Após revelação em reunião da CIA (Centro de Inteligência Americano), relatando que, em seu governo, o presidente Ernesto Geisel, teria autorizado a execução de opositores durante o seu mandato, os moradores de Campo Grande sugeriram a troca do nome da via na Capital que leva o nome do ex-presidente.
Lei 5.820/2014 proíbe a denominação de logradouros e equipamentos públicos, além de comendas do Poder Públicos, com nomes de torturadores ou pessoas que tenham praticado atos de violação de direitos humanos ou que tenham sido historicamente consideradas participantes e envolvidos em crimes de corrupção.
Apesar da lei e de muitos concordarem, outros moradores afirmam que procedimento de mudança de nome seria desnecessário. A reportagem do Jornal Midiamax conversou com quatro vereadores de Campo Grande e opiniões sobre a troca estão bastante equilibradas.
Para Eduardo Romero (REDE), mudança de nome da rua seria necessário. “Eu particularmente acho que seja um pedido justo e necessário. Até porque a ideia de homenagear ruas e equipamentos públicos é deixar a memória daqueles que contribuíram para um processo democrático brasileiro”, afirmou.
O vereador ainda complementa explicando que, na atual lei, prevê que a mudança do nome de qualquer rua da Capital deve ter, no mínimo, a concordância de pelo menos 70% dos moradores desta rua. “Quando já é uma rua que já tem nome, você precisa ter um abaixo assinado com pelo menos esse quantitativo. Quando muda o nome de rua, você muda toda uma questão administrativa. Então, deve ser avaliado”, disse Romero.
Vinícius Siqueira (DEM) é mais sucinto, afirmando que não há oficialmente uma demanda da população e há objetivos mais importantes do que mudar o nome de uma via. “Eu sou a favor de recapear a avenida, não de mudar nome”, declarou.
A favor da troca do nome, mas cauteloso, Chiquinho Telles (PSD) comentou que a revelação da CIA de que o ex-presidente teria autorizado a morte de 89 pessoas precisa ser profundamente estudada.
“Se isso for verdadeira, são denúncias gravíssimas, denúncias contra a vida. Isso pega todo mundo de surpresa, um nome como esse envolvido nisso, tem que ser analisado. Existe a necessidade [mudança no nome], porque as acusações são muito fortes. As pessoas não concordam em homenagear [Geisel] dando o nome à uma das principais vias de Campo Grande”, finalizou.
Por fim, o vereador e também delegado Wellington (PSDB), afirma que primeiramente o envolvimento e autorização do ex-presidente nas denúncias devem ser provadas. “Uma coisa é falar, outra coisa é comprovar. Se a gente for retirar o nome [das ruas] de todo mundo da época da ditadura, vai ter que fazer uma limpa na cidade”, afirmou.
O vereador ainda afirma que o nome da avenida as vezes não é uma homenagem, mas “é um grito para que as pessoas identifiquem e Geisel não caia no esquecimento”. “Se não tivesse o diabo para ressaltar as beneficias de Deus, a gente simplesmente não teria o bem e o mal”, declarou.
Com nomes de presidentes militares
Além da Avenida Ernesto Geisel, nomes de presidentes da época da ditadura militar no Brasil também foram dadas à outras vias da cidade, como Avenida Costa e Silva, localizada na saída para São Paulo, e Avenida Presidente Castelo Branco, que fica na região do Bairro Coronel Antonino.
Mortes
Na última sexta-feira (11) diversos veículos nacionais divulgaram que 89 pessoas morreram ou desapareceram no Brasil por motivos políticos a partir de 1° de abril de 1974 e até o fim da ditadura, segundo levantamentos com base nos registros da CNV (Comissão Nacional da Verdade). Foi a partir desta data que o general Ernesto Geisel, então presidente do Brasil, autorizou execução de opositores, segundo documento da CIA tornado público recentemente pelo governo americano.
Além disso, pode haver mortes e desaparecimentos durante esse período da ditadura que não foram registrados.
Entre as vítimas desse período, estão o jornalista Vladimir Herzog, assassinado em 25 de outubro de 1975 após se apresentar voluntariamente ao Centro de Operações de Defesa Interna, um órgão militar da ditadura; e o metalúrgico Manoel Fiel Filho, que foi torturado até a morte, em 17 de janeiro de 1976, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do II Exército, em São Paulo.