situação tivesse sido esclarecida há pelo menos um ano a situação do garoto seria diferente.

No áudio, ela ainda cita que a principal preocupação no momento não seria o passado, mas sim daqui para frente. “Hoje a preocupação é você, se tivesse um emprego fixo. E eu quero ver se os vereadores vão ajudar o seu pai. Eles vão te dar um emprego? Não eles vão meter na Justiça porque vai ferrar a prefeitura. Só pensa bem quem vai dizer Orlando põe na Justiça”.

“Tu sabe que o que tu precisar do prefeito, se for necessário te levo lá no gabinete, marcamo um horário, não tem problema eu peço prefeito o que podemos fazer para ajudar o Orlando, ele não tem emprego. Não tem problema, tenho portas abertas posso ir lá e conversar com ele. Agora vê o que tu vai fazer na Justiça, porque não vai te trazer nada do passado”, diz a secretária.

Ela ainda afirma que o que pode ser feito é uma reunião com os médicos para que colocar a situação e explicar o que aconteceu para que nunca mais se repita. Ela ainda reafirma “Pensa e vê. Pensa bem, vai te somar alguma coisa. Não vai atrás de conversa de advogado nem de vereador”.

O áudio com 40 minutos foi protocolado junto a denúncia no MP, e segundo Orlando eles querem abafar o caso. “Meu irmão está se recuperando lentamente. É um problema gravem que se descoberto antes teria evitado a situação. Esse não é o primeiro caso de negligência no município. Eles querem abafar o caso”, explica.

Miguel, está atualmente passando por tratamento no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), na Capital. E de acordo com o hospital, ele esteve internado entre os dias oito e treze de maço, e nos exames e avaliação médica entendeu-se que o problema da criança seria grave, mas que segue em tratamento na instituição, realizando o quarto ciclo da quimioterapia, e já estaria com a consulta de retorno agendada para os próximos 15 dias.

Eles informaram ainda que tanto o paciente quanto a família estão recebendo todo o amparo psicológico, além da assistência social, juntamente com equipe médica, e de enfermagem.

Em Campo Grande

Na Capital, a informação de atendimento da criança foi confirmada. Segundo a prefeitura, ela passou pela UPA Coronel Antonino em novembro de 2018 e foi atendida conforme os sintomas relatados pelos responsáveis, e recebeu a assistência necessária. Mas ressalta que doenças graves e agudas precisam ser investigadas por profissionais que já acompanham o histórico do paciente.

Ministério Público

O promotor de Justiça do município de Bandeirantes, Paulo Henrique Mendonça de Freitas, informou que a reclamação foi protocolada no órgão e será objeto de deliberação, caso seja instaurado procedimento investigativo,  tramitará em sigilo por envolver menor de 18 anos, bem como para preservação da eficiência da investigação e da honra dos envolvidos, até deliberação em sentido contrário.

Prefeitura de Bandeirantes

Através da assessoria de imprensa, o município informou que o paciente citado frequentou o atendimento de (urgência e emergência) do Hospital de Bandeirantes onde recebeu o atendimento padrão. A família foi orientada pelo médico plantonista a buscar o devido atendimento no PSF ( da Família), o que de acordo com os registros oficiais, não se concretizou.

Apesar de marcar as consultas, os responsáveis pelo paciente não se empenharam em levar o garoto para receber o atendimento especializado e adequado, em todas as consultas agendadas pelo próprios responsáveis.

Sobre a suposta coação, a secretária de Saúde lamenta ter seu nome envolvido no episódio e destaca que quando procurada pelo irmão do pequeno Miguel Otávio, ofereceu apoio e ajuda para facilitar o tratamento do paciente na capital, mas condicionou o apoio, seguindo os padrões determinados pela estrutura disponível e legal, o que acabou não sendo aceito pelo irmão do paciente.

Todos os profissionais envolvidos no atendimento ao paciente cumpriram com o que lhes cabiam fazer no caso e atuaram dentro dos padrões estabelecidos, mas ficou evidente que após melhora, o paciente era privado pelos responsáveis, de receber o tratamento adequado, o que é lamentável e foge da responsabilidade dos profissionais da área da saúde pública.

Ajuda

Orlando contou que além do tumor no rim, o pequeno Miguel estaria com uma metástase no pulmão além de infiltração nos ossos e na capota craniana. “A biópsia apontou que quanto ele chegou já havia metástase no pulmão, infiltração nos ossos e na capota craniana”.

Ele ainda relatou que por conta de todo o tratamento a família estaria passando por dificuldades, e que o garoto já tem exames agendados para o dia 03 de abril, em Pinheiros no estado de São Paulo mas que o Estado disponibiliza apenas as passagens aéreas. “São tantas as necessidades que temos, meu irmão precisa de fralda, estamos comendo com o que sobrou de algumas ajudas de rifas que fizemos. Se desse exame ele precisar de um transplante de medula, ainda temos as despesas com transporte, alimentação, meu pai nem sabe o que fazer. Abandonamos tudo e viemos para cá ajudar meu irmãozinho”, concluiu.

Quem quiser ajudar a família do pequeno Miguel pode entrar em contato diretamente com Orlando no telefone: (67) 9 9689-0435.