Na manhã desta terça-feira (12) ambientalistas e políticos se reuniram no calçadão da rua Barão do Rio Branco, entre as Ruas 13 de Maio e 14 de Julho, para um ato público onde discutiram e também manifestaram contra a liberação do plantio da cana-de-açúcar no , decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

O documento que revoga o decreto 6.961/ 2009, que garantia a produção do etanol de forma sustentável, motivou o ato “Cana no Pantanal Não”. A manifestação organizada pela Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas aconteceu nesta manhã em consideração ao “Dia Nacional do Pantanal”, em homenagem ao ativista ambiental Francisco Anselmo dos Santos, mais conhecido como Francelmo.

Para André Siqueira, ambientalista e representante da Ecoa, esse decreto é um dinheiro público que está sendo jogado no lixo e que se trata de um movimento ideológico. Ele também questiona o sistema de fiscalização. “Sabemos que o Brasil temos um histórico de não ter fiscalização ambiental, então quem vai fiscalizar essas plantações no Pantanal?”.

O jornal Midiamax conversou com outros ambientalistas no decorrer da semana e, todos ressaltam a necessidade do uso intensivo de agroquímicos nas plantações de cana-de-açúcar. Siqueira também destaca que: “O agrotóxico que vai ser usado na plantação vai prejudicar muito a natureza, vai ser o principal mal ao Pantanal. Estamos brigando para que lá [Pantanal] seja um santuário dos polonizadores e estamos falando de uma plantação que usa agrotóxicos extremamente agressivos”.

O engenheiro civil, Jorge Gonda, diz que é triste ver que um decreto sem nenhum tipo de estudo prévio ter a capacidade de mudar o cenário de um bioma inteiro. Ele ressalta que o preocupante não é a poluição do dia a dia e sim os acidentes ambientais que podem acontecer no decorrer do tempo. “Como exemplo temos as cidades de Minas Gerais que tiveram as barragens rompidas. Qualquer acidente que acontecer aqui [Pantanal] pode acabar com ecossistema quase por inteiro”, afirma.

O vereador Eduardo Romero (Rede), representante da Frente Parlamentar Ambientalistas, participou do ato e reforçou que essa luta já passa dos 40 anos. “O decreto poderia se editar com características que preservassem o Pantanal e não o destruir mais. já presenciou falsas promessas sobre as usinas de cana-de-açúcar com empregos e melhorias, mas o que temos são apenas cidades desertas”, diz.

Em memória a Francelmo, ambientalistas protestam contra plantio de cana no Pantanal
(Foto: Marcos Ermínio, Jornal Midiamax)

Quem foi Francelmo

No dia 12 de novembro de 2005, aconteceu na rua Barão do Rio Branco, um dos maiores atos de ambientalistas de Mato Grosso do Sul. Francisco Anselmo dos Santos, ateou fogo em seu próprio corpo, aos 65 anos, como forma de protesto contra as instalações de de usinas de álcool e açúcar na região do Pantanal.

Francelmo, como era carinhosamente conhecido, molhou dois colchonetes com gasolina, incendiou os dois amontoados de espuma e sentou neles como forma de protesto.  “Já que não temos voto para salvar o Pantanal, vamos dar a vida para salvá-lo”, escreveu numa das cartas de despedida.

Em 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, do ano seguinte, o local de imolação de Francelmo recebeu um memorial. Quatro meses depois, o dia 12 de novembro foi instaurado como o Dia do Pantanal, pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), instituição fundada por ele mesmo.

O engenheiro civil Jorge Gonda fala que a impressão que dava de Francelmo era que ele dava mais atenção ao meio ambiente do que a família. Gonda faz parte da primeira geração de ambientalistas de MS, e lutou pelo Pantanal em 2005, ao lado de Francelmo.

Sobre o cenário atual, que praticamente repete a situação de 14 anos atrás, Gonda acredita que a preservação do Pantanal está nas mãos dos jovens. Mas lamenta que nunca “vai aparecer alguém igual a ele [Francelmo] na luta pelo meio ambiente”.