Ameaças falsas de massacre viram rotina em escolas de MS
Após a tragédia em Suzano (SP), ocorrida há menos de um mês, ameaças de ‘massacres’ caminham para se tornarem rotina em escolas de Mato Grosso do Sul. Até o momento, o Jornal Midiamax já contabiliza ao menos cinco casos em menos de dez dias, todos eles na redes pública estadual, onde estudantes cursam principalmente o […]
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Após a tragédia em Suzano (SP), ocorrida há menos de um mês, ameaças de ‘massacres’ caminham para se tornarem rotina em escolas de Mato Grosso do Sul. Até o momento, o Jornal Midiamax já contabiliza ao menos cinco casos em menos de dez dias, todos eles na redes pública estadual, onde estudantes cursam principalmente o ensino médio.
Em comum, as ocorrências reportadas apontam a existência de redes wi-fi – provavelmente roteadas de celulares – que são nomeadas com dizeres ameaçadores. No primeiro caso registrado, na última quinta-feira (28), policiais foram acionados e alunos de uma escola estadual no bairro Vilas Boas passaram por momentos de pavor quando constataram existência de uma rede Wifi com o nome ‘Massacre14h40’.
No mesmo dia, policiais foram mobilizados para uma escola no bairro Universitário, onde uma rede wi-fi com o mesmo nome, ‘Massacre14h40’, foi avistada em celulares de estudantes. A mesma estratégia foi observada em mais uma ocorrência, em escola estadual no Jardim dos Estados, na ´´ultima sexta-feira (29).
Além disso, ameaça a uma escola municipal de Sidrolândia, também na semana passada, poderia ter terminado em tragédia se não fosse impedida por uma professora, que avistou dois garotos tentarem arremessar uma bomba caseira no pátio da escola.
Na manhã desta terça-feira (2), outra escola estadual, no bairro Jardim Leblon, foi o mais novo cenário de momentos de tensão. Ao constatarem existência de rede wi-fi com nome semelhante, alunos acionaram a escola, que solicitou presença da patrulha escolar. As aulas também foram temporariamente interrompidas.
Também nesta terça-feira, uma escola estadual na Vila Jacy, a rede de wi-fi que dizia ‘MASSACRE É O KRL FALA É FÁCIL’, assustou os alunos e deixou tanto o corpo docente quanto a diretoria sem saber como agir. Foi orientado aos alunos que falassem uns com os outros, e alguns passaram de sala em sala.
Cada vez mais frequentes
O surgimento quase que diário de ameaças às escolas têm uma grande e clara consequência: interrupção das aulas. Em todos os casos, forças policiais foram acionadas, revistas foram feitas e alunos puderam ir para casa. Tudo leva a crer que as redes wi-fi e supostas ameaças foram criadas por estudantes, na perspectiva de evitar que as aulas acontecessem.
Porém, para além do desequilíbrio do calendário escolar, estão as consequências psicológicas na comunidade escolar. O medo de ameaças, que foi reaceso pela tragédia em Suzano, faz com que mesmo as ameaças inócuas aparentem ser reais.
“É possível, sim, que as crianças não queiram ir às aulas por terem medo, por não se sentirem seguras. É lamentável que haja pessoas que se aproveitam de algo extremamente sério, como o massacre em Suzano, para fazer brincadeiras. Mas, acredito que aquele caso expôs um problema grande, que é a segurança no ambiente escolar”, comenta a psicóloga escolar Eloísa Machado, que há dez anos atua em escolas.
Para ela, as escolas precisam adotar protocolos de segurança, mas também precisam ficar atento aos alunos. “É preciso estar vigilante, saber identificar traços em estudantes e nos profissionais que possam desencadear em problemas, em frustrações, que se reflitam nesses episódios violentos. A escola precisa começar a se importar com a saúde emocional de sua comunidade”, aponta.
Ato infracional
Na última semana, a delegada titular da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), Fernanda Félix de Carvalho Lima, alertou que caso a polícia identifique que autores das ameaças de ataques são estudantes, eles podem responder pelo ato infracional.
Na prática, caso os autores sejam menores de idade, eles podem ser internados em uma Unei (Unidade Educacional de Internação) pelo cometimento de ato infracional, que podem até configurar outros crimes.
“Pode parecer brincadeira, mas essa brincadeira se torna um ato infracional passível de apreensão em flagrante delito, pode configurar ameaça, apologia ao crime e instigação ao crime, se não caracterizar outro crime mais grave”, acrescentou a delegada.
Providências
Procuradas pela reportagem, tanto a Semed (Secretaria Municipal de Saúde) como a SED (Secretaria de Estado de Educação) afirmaram que desenvolvem ações para preparar professores e demais funcionarios para lidarem com adversidades como as ameaças de ataques.
No caso da Semed – que ainda não foi cenário de nenhuma ameaça de ataque – foi ressaltado que a Reme (Rede Municipal de Ensino) mantém projetos de prevenção com diversas instituições e órgãos de segurança pública, para identificar alunos que possam estar passando por situações que o levem a praticar atitudes hostis.
“Entre esses projetos está o Proceve (Promotoria Contra Evasão e Violência Escolar), programa desenvolvido em parceria com o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS) e que tem a finalidade de reafirmar aos pais a responsabilidade perante os filhos e respaldar a autoridade dos educadores em relação aos alunos, estabelecendo medidas disciplinares e de caráter pedagógico a serem observadas por crianças e adolescentes no ambiente escolar”, traz comunicação da pasta.
A Semed também afirmou que desenvolve o projeto Valorização da Vida, que consiste em realizar dinâmicas com os estudantes incentivando a aproximação com amigos e familiares através de atividades lúdicas e palestras.
Questionada, a SED (Secretária Estadual de Educação) informou ao Jornal Midiamax, que trabalha junto aos diretores das unidades escolares, de toda a REE (Rede Estadual de Ensino), com orientações sobre os procedimentos a serem adotados em casos como estes ou similares. Ações como diálogo com os estudantes, aproximação com os pais e/ou responsáveis e, ainda, acompanhamento da secretaria por intermédio das Coges (Coordenadorias de Gestão Escolar ) e de CPED (Psicologia Educacional), quando necessário.
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